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O ocultista mais famoso no meio do Heavy Metal é certamente Aleister Crowley; Led Zeppellin, Iron Maiden, Ozzy Osbourne, e outros usaram seus textos como tema para canções”

por Juninho

Antes de iniciar este texto é importante esclarecer alguns pontos. Todos nós que acompanhamos o Wikimetal podemos notar a postura do power trio (Daniel Dystiler, Nando Machado e Rafael Masini) em relação à busca constante de conteúdo interessante, com respeito ao headbanger, evitando colocações ofensivas e que possam gerar polêmica improdutiva ou desconforto pessoal. Este é o espírito que será adotado nos parágrafos abaixo.

Escrevo isto, pois qualquer mera citação às palavras ocultismo e satanismo pode mexer com os ânimos de muita gente. Portanto, reforço desde já que as informações aqui discutidas não têm absolutamente nenhuma intenção pejorativa ou cunho doutrinário. Conforme veremos, as grandes e sérias bandas de Heavy Metal frequentemente abordam este assunto simplesmente em função de sua temática mística e instigadora. A intenção certamente não é angariar mais seguidores para o exército do demônio.

Mas, afinal de contas, o que é ocultismo e satanismo?

Ocultismo não é uma religião. O conjunto de características que definem o ocultismo está essencialmente relacionado aos fenômenos sobrenaturais. Para os ocultistas, a palavra “oculto” refere-se a um conhecimento não revelado ou secreto. De um modo grosseiramente resumido, o estudioso do ocultismo busca o entendimento de todo o universo, baseado no postulado da existência de uma única fonte sobrenatural a partir da qual se originaram todas as religiões, tanto monoteístas quanto panteístas. É por causa desta íntima relação com as religiões que muitos rotulam de modo equivocado o ocultismo como sendo mais uma delas.

"O Alquimista", William Fettes Douglas. Ocultismo, alquimia e sua íntima relação com o desenvolvimento da ciência.

A prática da alquimia sempre foi explorada pelos ocultistas. Estes, muitas vezes chamados de magos, acabaram sendo estereotipados como bruxos na idade média. Imaginem naquela época de intensa repressão católica uma pessoa se dedicando incessantemente à leitura de livros complexos cheios de símbolos e que ainda por cima, vez ou outra, debruçava-se sobre caldeirões quentes tentando estudar reações químicas pouco conhecidas. É graças a esta curiosidade, muito presente entre os ocultistas, que se deve o desenvolvimento da ciência contemporânea (química, física e até mesmo a medicina atual). Quando analisamos objetivamente a parte histórica o ocultismo deixa de ser tão tenebroso, não?

O ocultista mais famoso no meio do Rock/Heavy Metal é certamente Aleister Crowley. Muitos o usam e a seus textos como tema para canções: Beatles, Led Zeppellin, The Doors, Iron Maiden, Rolling Stones, Black Sabbath, Bruce Dickinson, Ozzy Osbourne, David Bowie, Raul Seixas (entre outros dos quais não me recordo no momento). A relação da obra deste ocultista com cada artista que a usa como inspiração criativa é capaz de gerar um livro inteiro. Cito aqui apenas como exemplo Jimmy Page, que estudou profundamente a obra de Crowley e chegou a comprar sua mansão na Escócia.

Aleister Crowley, o “Mr. Crowley” da música de Ozzy Osbourne.

Diferente do ocultismo, o satanismo praticado hoje é uma religião, mas nem sempre as coisas foram assim. Seu estabelecimento definitivo como crença deu-se principalmente na idade média, porém seu surgimento é mais antigo, acredita-se por volta de 1000 a.C, período de estruturação do reino judaico. O satanismo original era inicialmente uma filosofia que pregava a liberdade individual, a busca de felicidade e de prazer do homem. Contrariava fortemente os dogmas e princípios morais do reino teocrático hebraico, de modo que o termo satanismo foi usado pelas religiões abraâmicas para designar práticas consideradas opostas às do seu deus e, portanto, opostas ao estado que se estruturava. O termo Satan em hebraico quer dizer adversário ou opositor e se expandiu entre islâmicos e cristãos, ou seja, difundiu-se entre diversas culturas.

A doutrina filosófica satânica também ia contra o controle exercido pela igreja católica na idade média e, obviamente, seus adeptos foram perseguidos e acusados de heresias. Agora pergunto a vocês, qual a principal heresia escolhida como acusação por parte do catolicismo naquela época? Exatamente: adoração ao demônio. A eficiência do argumento católico associada à interminável perseguição promovida pela igreja certamente foram definitivos para que a vertente religiosa do satanismo fosse associada de maneira indissolúvel à vertente filosófica. Esses fatos foram definitivos para a existência do satanismo nos moldes em que é praticado hoje, sobretudo pelos seguidores de seu mais conhecido expoente contemporâneo Anton Szandor LaVey, fundador da igreja de Satã.

Artes gráficas de muitos discos usam símbolos e imagens relacionadas à filosofia satanista (como exemplo acima, Reign In Blood do Slayer).

A referência à filosofia satanista no Heavy Metal também é frequente. Uso de imagens demoníacas, pentagramas, temática hedonista, cores pretas e vermelhas, etc., estão presentes em praticamente todos os subgêneros do Heavy Metal. A figura do diabo no Metal é usada como símbolo de transgressão, de liberdade, assim como na filosofia satanista original (aquela de cerca de 1000 a.C, quando o satanismo ainda não era uma religião específica).

É muito fácil simplificar as coisas, afirmando que ocultismo e satanismo levam à perdição e que qualquer mera referência a esses temas pode determinar toda uma eternidade de sofrimento post mortem. Já ler, estudar e entender todo o ponto de vista histórico existente por trás de temas que instigam a imaginação de qualquer pessoa inteligente é sempre mais difícil.

Felizmente nós amantes de Heavy Metal fazemos parte daqueles que buscam os caminhos mais difíceis. Como disse Celso Barbieri nos episódios 29 e 30 do podcast, “é preciso estar preparado para ouvir Heavy Metal” e isso inclui sem dúvida estudo e pesquisa. É impossível escutar, por exemplo, Revelations ou Stairway to Heaven pela primeira vez e entender todo o significado dessas músicas. Mas, convenhamos, o esforço posterior de buscar informações que ajudem a aproveitar ainda mais nossos discos vale muito à pena.
Amigos e amigas: estudai Heavy Metal!

Curiosidade: está previsto para o ano que vem o lançamento do novo filme do antropólogo e wikibrother Sam Dunn, falando justamente sobre a história por trás da origem de Satã até sua situação nos dias de hoje e a influência no Heavy Metal.

Abraço a todos.
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Juninho

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