Maneskin se apresentou em São Paulo na última sexta-feira, 09, no único show solo realizado no Brasil. A banda, recém-saída do Palco Mundo do Rock In Rio, onde se mostrou um grande acerto do festival, entregou mais um show memorável na estreia no país, apesar de ter se mostrado menos feroz nesse ambiente de maior segurança.
Com o Espaço Unimed lotado de um público predominantemente jovem, mas ainda diverso, de crianças até adultos com camisetas de Slayer, Iron Maiden e KISS, e já puxando o coro de “Vamos, c*ralho, p**ra”, em referência aos palavrões aprendidos pelo vocalista Damiano David para a apresentação do Rock In Rio e que se tornou um bordão da passagem da banda pelo país, o Maneskin subiu ao palco com atraso de quase 20 minutos, mas que foi recompensado com a chegada enérgica da banda ao som da ótima “Zitti e Buoni”.
Para surpresa não disfarçada dos integrantes do Maneskin, os fãs de São Paulo estavam mais do que preparados para aquele momento e cantaram as músicas, fossem em italiano ou inglês, com fervor e dedicação, com Damiano deixando vários vocais para o público. “Vocês sabem as letras melhor do que eu”, comentou o vocalista em um momento.
Em um terreno bem mais seguro do que o palco de um festival no qual a atração principal da noite seria o Guns N’ Roses, os italianos tiveram mais liberdades, como no visual muito mais provocante, e na declaração política muito festejada pelos fãs, quando o vocalista entendeu a crítica ao atual presidente do Brasil quando a plateia puxou o coro de “Ei, Bolsonaro, vá tomar no…”, tão comum em shows nesse período eleitoral. Damiano confirmou com a plateia se realmente estavam falando do político e concordou com o público em português mesmo: “Fora Bolsonaro”.
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Esse é um dos pontos altos da interação do Maneskin com os fãs: existe um acolhimento e entendimento das pautas da juventude que bandas de outras gerações do rock são incapazes de compreender com tamanha naturalidade. Com todos os integrantes na com até 23 anos, a postura desafiadora de estereótipos de gênero, o apoio à comunidade LGBTQ+ e outras causas sociais não são uma jogada de marketing espertinha, mas uma atitude real da banda – e essa verdade faz muito bem a um show de rock n’ roll explosivo como o deles.
Por outro lado, algumas limitações logísticas de uma casa de shows fechada pareceram domar um pouco a fera selvagem e imprevisível que o Maneskin tem provado ser, sempre desejosos pela troca física com o público. Apesar de manterem uma performance impressionante no palco, com a imparável e intensa Victoria de Angelis no baixo, os solos intensos de Thomas Raggi e a constância de Ethan Torchio na bateria, sendo ele o integrante com menor interação com o público, em um show sexual e descontraído em igual medida, era possível perceber que os italianos queriam poder mais do que simplesmente subir perto da grade ou se jogar nas primeiras fileiras no público.
O momento com os fãs no palco em “Lividi Sui Gomiti”, ao final do show, mostra bem como o grupo se sente mais à vontade quando está fazendo música como um esporte de contato, visceral e presente, e o encore se beneficiou da troca de energias eletrizante.
Muito além de uma banda performática e de sex appeal inegável, o show do Maneskin em São Paulo foi capaz de mostrar mais as habilidades técnicas dos músicos, com espaço para um solo de bateria e um momento de pura psicodelia na entrada de Thomas na “Le parole lontane”, um dos pontos altos do show do ponto de vista musical, no encore. Em toda a apresentação, os vocais roucos e agridoces de Damiano se fizeram presentes e precisos, com destaque para “La Paura Del Buio” e “Coraline”, uma das favoritas dos fãs.
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Em muitos aspectos, o show do Maneskin foi menos acelerado do que a apresentação formidável no Rock In Rio, mas nem por isso deixou de ser um dia inesquecível. Se a banda não explodiu tanto fisicamente em parte do set, compensou em cumplicidade e conexão com o público, com Damiano parando o show para dar água para fãs na grade, e descontração quando o cantor errou a entrada de “I Wanna Be Your Slave” e precisou recomeçar. A música voltou para fechar o show com ainda mais intensidade do que na primeira vez.
E quem argumenta que Maneskin não consegue trazer um novo público ao rock n’ roll e reclama dos covers da banda certamente nunca se arrepiou com a reação da plateia ao berrar “Beggin’”, do The Four Seasons, “My Generation”, do The Who, e “I Wanna Be Your Dog”, do The Stooges, a plenos pulmões, como aconteceu em São Paulo.
Sem dúvidas, essa noite ficará gravada na memória de todos presentes por muito tempo, tanto por ser a primeira vez da banda no país, quanto pelo no potencial dos italianos de seguirem na onda ascendente de reconhecimento e sucesso, o que torna o show em São Paulo uma das últimas chances nos próximos anos de experienciar um fenômeno como o Maneskin em um ambiente tão intimista. “Muito obrigada, pessoal, de verdade. Vocês tornaram essa noite muito especial e inesquecível. Jamais iremos esquecer esse dia”, finalizou Damiano antes de se despedir. A certeza é que o sentimento era mútuo para todos presentes.
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