Texto por Luis Fernando Ribeiro

A cena heavy metal de Florianópolis, Santa Catarina, está em plena ebulição e recentemente ganhou mais um registro de peso. Acompanhando importantes lançamentos dos últimos anos em terras catarinenses (vide bandas como Red Razor e Raging War, entre tantas outras), a Matriarca, fundada em meados de 2014/15, lança seu primeiro EP. Leather Heart nasceu com o status de um dos discos mais pesados e criativos lançados no estado.

Misturando pitadas de classic rock, heavy metal tradicional e metal extremo – naquilo que a própria banda vem chamando de extreme rock ’n’ roll – suas variadas influências servem apenas como plano de fundo para a originalidade do som praticado pelo quarteto formado por Lucas Miranda (guitarra/vocal e compositor principal), Willian Bernardo (vocal), Gabriel Porto (bateria) e Daniel Rosick (baixo) e produzido por Júlio Miotto.

Ouvi o disco incansavelmente no lançamento e voltei a escutá-lo mais recentemente para escrever a respeito e me certificar de que era realmente tão bom quanto antes ou se não se tratava de mera empolgação momentânea. A surpresa boa é o que o disco fica ainda melhor, mais sólido e convincente a cada nova audição e aqui estão minhas impressões a respeito desses cinco excelentes petardos.

A faixa-título abre o disco e pega o ouvinte desatento de surpresa quando os riffs à la Phil Campbell, totalmente calcados no heavy e rock ’n’ roll clássicos, são sucedidos pelos vocais demoníacos de Will. O black, death, o thrash, o rock ‘n’roll e o heavy metal são todos jogados no mesmo bolo e dessa receita improvável surge um som arrebatador e surpreendentemente bom.

Essa combinação pode não ser novidade para os fãs da música pesada, mas poucas vezes um registro com tamanha miscelânea me chamou e prendeu a atenção pela qualidade e por não soar completamente perdido como em outros casos, remetendo-me com propriedade ao Satyricon e ao que o Abbath (Immortal) fez em “Between Two Worlds”, do seu projeto solo I.

Leather Heart abre com a faixa homônima onde, afora os vocais, a sonoridade é bastante tradicional e direta, com riffs pesados, solos muito bem posicionados e executados, bateria pesada e sem firulas, baixo rosnante e coros nos moldes do Exodus, como se a banda quisesse preparar o terreno dando uma introdução a sua fórmula, que seria melhor explorada no decorrer do álbum. Segundo Lucas, compositor da música, seu riff principal surgiu quase sem querer, ao apresentar a ideia da sonoridade da banda para o então futuro vocalista Willian.

“Carried by Southern Wind” surge com uma pitada maior de peso que a anterior, flertando com o hardcore e com destaques particulares notórios. Se a anterior introduziu ao disco, a segunda faixa parece apresentar um por um os músicos e as qualidades deles e características individuais, indo da abertura puxada pela bateria e condução bastante variada até os pedais duplos muito bem explorados na parte mais extrema da música. Das partes cantadas mais declaradamente até os inspirados urros demoníacos. Dos riffs “sujos” e precisos (e uma pegada que me lembrou o Rage em “Soundchaser”) ao belíssimo e bem trabalhado solo, da linha cavalgante de baixo até o momento que a banda silencia para a cozinha mostrar seu entrosamento (remetendo a sonoridade do Torture Squad em “Æquilibrium”). A condução da música em sua parte final é um convite irrecusável a bater cabeça.

Em “Holes to Bury the Dead” a banda pisa no acelerador. O lado mais clássico do rock e do heavy metal são deixados um pouco mais de lado e o peso come solto num thrash veloz e vigoroso, com destaque para a passagem por volta dos 2:20 de música que mostra todo o entrosamento dos músicos. Dessa parte em diante a música oscila seus tempos e o clima de maneira impecável, com solos de guitarra e baixo, riffs encorpados, passagens intrincadas e quebras de ritmo de um bom gosto e de uma técnica indiscutíveis. A música deve funcionar muito bem ao vivo, o que pode ser conferido no registro que a banda gravou e disponibilizou no YouTube de sua mais recente apresentação, no próprio canal da banda.

A minha favorita, “Io, Saturnália” segue o caminho contrário de sua antecessora, começando com uma pegada bem heavy e do meio em diante a banda toda parece ter sido possuída pelos ritos de invocação bradados em “Baco, Ínuo, Príapo, Fama. Profano rito. Maculo da alma” e o som se torna épico, sombrio, extremo e demoníaco. A interpretação e a sonoridade são tão bem executadas que a canção chega a ser amedrontadora. Destaque também para os excelentes backing vocals e para a parte lírica muito bem construída que mescla trechos em inglês, português e latim.

“Insidious Doctrine” foi a primeira composição da banda, mas aqui ela é responsável por fechar o EP com chave de ouro, pesadíssima, encorpada e direta ao ponto, numa mistura interessante de peso e boas melodias, deixando o ouvinte, em especial esse que vos escreve, com as expectativas lá em cima por um primeiro full-length da banda, que, apesar deste lançamento recente, vive algumas incertezas de ordem pessoal em relação a seu futuro. Quem curtir o disco ficará na torcida para que a carreira da Matriarca se consolide e nos brinde com inúmeros outros lançamentos com a qualidade desde EP de estreia.

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