Massive Attack e os irmãos Max e Iggor Cavalera se apresentaram no aguardado show do Projeto ÍNDIGO na noite da última quinta-feira, 13, em uma colaboração inédita que funde música, ativismo e identidade cultural.
Nesta noite, São Paulo se tornou o epicentro de uma tempestade sonora e política, com um show executado enquanto líderes mundiais, corporações globais e o movimento climático estão no Brasil para a cúpula da COP30, sediada na região amazônica de Belém. Um evento que uniu estilos e públicos distintos mas unidos pelo mesmo ideal – os headbangers misturados com fãs de trip-hop.
Cavalera toca Chaos AD na íntegra
Cavalera, dos irmãos Max e Iggor, subiu ao palco pontualmente às 20h15. Desde o primeiro acorde, ficou claro que não seria um espetáculo convencional, mas um ato de resistência – ideologia sempre usada pelos irmãos Cavalera, desde a criação do Sepultura. E para além da política – e falando em Sepultura – Max e Iggor fizeram jus à experiência que muitas bandas vêm fazendo de “tocar o álbum seminal”, apresentando a obra-prima Chaos AD. Em sua última passagem pelo Brasil, em 2022, tocaram na íntegra o Roots, disco que talvez fizesse mais sentido na apresentação desta noite, já que o tema são os povos indígenas.
Porém, há 32 anos, Max e Iggor Cavalera conquistaram o mundo com o lançamento de seu quinto álbum de estúdio. E com este show voltamos no tempo para reviver esse clássico na íntegra e então, percebemos que o disco permanece tão atemporal e relevante quanto na época de seu lançamento. É um disco político que cabe perfeitamente nesta apresentação, enquanto guerras são travadas pelo mundo, a violência assola as ruas e o ódio e a desigualdade se alastram em nosso cotidiano, Chaos AD nos une para refletir e debater temas sociais e políticos
A apresentação do Chaos AD foi simples mas impressionante. Em um palco simples, apenas com projeção no telão, a banda não pode colocar o corpo suspenso acima do palco, como na capa do disco. Mas as luzes, o ritmo, a atmosfera, o espírito dos pioneiros do metal nacional, tudo funcionou perfeitamente. Max estava em boa forma, cantando bem e sendo o frontman que o público queria ver. O show começou com “Refuse/Resist” (também conhecida pela introdução que é o batimento cardíaco de Zyon, o primeiro filho de Max, ainda não nascido na época) e “Slave New World”, dois hinos de protesto.
Relembrar essa época do saudoso Sepultura foi um presente para os fãs. Os irmãos sempre souberam como entregar um show simples mas grandioso, e dessa vez eles contaram com Igor Amadeus, filho de Max, no baixo, e Travis Stone na guitarra. Em meio a várias rodas incentivadas por Max, o show seguiu de forma rápida, com uma homenagem aos povo indígenas com a faixa “Itsári”, apenas com Iggor tocando, e claro, não podia faltar a clássica “Roots Bloody Roots”, que fechou o repertório em grande estilo. Em única passagem pelo Brasil, os Cavalera lavaram a alma e proporcionaram um momento único para os fãs, provando que metal e consciência social ainda podem ocupar o mesmo palco com força devastadora.
A militância ambiental do Massive Attack
Antes do próximo show, o público assistiu as mensagens emocionantes dos povos indígenas, que estavam representados no palco pelos líderes de algumas tribos, e pelo G9 da Amazônia (organizações indígenas de nove países amazônicos), que contaram suas histórias e reforçaram o pedido de ajuda. Uma iniciativa para apoiar e dar visibilidade aos esforços dos povos indígenas do Brasil além de alcançar justiça climática, reconhecimento e proteção imediata das terras indígenas no país.
A banda principal, Massive Attack, liderada pelo duo Robert Del Naja (3D) e Grant “Daddy G”, subiu ao palco após 15 anos da última visita ao Brasil. Os pioneiros do trip-hop são conhecidos por sua militância ambiental e anticapitalista, e não tinha ninguém melhor para participar deste evento. O show contagiante trouxe surpresas inesperadas, como Horace Andy em “Girl I Love You” e “Angel”, trazendo o vínculo histórico da banda com esse vocalista jamaicano.
A presença de Elizabeth Fraser, ícone vocal do Cocteau Twins, que foi ovacionada quando subiu ao palco para cantar “Black Milk” e “Group Four / In My Mind”, criando um grande momento. “Teardrop” com Elizabeth é quase obrigatório, em um momento visual, auditivo e emotivo. A vocalista também cantou a clássica “Song to the Siren”, escrita por Tim Buckley e eternizada por seus vocais etéreos no projeto This Mortal Coil. O visual acompanhou a intensidade com projeções de mensagens sobre desmatamento, genocídio indígena e crise climática, protesto, imagens de guerras e líderes políticos como forma de conscientizar. Uma performance audiovisual marcante.
ÍNDIGO acertou em cheio nesse show, com uma experiência onde o trip-hop do Massive Attack encontrou nos Cavalera a brutalidade rítmica e o metal brasileiro. O resultado foi uma apresentação além de qualquer outra, rompendo o padrão de eventos culturais promovidos por grandes marcas e ONGs ocidentais.
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