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Hugo Mariutti. Créditos: Divulgação

Entrevista: Hugo Mariutti fala sobre influências, conceito e inspirações do novo álbum

‘This Must Be Wrong’, quarto álbum da carreira solo do artista, está disponível em todas as plataformas digitais

Hugo Mariutti lançou dia 05 de setembro This Must Be Wrong, quarto álbum da carreira solo. Produzido inteiramente por ele mesmo, o disco sucede The Last Dance (2023), seu primeiro trabalho após o fim do Shaman.

Em uma conversa com o Wikimetal, o guitarrista falou sobre influências, conceito e inspiração por trás do novo trabalho. Além de como foi mergulhar em sonoridades que se distanciam do heavy metal, pelo qual é amplamente reconhecido, e explorar composições mais introspectivas.

This Must Be Wrong é um lançamento ForMusic Records. O CD estará disponível em breve na Wikimetal Store.

WIKIMETAL: Por que você considera o This Must Be Wrong seu disco mais importante?

Hugo Mariutti: Eu acho que porque ele é o artístico mais completo, eu acho que mistura mais coisas de todas as minhas influências. Também porque eu tomei um cuidado muito grande com tudo. Por ser também um disco que eu não esperava que eu fosse fazer, quando eu acabei o último, o The Last Dance, eu achei que eu não estava muito contente, eu estava com uns problemas e eu achei que aquilo fosse ser o meu último disco, que eu não fosse lançar mais nada. Então eu acho que por todas essas coisas juntas, ele acaba sendo muito importante. Que eu decidi fazer mais uma vez outro disco por ter muitas influências. 

WK: Em quais pontos você sente que amadureceu entre seu último álbum e esse novo?

HM: Primeira coisa, eu acho que as letras. Vai passando o tempo, você vai aprendendo mais coisas. Na parte de produção, na parte de mixagem, na parte de composição… Você sempre vai aprendendo alguma coisa. Com as coisas que você passa, com quem você convive… Eu percebo essa evolução também no fato de cantar, eu acho que eu estou cantando melhor nesse disco do que nos outros, então… São várias coisinhas, acho que não é uma coisa tão perceptível, mas algumas coisas, alguns detalhes, tenho certeza que foram coisas que eu consegui evoluir nesse período.

WK: Houve algum tema ou sentimento específico que guiou a criação do álbum?

HM:  Acho que assim, na verdade tudo. Estávamos vivendo um momento muito… Eu sou um cara que fica mal com notícias, me faz mal muita coisa, me pega, sabe? E eu acho que a melhor maneira que eu vou conseguir falar alguma coisa ou passar alguma mensagem é colocando isso nas letras, nas músicas. Foi uma coisa bem natural sair desse jeito. Eu não pensei, ‘ah, vou fazer um disco falando sobre isso e isso e isso’, foram assuntos que fazem parte do dia a dia, e que você começa a pensar, então você vai lá e escreve alguma coisa sobre… Não foi pensado, mas no fim das contas você tem razão, eu nunca tinha parado pra pensar…

WK: Qual o conceito e o significado por trás da capa do álbum?

HM:  É muito legal a história dessa capa, porque eu fui fazer um workshop em Maringá, eu conheci algumas pessoas lá e passei a seguir no Facebook, no Instagram… E um dia eu já estava com o nome do disco na cabeça, e estava vendo os stories de uma pessoa de lá, uma artista de lá, e eu vi essa foto. Nossa, a hora que eu bati o olho na foto, eu falei, ‘tem que ser essa foto pro meu disco’. Então, eu comecei a mandar mensagem para ela falando, ‘você gostaria?’. Ela ficou super feliz porque ela gostava do Shaman, gosta do Angra, e ela ficou super feliz… A capa reflete isso, que eu estava pensando o porque ela tem uma pessoa na praia sozinha, ali sentada e vários passos, era como as pessoas estivessem saindo, como se ela estivesse errada ali, não está fazendo nada, só olhando. E as cores, de ser preto e branco também, retrata muito o que tem no disco todo. Então, eu achei que seria a foto ideal para a capa do disco. E deu certo, ainda bem. O nome da artista é Gil Dias, quem quiser seguir ela no Instagram… Ela é muito talentosa.

WK:Muitos te conhecem pelo metal. Esse álbum explora um lado mais post punk. Por que essa mudança na sonoridade?

HM: Na verdade, o primeiro disco desse projeto saiu em 2014, e a minha ideia sempre foi fazer algo que eu não tinha feito ainda em outros lugares. É porque o Heavy Metal tem uma característica, por mais que você passe suas influências, você não consegue colocar tudo o que você quer ali. E outra coisa, você tem uma banda também que são outras pessoas. Então você tem que discutir ideias até chegar a um acordo, até chegar no meio termo para todo mundo. E esse trabalho, eu sempre penso assim, ele não vai ter nenhuma barreira.

