Måneskin ainda é tudo aquilo que nos lembrávamos desde a estreia explosiva no Brasil no último ano (e muito mais), como mostrou o show esgotado em São Paulo na última sexta-feira, 04. E ainda que a apresentação tenha deixado evidente que a banda precisa deixar sucessos virais de lado, a irreverência e domínio dos italianos sobre o público apaixonado ainda são as memórias que ficam de mais uma apresentação de alto nível.

É impossível não comparar os shows de 2023 ao primeiro contato da banda com o público daqui, frequentemente citado pelo Måneskin como uma das experiências mais marcantes para na estrada até então. A banda retornou ao Brasil nesta semana para dois shows esgotados que repetiram o roteiro do ano anterior: primeiro, desembarcaram no Rio de Janeiro, desta vez em proporção bem menor no Qualistage, e depois seguiram para o Espaço Unimed, em São Paulo, mesma casa que os recebeu na estreia. Com duas apresentações tão próximas, o amadurecimento do grupo fica explícito em diversos aspectos.

Agora mais seguros do próprio poder no palco, o quarteto se despiu da selvageria depravada de quem estava em turnê mundial pela primeira vez, mas ainda brilha com a certeza da entrega de um bom show com doses certeiras de sensualidade irônica. Antes deslumbrado com a gritaria ensurdecedora dos fãs, o Måneskin de hoje sabe o que esperar e cobra do público uma participação a altura. Sabe quando uma relação passa da paixão para o relacionamento sério, onde as partes já se conhecem melhor? É justamente esse o caso.

E a entrega dos fãs começou a noite em coros ensurdecedores com a sequência das novas “Don’t Wanna Sleep” e “Gossip”, partes do álbum Rush, muito bem recebido em todo o show. A apresentação já mostrou desde que o destaque seria do novo disco, mas com espaço para faixas favoritas dos fãs, com “Zitti e Buoni” e “Coraline” intercaladas por “Honey (Are You Coming?)” e “Supermodel”.

Quando o hit viral “Beggin'” chegou, o próprio vocalista Damiano David confessou certo cansaço da versão que os revelou a nível mundial. Apesar de ainda ser um momento inevitável nos shows do Måneskin, se torna evidente de imediato que a banda já pode deixar essa canção de lado, uma vez que o público abraçou tão bem a discografia autoral dos italianos.

Esse sentimento voltaria com o sucesso “I Wanna Be Your Slave”: inexplicavelmente, a música é performada duas vezes no show, no segundo ato e para fechar a noite. Quando se tem três álbuns e fãs clamando por músicas deixadas de fora do setlist, como no caso de “Baby Said”, apresentada de improviso e sem paixão, não há justificativa para repetir uma faixa. Por melhor que essa música seja, duas vezes foi demais e tirou espaço de faixas muito queridas no show.

Mas nenhum desses detalhes conseguiu diminuir a potência da apresentação como mais uma noite inesquecível do Måneskin em São Paulo. A sequência caótica de “For Your Love” e “Gasoline” mostrou toda a dedicação rock n’ roll da banda, que não economizou tempo nos solos de guitarra, baixo e bateria, como deve ser. 

Em um dos momentos mais intimistas do show, Damiano e o guitarrista Thomas Raggi fizeram um set acústico em um palco menor, montado no pista comum do Espaço Unimed. Depois de atender pedidos do público brasileiro com “Vent’Anni” e apresentaram um cover de “Exagerado”, do Cazuza, apesar do cantor confessar que possui um repertório mínimo de português. Nesse momento, a faixa etária predominantemente jovem do público se fez perceber pelo número de pessoas que não acompanharam o refrão do clássico nacional, como se simplesmente não soubessem a letra.

O toque físico continua sendo uma das linguagens do amor do Måneskin com os seguidores apaixonados. A baixista Victoria de Angelis desceu para a plateia em um momento, Raggi se jogou em outro e mais de uma dezena de fãs foram ao palco para “Kool Kids” na reta final da apresentação, cantando próximo aos ídolos com intimidade de amigos. 

E no fechamento do show, “The Loniest” provou ser um dos grandes acertos do mais recente álbum do Måneskin . Se não por originalidade, sendo uma balada hard rock mais convencional, a música foi um momento de lágrimas e casais dançando abraçados na pista, algo que o repertório da banda não tinha até então. 

Show de carisma e talento, o retorno do Måneskin à capital paulista mostrou amadurecimento sem perda de atitude e deixou a curiosidade ara saber em quais circunstâncias a banda voltará ao país no futuro.  Maiores, mais fortes ou complemente diferentes? Seja como for, o Brasil é um amante ansioso pela descoberta.

Nossa colaboradora Leca Suzuki foi ao evento e registrou o show. Confira a galeria de fotos logo abaixo.

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