Felipe Machado, guitarrista e fundador do VIPER, explora uma faceta mais pop e pessoal no segundo álbum solo da carreira, Primata, lançado em março pela ForMusic Records em parceria com FMLabs, produtora do músico.

Em entrevista ao Wikimetal, Felipe apontou como todos os músicos da banda possuem um gosto musical amplo, muito além apenas do heavy metal, algo que se reflete na própria sonoridade da banda que, apesar de ter uma sonoridade baseada no metal, já teve álbuns mais voltados para o pop rock. “Cada disco tem uma influência, sonoridade e até um estilo um pouco diferente, mantendo as características da banda, claro”, disse.

Apesar de ter rock como o gênero musical favorito, o músico explicou como “o próprio fato de ter uma carreira solo nasceu um pouco de [querer] me expressar de outras formas e em outros estilos musicais”, uma vez que o VIPER tem um “estilo mais definido”. 

Entre as influências para Primata, existe uma lista extensa e interessante, da música clássica e jazz ao eletrônico e pop: “Claro que de alguns estilos que eu não gosto, não é que eu gosto de qualquer coisa, mas sempre fui muito muito aberto para música boa. Eu gosto de diferenciar a música de duas maneiras – existe música boa e música ruim, a parte de estilo eu acabo não prestando tanta atenção”. 

Com letras em português pela primeira vez na carreira solo, o projeto traz a faixa “Quinze Anos”, do polêmico álbum Tem Pra Todo Mundo (1996), que deixou fãs de VIPER insatisfeitos com a sonoridade comercial – e completamente distante do antecessor, Coma Rage (1995). 

“Foi um disco muito gostoso de fazer, as músicas são boas, mas não era um disco do VIPER, era um disco meu, do Pit e do Yves [Passarell] e do Renato [Graccia]. Aliás, do Renato não tanto porque ele não gosta tanto, não gostava nem na época”, riu. “Acabou sendo um disco do Viper, mas era um disco muito mais de experiências assim nossas, até porque era uma pela primeira vez que a gente ia cantar em português”. 

A música chegou no Primata com um novo arranjo e casou perfeitamente com a vulnerabilidade de compor em português, trazendo agora a reflexão sobre a idade atual da filha de Felipe, que tem 15 anos. 

Com produção de Val Santos, com mixagem de Val e Mauricio Cersosimo, e masterização de Mauricio Gargel, o disco tem Felipe nos vocais, violão e guitarra, além das letras, sem medo de se expor. “Compor em português é muito mais difícil, né? O inglês é uma é uma língua muito muito favorável para o rock pela sonoridade. Quando você compõe em português, precisa ser mais rígido com você mesmo, com seus com seus padrões de qualidade, porque uma palavra colocada num sentido errado ou meio bobo, pode transformar a música em uma coisa super brega e infantil”, contou.

Essa vulnerabilidade e transparência da língua materna se reflete em “Sentido do Fim”, uma homenagem para Andre Matos, amigo e companheiro de banda, que morreu em 2019. A faixa começou a ser escrita antes de Felipe receber a triste notícia, como uma música inspirada pelo livro Um Sentido do Fim, de Julian Barnes, que fala sobre a morte de um dos amigos de um grupo com quatro integrantes. 

“[Naquele dia], os jornalistas começaram a me ligar, amigos e tal, perguntando se era verdade que o Andre morreu, fiquei surpreso, chocado, muito triste e arrasado”, lembrou. “E fiquei curioso com essa coincidência da música que falaria da morte de um desses quatro amigos”. 

O ano de 2022 ainda reserva o lançamento de Timeless, primeiro álbum de inéditas do VIPER em 15 anos, também fruto da criatividade de Felipe Machado no período da pandemia, com faixas da banda compostas ao mesmo tempo do Primata. “Foi um período de uma efervescência artística e que estava meio que represada, talvez pela própria pandemia”, observou. “Mas eu gosto de poder transitar em diferentes estilos”. 

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