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Testament com Gene Hoglan

Testament com Gene Hoglan. Crédito: Divulgação

Entrevista Testament: Eric Peterson fala sobre novo álbum, cena dos anos 80 e show no Brasil

Guitarrista e fundador fala sobre o novo disco, a cena thrash metal dos anos 80, ascensão do grunge e a música após os anos 2000

Testament se prepara para lançar seu décimo quarto álbum de estúdio, Para Bellum, previsto para dia 10 de outubro pela Nuclear Blast Records.

Após 5 anos do último disco Titans Of Creation, a banda americana de thrash metal esta ansiosa para apresentar o novo trabalho. Em uma conversa com o Wikimetal, o guitarrista e fundador Eric Peterson falou sobre o novo disco e contou como era a cena thrash metal dos anos 80, o convívio com as bandas locais, ascensão do grunge e a música após os anos 2000.

O novo álbum Para Bellum

Wikimetal: O Testament parece estar buscando o equilíbrio entre o antigo e o novo. O novo álbum Para Bellum mostra isso, apresentando um Testament mais moderno mas ainda assim, o Testament dos anos 80. Qual foi a ideia de vocês ao escreverem esse álbum?

Eric Peterson: Esse é o nosso 14º álbum, então me senti natural, não acho que nada foi planejado, a inspiração apenas vem quando eu estou tocando. Mas nós não tínhamos em mente a ideia de criar alguma coisa que saísse um pouco mais pesada. E também tentar ter algumas mudanças de tons diferentes. Então, todos esses elementos diferentes dão um som diferente. E uma coisa que não fizemos por um tempo é uma balada. Temos uma balada no disco chamada “Meant to Be”. Então, com tudo isso, você está certo em dizer que tem todos os estilos do Testament, mas ainda sendo muito coerente. Apenas meio que encaixando tudo junto. Mas sim, é meio que planejado, mas você nunca sabe o que o universo vai me dar. 

WM: Sobre o processo de composição, você e o novo baterista Chris Dovas coescreveram grande parte do disco, uma junção entre a nova geração do metal e a oldschool. Como foi esse processo? Isso influência no seu jeito de compor e tocar?

EP: É o jeito que eu faço normalmente. Eu geralmente faço com o baterista. Ao invés de trabalhar com uma máquina de bateria, é mais fácil ter um humano. É muito mais rápido e você pode ter uma vibração com alguém. Com o Chris, em particular, parece que foi muito mais rápido e foi um pouco mais emocionante, porque o Chris estava realmente interessado e é muito esperto. Nós usamos um kit MIDI, eu não sei se você conhece o MIDI, mas quando você grava o MIDI, você pode entrar e mudar todos os sons da bateria ou você pode mover coisa, então você pode ter uma ideia básica. Então ele é muito bom com coisas assim. Muitas tecnologias novas, novas formas de fazer coisas… Foi muito divertido. Ele está realmente interessado, é jovem e entusiasta, e isso me fez mais atento a ele.

Eu nunca pensei assim, mas às vezes, para mim, eu tenho que estar no clima. Eu não posso ir lá no estúdio e começar a gravar qualquer coisa. Quando você tem uma ideia, porque muitas vezes quando ela vem e nós começamos a trabalhar nela, às vezes seria umas 1h ou 2h da manhã. Talvez tivéssemos algumas bebidas, quando você tem algumas bebidas você fica animado. Mas nós só falávamos, ‘vamos para o estúdio’ e só… Nós acabávamos com as coisas lá e pronto. Então foi muito divertido. Definitivamente muito divertido.

Testament no Brasil

WM: Testament esteve recentemente aqui no Brasil para alguns shows. Como foi retornar ao país?

EP: Foi ótimo. Eu estive recentemente no Hawaii. Eu estava de férias, mas eu não queria voltar. Foi assim que eu me senti quando eu estive no Brasil. Eu não queria voltar. Eu só queria ficar ali. Especialmente quando estávamos no Rio de Janeiro. Tínhamos um hotel muito legal. Eu acho que ficamos no Sheraton, na praia. E nós não queríamos sair de lá. Não podemos ficar aqui? 

O bom é que nós estávamos lá, não para promover o novo disco, então estou esperando que possamos voltar mais cedo do que esperar dois anos. Talvez no próximo ano, talvez não tantos shows, mas pelo menos shows no Brasil, Chile e Colômbia, os maiores lugares que tocamos.

WM:  Podemos esperar a turnê do novo álbum por aqui?
EP: Eu espero que sim. Eu acho que os fãs de metal brasileiros são fortes para nós, e eu acho que eles vão gostar muito do novo álbum. Sim, nós amamos o Brasil. O Brasil foi o primeiro país na América Latina que nós chegamos em 1989, eu acho. E, a cada vez que nós voltamos, é mais cidades, um público maior. Então, nós amamos o Brasil.

A cena thrash metal dos anos 80

WM: A Bay Area da Califórnia foi o berço de várias bandas de thrash metal, sendo conhecida no mundo inteiro por esse motivo.  Como foi pra você se desenvolver enquanto músico dentro dessa cena?

EP: É só onde começou. Eu não sei porque os gêneros começam em uma certa área, como New Wave of British Heavy Metal. Provavelmente há bandas que estão tocando esse tipo de música, como a New Wave of British Heavy Metal. Ou como o hard rock. Muitas bandas britânicas foram influenciadas pelas músicas negras na América, como o blues. Mas em relação ao thrash metal, nós somos realmente influenciados pelas bandas britânicas, pela New Wave of British Heavy Metal. E misturando com alguma coisa punk, tipo GBH, e aquele tipo de bateria mais rápida, Motörhead, de novo britânico.

