Entrevista e texto de Julia de Camillo

Os californianos do Bad Wolves estão vivendo um momento próspero da carreira. O grupo formado por Tommy Vext nos vocais, Doc Coyle e Chris Cain como guitarristas, Kyle Konkiel no baixo e John Boecklin como baterista, está surfando na onda do mais recente lançamento, N.A.T.I.O.N., o segundo álbum de estúdio da banda, lançado em outubro de 2019. 

É tudo muito novo para eles. O Bad Wolves ganhou reconhecimento em 2018 ao soltar o debute Disobey, que incluía um cover de “Zombie”, faixa icônica do The Cranberries. Foi ele o responsável por impulsionar mundialmente a banda, tornando-se a porta de entrada para uma legião de fãs de heavy metal que imploravam por mais Bad Wolves. N.A.T.I.O.N. supriu essa demanda, sendo uma verdadeira carta de amor aos fãs. A capa do projeto já entrega tudo: trata-se de uma foto feita por Haris Nukem de uma tatuagem do maior símbolo da banda, o lobo. 

O Wikimetal teve a oportunidade de conversar com Tommy Vext, vocalista do grupo, sobre o momento atual do Bad Wolves. Leia na íntegra a entrevista:

Wikimetal: Como você resumiria tudo o que você viveu e experienciou entre o lançamento de Disobey e o de N.A.T.I.O.N.? Como foi esse momento da sua vida?

Tommy Vext: Com certeza, foram experiências diferentes. Quando Disobey foi lançado, acho que nenhum de nós poderia ter previsto o impacto que “Zombie” teria. Do nada, fomos de caras em uma banda dentro de uma pequena cena de metal para essas centenas de milhões de visualizações no YouTube, e toda essa exposição nas redes sociais, Instagram, Facebook… Sabe, acho que nenhum de nós estava acostumado a ser reconhecido e, além disso, havia muito trabalho a ser feito. Então boa parte de 2018 passou como um flash. Era muito trabalho e eu ainda estava processando tudo emocionalmente. Um ano atrás, eu só conseguia pensar “o que aconteceu na minha vida?” E depois nós meio que nos acostumamos. Acho que quando começamos N.A.T.I.O.N., a banda já havia passado tanto tempo junto, convivendo de perto, nós já havíamos tocado tantos shows, que meio que já sabíamos o que queríamos fazer, então não teve muita discussão e conflitos entre as opiniões criativas das pessoas. Só fomos direto para o estúdio. Na verdade, foi bem mais fácil do que o primeiro álbum. Quando estávamos fazendo o primeiro disco, nós não tínhamos um contrato com uma gravadora e não sabíamos qual seria a nossa sonoridade. Estávamos realmente procurando a nossa identidade e, no segundo álbum, tendo já estabelecido essa identidade e também uma relação com os nossos fãs e o público, nós já sabíamos para onde estávamos indo, o que tornou tudo mais fácil. 

WM: Qual foi a maior influência na criação de N.A.T.I.O.N.?

TV: Acho que o que impactou a produção de N.A.T.I.O.N. foi nossa turnê e agenda de shows. Foi a conexão que criamos nesse momento. Passamos muito de 2018 fazendo meet and greets, interagindo com os nossos fãs. A gente chegou até a ir ao hospital visitar as pessoas que não conseguiriam ir ao show. Sabe, tiramos esse tempo extra para fazer coisas legais pelas pessoas e, no final das contas, muita coisa aconteceu, muita coisa. Acho que tudo se resumiu ao fato de que, eventualmente, a gente sabia com quem estava falando, sabíamos quem era nosso público e isso teve uma influência enorme na forma como criamos nosso álbum. Cada um de nós também tem seu gosto pessoal e a banda tem uma influência musical bem variada, então escutamos desde bandas como Whitechapel e Metallica até Fiona Apple, Lana Del Rey e Dr. Dre. Vai para todos os lados. Acho que, em parte, é por isso que nós parecemos uma banda tão eclética. É uma combinação de permitir influências diferentes mas, além disso, colocar como maior influência o nosso público e nossa compreensão deles e como o que fazemos os toca e os afeta.

WM: Quando N.A.T.I.O.N. foi lançado, você chegou a comentar sobre a homenagem aos fãs na capa. Como o disco foi recebido entre o público de vocês?