Eu vou colocar o que eu tiver com vontade. Mas o propósito foi fazer uma coisa totalmente diferente. Porque quando eu saí com o disco solo, esperavam que fosse um disco só de guitarra, que é uma coisa que eu nunca ouvi tanto assim, então não seria natural pra mim. Então, eu fiz uma coisa que é natural pra mim, sem ter muita regra. Tem muitas influências diferentes por isso, tem coisas que você falou do pós-punk, tem coisas da década de 60, da década de 70, mistura muita coisa.

WK: As letras têm um peso emocional grande. Elas são baseadas em experiências pessoais? Existe alguma história por trás de uma das faixas que você possa compartilhar?

HM:  Algumas sim, outras nem tanto, mas eu acho que as mais pesadas sim. Por exemplo, a faixa-título do disco e o conceito do disco foi pensado da forma de… Eu sempre me pegava pensando, de como a gente vive hoje em dia. Quando você tá sem fazer nada, o mundo te pressiona a estar fazendo alguma coisa sempre, você não pode estar parado sem fazer nada. Você se cobra, você fala assim, ‘Eu vou ficar sem fazer nada?’. E é importante você não fazer nada. Eu fiquei muitas vezes pensando nisso, por que eu tenho que fazer alguma coisa? Por que eu sou obrigado a fazer alguma coisa no momento que eu estou tranquilo? 

Então a gente sempre está nessa, de estar produzindo alguma coisa, esse modo de vida que a gente tem é muito caótico. Isso é uma coisa que eu pensava muito. Por exemplo, a música “Out of Time” fala sobre depressão, e até hoje em dia eu trato, tive há muitos anos e até hoje eu controlo. E eu acho que é uma coisa importante também, porque é um tabu que muita gente acaba não falando, e as pessoas têm às vezes uma visão que você nunca tem nada,  ‘Ah, o cara lançou um disco, não sei o que’, sendo que muita gente tem.

É um problema muito mais comum do que todo mundo acha. E que melhorou a relação das pessoas falarem mais sobre, mas ainda é muito pouco. Eu acho que é importante a gente sempre estar mostrando esse tipo de coisa, tentando falar sobre. Pra ajudar também quem passa por isso e às vezes tá quieto, não tem coragem de falar nada, esse tipo de coisa.

WK: Quais artistas ou bandas ainda te inspiram atualmente? Você acompanha a nova cena musical?

HM: Eu sempre procuro conhecer muitas bandas novas. Tem umas que já não são tão novas, o Fontaines DC, Wolf Alice, acho uma banda também muito legal. Eu gosto do The Last Dinner Party, também acho muito legal. São influências que vão mudando de um disco para o outro, que você vai tendo mais influências, você vai ouvindo inconscientemente, vai ficando na sua cabeça. Então, além de todas as bandas clássicas, dos anos 60, mais essa parte do Reino Unido todo, que eu gosto mais, essas bandas novas também acabaram fazendo parte.

WK: Você vê diferença na forma como o público consome música hoje em dia? Isso influencia na forma como você compõe e lança seus trabalhos?

HM:  É muito diferente, eu vejo pelo meu filho, ele tem 15 anos, ele nunca deve ter escutado um disco inteiro, parar e escutar um disco. Então, é uma coisa que você tem que se adaptar, mas para a gente também é um pouco difícil. Quando eu estou fazendo música, eu não penso muito em como eu vou comercializar e divulgar. A gente tenta se adaptar a algumas coisas, lançar um, dois, três singles antes, depois lançar o álbum… Esse tipo de coisa a gente tenta se adaptar mas é difícil também, porque o disco funciona como se fosse um livro, você escolhe a ordem das músicas, quando você fala sobre os temas, eles meio que estão perto do outro ali. É uma coisa que também a gente não deve abandonar, porque tem muita gente que ainda escuta dessa maneira, que vê sentido em escutar o disco todo, uma obra inteira. Eu acho que a gente tenta se adaptar em algumas partes e outras a gente faz do jeito que a gente aprendeu.

WK: Quais são os próximos passos após o lançamento de This Must Be Wrong?

HM: Eu fiz o show de lançamento agora no SESC Santo Amaro, em um teatro muito legal lá. E a tendência agora é fazer mais alguns shows, não tem nenhum marcado ainda, mas já tem várias consultas de datas. E o que eu quero fazer é divulgar bastante esse disco, mais do que eu divulguei os outros. 
Os outros eu sempre tinha alguma coisa paralela, ou era o Shaman, ou era a banda do André[Matos], ou VIPER, então, agora, nesse disco eu quero focar mesmo na divulgação. Divulgar bastante, que eu acho que é um trabalho que merece ser trabalhado mais, de uma forma melhor.

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