Eu não sei porquê, mas aconteceu. Muitas bandas começaram a tocar, então surgiu o Metallica. Mas eles são da L.A., então eles se mudaram para cá [Bay Area], eu estava naquelas primeiras apresentações e eu vi a reação do público. San Francisco definitivamente tinha mais um estilo, como Venom e Angel Witch, todos os mais black metal, Mercyful Fate, Celtic Frost, coisas assim. Os fãs estavam realmente interessados nessa música, quando eu andava por L.A. era tudo sobre glam metal, Mötley Crüe, Poison, aquele tipo de estilo. E foi muito segregado assim também. Eu acho que em Seattle também foi meio dark, mas eles tinham a sua própria vibe hippie, que depois se tornou grunge. 

Como o grunge afetou a cena metal nos anos 90

WM: Nos anos 90, com o surgimento do Grunge, as bandas de metal tiveram dificuldade em se manter em destaque. O que você achou dessa época? E você acha que isso influenciou de alguma forma a sua abordagem ao longo dos anos 90?

EP: Definitivamente foi um chamado para despertar. Eu só me lembro, pela minha memória… É quase como se tivesse uma infestação de metal. Havia um monte de bandas. Tinha que ser, antes você podia contar na sua mão, você podia contar dez delas. E, eu acho que naquele ponto havia milhares de bandas. Quando o grunge surgiu, isso meio que mudou quem era forte e quem não. Porque eu acho que muitas bandas se mudaram e cortaram os cabelos e começaram a vestir camisetas e mudaram a música um pouco. Mas foi meio que um chamado para despertar para o metal, pegar a qualidade juntos e parar de copiar todo mundo ou algo assim.

WM: Você era fã de alguma banda grunge? 

Sim, eu gostei de todas as maiores. Alice in Chains foi a minha favorita porque eles eram mais hard rock e não eram totalmente grunge, mas eles ainda tinham o seu som. Para mim, e isso é comprovado, eles eram um pouco impacientes. Não era apenas uma banda da moda, eles têm um som muito forte que até hoje, quando você escuta, ainda soa muito bom. Eu realmente gostei do Soundgarden inicial, Mother Love Bone, que acabou se tornando o Pearl Jam. Muitos desses caras estavam nessa banda. Sim, foi  bom, tem muita música boa da época. Eu não gostei no começo, porque de repente, nós iríamos para a Europa e tudo que você via era grunge, como o que aconteceu com o metal. E foi como se o metal morresse por alguns anos. Mas eu aprecio isso agora, acho que é um ótimo gênero, boa música.

O convívio na cena heavy metal e defasagem do estilos após os anos 2000

WM:  Como é o seu relacionamento hoje com bandas da região, como Exodus, Megadeth, Forbidden e Slayer, por exemplo, já que todos vocês compartilhavam músicos entre as bandas?

EP: Nós não nos vemos muito. Definitivamente quando éramos mais jovens, bandas como Exodus, e até Metallica, frequentavam festas e tal, nós nos juntávamos mais com o Exodus, quando o Paul Baloff estava na banda, quando havia uma cena, porque todas as bandas ainda não tinham definições ou gravadoras, eram todas locais. Então havia concertos todos os fins de semana, nós tocávamos em certos clubes, como o Ruthie ‘s Inn, ou o Stone, ou o Mabuhay Gardens, em San Francisco. 

Então surgiu uma cena. Ao invés de ficar com seus amigos e todos se juntarem e irem à sua garagem, jogar e beber cerveja, vocês iam a esses shows. Porque vocês sabiam que Death Angel ia tocar, ou Legacy, que era o Testament, ou Exodus. Então, tinha um evento especial, quando o Metallica ia tocar, porque agora eles ganharam o mundo.

Eu me lembro que quando eu saí uma vez, a cena estava diferente, eram todas bandas como Fungo Mungo, então era um monte de banda tipo Faith No More, com hip-hop, não rap, mas funk, sabe? Foi uma cena diferente, mas é porque todas as bandas que eram nichadas, acabaram famosas. Mas foi divertido antes de todas as bandas assinarem contrato, porque, como eu disse, todo fim de semana, você podia ir para o Ruthie’s Inn, não sabendo quem ia tocar, e você ia e Exodus está tocando, ou Possessed e Death Angel estavam tocando. Foi bem legal.

WM: O Testament está junto desde a década de oitenta. Como você analisa as mudanças na forma de gravar e vender música desde aquela época até os dias atuais?

É realmente estranho, porque eu acho que nos anos 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1990, parece que cada década tinha seu próprio som. Mas quando você chega no final dos 90s e dos 2000s, parece que o tempo está parado desde os anos 2000. É muito “mais do mesmo”. A qualidade é ótima, mas… Você sabe o que eu quero dizer? Na década de 60 você tinha o Janis Joplin, Rod Stewart, Black Sabbath era o começo disso. 

E na década de 70 você tinha as coisas mais hard rock, como Kiss, Whitesnake, Deep Purple, e na década de 80 foi mais confinado, aí você tem Judas Priest, Scorpions… Então o que eu estou dizendo é que parece que há várias décadas de música, e agora parece que nos últimos 25 anos foi a mesma década, se isso faz sentido. Talvez seja sorte para nós, porque nós estamos fazendo isso há muito tempo, nossa música ainda é relevante. Não é tipo, ‘vocês são dos anos 50, vocês soam como Elvis ou algo assim’. Nós temos um som que é muito relevante. Então, acho que essa é uma boa resposta.

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