TV: Todo mundo amou. Eu não vi nenhuma reação negativa, acho que demos a todos o que eles esperavam de nós. Temos essas músicas bem heavy metal que são super intensas e técnicas e aí temos músicas como “Sober”, “Better Off This Way” e “Killing Me Slowly”, que são mais focadas nas melodias vocais, nos significados das letras e em contar uma história. Eu acho que isso é algo bom. Para mim e os outros integrantes, é quase como uma bola de basquete, que nós vamos passando de um para o outro e deixamos todos terem uma chance de vencer. Então eles me ajudam nas coisas que são importantes para mim, e eu os ajudo nas coisas que são importantes para eles. Parece funcionar dessa forma e é assim que o nosso som é criado. É uma colaboração.

WM: Recentemente, vocês divulgaram o clipe de “Sober”. É uma música muito pessoal e poderosa, mas também aborda um grande problema na nossa sociedade. Como é traduzir esses sentimentos e experiências em música?

TV: “Sober” é parecida com “Remember When” no sentido de ser uma história real. Toda vez que eu lido com isso de traduzir experiências em músicas, pode ser emocionalmente desgastante, mas quando a música está pronta e, em especial, o clipe… Sabe, todos os personagens do vídeo representam pessoas reais que eu conheci enquanto estava me recuperando, alguns que estão sóbrios agora e outros que não estão mais vivos. Era importante não apenas contar a minha história, a história deles, a história dos alcoólatras e viciados, mas também a história das famílias. Para cada pessoa que está sofrendo por causa de drogas e álcool, existem outras várias pessoas que estão ligadas a ela, que a amam e que não podem salvá-la. Acho que era uma mensagem muito poderosa, que parece estar conectando muitas pessoas. 

WM: Ano passado, o novo disco do Slipknot foi bem recebido pela crítica, mas acabou não sendo incluído em boa parte das listas de final de ano. Você sente que o rock e o metal estão sendo deixados de lado e, talvez, não sendo levados a sério?

TV: Eu acho que o hip-hop, predominantemente, é supersaturado pelo consumismo. Toda música de hip-hop é um comercial ruim. Eles te dizem que você deve comprar carros e joias, que você deve beber esse champanhe ou esse licor, que você deve ter esse relógio… São coisas materialistas, então isso atrai as pessoas de certa forma. Mas ao mesmo tempo, para os nossos fãs e fãs de rock no geral, essas pessoas querem algo mais real. Então acho que o gênero ainda é muito forte, até por causa da nossa experiência como uma nova banda, surgindo do nada e tendo todo esse sucesso, vendendo alguns milhões de singles… Em alguns territórios, nosso primeiro álbum está prestes a se tornar um disco de ouro, o que é surreal para nós. Mas eu acho que as pessoas querem algo verdadeiro e não importa se a mídia mainstream aceita isso ou não, porque as pessoas ainda aparecem, compram uma camiseta, um ingresso de um show, um disco. Obviamente, nós não precisamos estar no MTV Video Music Awards ou qualquer coisa do tipo, e nós continuamos a existir, não é grande coisa para nós.

WM: Sendo uma banda criada na era digital, qual a sua opinião sobre o uso de redes sociais na música ultimamente? É algo que pode ajudar novas bandas de rock?

TV: Eu não acho que as redes sociais representam algo ruim quando se trata de arte e música. Eu uso as redes para muita coisa, gosto de assistir vídeos sobre a natureza, documentários sobre biologia, sigo fotógrafos, pintores, ou outros artistas que eu gosto. Acho que as redes sociais podem ser boas e ruins. É um mal necessário se você quer divulgar a sua música, principalmente se você não assinou com uma gravadora. É uma ferramenta importante, mas também é importante não gastar muito tempo nela. Todo mundo tem potencial de ficar viciado no celular, ainda mais hoje em dia. Eu diria que isso aumentou nos últimos dez anos. Às vezes é estranho estar num show e olhar para o público e ver todo mundo filmando no celular. As pessoas estão tão obcecadas em gravar aquilo para mostrar para os outros que se esquecem de aproveitar o momento. Então, como um artista, isso tira a energia de uma performance ao vivo, mas também promove a banda: cada pessoa é, essencialmente, um divulgador. Se alguém grava o show e tem 200 ou mil amigos, eles postam e aí mais pessoas veem a banda e podem conhecer a banda. É uma situação estranha, em que alguns artistas se incomodam muito com pessoas filmando, mas para nós, tanto faz, nós contornamos isso.