Entrevista feita por Pedro Tiepolo
Gojira retornará ao Brasil no final deste ano para uma apresentação única em São Paulo. Parte da turnê The Mega-Monsters Tour, realizada ao lado do Mastodon, a apresentação acontece no Espaço Unimed, em São Paulo, no dia 14 de novembro.
Em preparação para esse show, o guitarrista e vocalista Joe Duplantier conversou com o Wikimetal sobre a turnê na América Latina, alguns rituais que a banda tem para quando está na estrada e a canção “Amazonia”, do mais recente álbum Fortitude (2021).
Confira a entrevista na íntegra logo abaixo e clique aqui para saber mais sobre a turnê do Gojira com Mastodon.
Wikimetal: Eu queria começar falando do seu último álbum, Fortitude (2021), que tem uma música chamada “Amazonia”. Claro, estou falando daqui do Brasil então é muito bacana ver esse tipo de música e o tema por aí. Queria saber o que é para você a importância dessa música e como esse tema te interessou?
Joe Duplantier: Bom, é só a mais importante floresta do Planeta Terra e um tesouro internacional. É uma força que você pode ver do espaço. Não é nada. É uma floresta linda que estava queimando enquanto estávamos escrevendo o álbum, então falamos sobre isso. Não há muito o que dizer, eu não tenho família brasileira nem nada, é só o que é. Só quebrou nosso coração ver as imagens das florestas queimando. E ainda a relação que isso tem com a cultura indígena.
WM: Na última vez que vieram para o Brasil vocês levaram indígenas para o palco, né?
JP: Sim, a gente fez uma operação na Amazônia e conheci muita gente das tribos Guarani e Kaiowá. Você não deve dizer tribo ou indígena, mas por que diabos não? O que eu vou dizer? Eles são pessoas como eu e você. E comecei tudo isso para arrecadar dinheiro e conseguimos bastante coisa boa e algumas ruins que foram destruídas logo em seguida como algumas casas que ajudamos a construir que foram destruídas por alguns fazendeiros usando máscaras. Eles estavam atirando, estuprando pessoas (…) estou emotivo com o povo, e não só o brasileiro, mas também o norte-americano, o australiano, o tibetano. Precisamos respeitar os indígenas assim como respeitamos outras pessoas (…) somos todos humanos em um planeta bem pequeno. Estou cansado de falar sobre isso o tempo todo, mas sou músico e escrevo música.
WM: É uma responsabilidade de vocês falar sobre esses assuntos?
JP: [Fazer as pessoas] acordar! Pelo menos de não ter medo de olhar para essas coisas. Estamos muito preocupados com o nosso conforto. E queremos estar confortáveis e entretidos. E queremos fast food, queremos tudo rápido. Não suportamos não termos conforto todos os dias no nosso celular, nosso computador e com as interações com o mundo. Temos zero paciência.
WM: Falar sobre isso é um lembrete às pessoas?
JP: Sim! Não vamos salvar nada, não vamos salvar o mundo, não vamos salvar ninguém. Como artista, só podemos gritar e apontar para os fãs o que está acontecendo.
WM: Vocês estão em turnê agora, certo?
JP: Sim, estamos em Boston com o Mastodon. Somos amigos há anos, há mais de uma década e já fizemos muitos shows juntos e festivais. Nos conhecemos muito bem e tocamos bastante nos bastidores. E fazer essa turnê é muito legal de fazer porque muitos fãs de Mastodon também são fãs de Gojira e vice-versa. Lorna Shore também estão com a gente e eles são uma força. Mas Mastodon e Gojira saindo em turnê juntos é demais. Sair em turnê solo é legal, mas ter duas bandas juntas é bom porque muitas vezes conseguimos ter uma produção maior.
WM: Em uma entrevista recente, você falou sobre terem começado um novo álbum.
JP: Sim, mas estamos sem pressa. Com a turnê, é difícil fazer isso. A gente tem que comer, dormir, ensaiar, eu não sei como as outras bandas conseguem escrever na estrada. Depois da turnê na América Latina, eu acho que vamos conseguir fazer algo. Nada foi dito oficialmente, mas acho que os shows da América Latina serão os últimos da turnê do Fortitude.
WM: Já tem ideia de como vão seguir ou ainda não planejaram?
JP: Temos umas coisas aqui e ali, mas ainda é muito cedo para dizer. É como você ter sal e cebola para uma refeição, mas você ainda não sabe o que fazer com aquilo.
WM: Você comentou sobre a rotina na estrada, você tem algum ritual durante os shows ou antes?
JP: Sim, os rituais são importantes porque depois de um tempo você fica confuso, não sabe mais quem você é, onde você está, e você toca essas músicas toda hora e às vezes isso fica estranho, sabe? Não posso reclamar, claro, mas a vida é difícil para todos nós, até para rockstars. Ficamos longe de nossas famílias por meses e isso pode te enlouquecer. Então esses rituais são muito importantes, tanto antes quanto depois do show.
Um dos rituais mais importantes para mim é tirar uma soneca porque na estrada você fica cansado então precisa se reagrupar novamente. [Além do show] ainda temos que fazer entrevistas, meet & greet, comer. Um ritual que não podemos deixar de fazer é um abraço em grupo com a banda. Muitas bandas fazem isso, mas acho que nunca tocamos um show sem fazer isso.
WM: Qual música você acha que sintetiza melhor o Gojira?
JP: Temos várias eras na banda, vários aspectos diferentes e isso que é legal. Você não pode sintetizar em uma única canção. Mas, para mim, é uma música que, não sei, é quase 99% de chance que a gente vai tocar é “The art of dying”. Apesar de ser uma música mais técnica, eu acredito que tem todos os elementos que os fãs gostam no Gojira. O aspecto técnico e a letra e o título resumem toda a nossa discografia e tudo o que estou tentando dizer nas minhas letras. A ideia poderia ser resumida neste título “A arte de morrer”. É a arte de viver, como você vai conduzir sua vida. A maneira como você conduzirá sua vida definirá a qualidade de sua saída desta dimensão. O que você vai deixar para trás?