Durante uma entrevista recente, Ivar Bjørnson, do Enslaved, comentou o que Øystein Aarseth, falecido membro do Mayhem conhecido pelo pseudônimo Euronymous, acharia do black metal de extrema direita.
“Tive a sorte de conhecer Euronymous, pois eu era um garoto muito novo”, contou à Metal Hammer (via Whiplash) “Qualquer crença esotérica ou satânica que ele tinha, ele não discutia comigo. Tudo o que tínhamos em comum era a música e guitarras. Eu me lembro de ir em sua loja de discos e tentar impressioná-lo: ‘Você tem algo extremo?’ E ele falava: ‘Cale a boca! Ouça isso!’ e me mostrava algum disco progressivo norueguês”, relembrou.
Euronymous, que foi assassinado em 1993, pensava na comunidade, segundo Ivan. “Ele foi assumidamente comunista e teria sido contra tudo o que veio depois, quando o black metal passou a ser sobre se posicionar acima dos outros.”
Cancelamento do show do Mayhem em Porto Alegre
A entrevista de Ivan foi feita antes do cancelamento dos shows do Mayhem no Brasil. Acusada de associação ao nazismo em publicações nas redes sociais feitas pelo professor de filosofia Renato Levin-Borges e o deputado estadual Leonel Radde (PT), do Rio Grande do Sul, a banda finlandesa teve o show no Bar Opinião cancelado após a repercussão do caso e uma manifestação no local, onde uma faixa com os dizeres “Nazismo não é opinião” foi colocada em protesto.
Apesar do cancelamento da data no Sul do país, a banda ainda virá ao Brasil para se apresentar em Brasília, nesta quarta-feira, 22, no Toinha Show Brasil, que segue divulgando o show e compartilha pedidos de fãs para que a apresentação não seja cancelada.
Conforme publicado pelo g1, a Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF) se manifestou contra a apresentação. “Somos um país miscigenado, de vários credos, e queremos ser um país de tolerância e convivência pacífica. No país que já somos e no projeto de país que queremos, e de cuja criação participará a OABDF diligentemente, não há espaço para as ideologias do passado”, afirmou o órgão em nota divulgada no último sábado, 18.
A recomendação de que o show seja cancelado também foi feita pelo Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), sob a justificativa da existência de “evidências de que integrantes e ex-integrantes da banda estão envolvidos com apologias neonazistas, suicídio, canibalismo e assassinato, além de diversos tipos de violências e discriminações, incluindo queima de igrejas, referências à extrema violência, incitação à mutilação, declarações racistas e antissemitas”.
Questionado pelo g1 sobre as acusações, o Mayhem reconheceu declarações problemáticas por parte de integrantes e ex-membros da banda, mas se declarou contrária a discursos de ódio.
“Nem a banda nem nenhum de seus membros toleram racismo, nazismo, homofobia ou qualquer outro ‘crime de ódio’. Embora algumas declarações contrárias tenham circulado no passado por membros individuais, isso está longe, no passado, e também nunca foi uma forma de postura oficial da banda. Qualquer forma de julgamento baseado apenas no histórico de uma pessoa, cor da pele, preferência sexual ou qualquer outra coisa sobre a qual ela não possa ter controle é um ato de fraqueza e é rejeitado pela banda”, informaram em nota enviada ao veículo de comunicação. A última passagem do Mayhem pelo Brasil aconteceu em novembro de 2022, quando a banda se apresentou em festivais em São Paulo e no Maranhão.