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DarWin. Da esquerda para a direita: Matt Bissonette, Simon Phllips, Greg Howe, DarWin, Mohini Dey. Crédito: Divulgação

Entrevista DarWin: Simon Phillips fala sobre o novo álbum, ‘Distorted Mirror’

Simon também fala sobre o uso da IA na música, e sobre seu herói brasileiro

A banda DarWin, liderada pelo guitarrista de mesmo nome e pelo baterista Simon Phillips (que já colaborou com nomes como Judas Priest, Toto, The Who, Jeff Beck e tantos outros), acaba de lançar o álbum Distorted Mirror, juntamente com uma série de clipes conceituais e performances ao vivo em seu canal no YouTube.

Em uma conversa com o Wikimetal, o baterista Simon Phillips destrincha como foi o processo de gravação do álbum, o uso da inteligência artificial na música nos dias de hoje, como está a cena do rock progressivo atual, e sobre seu héroi brasileiro. Confira:

Simon fala sobre sua abordagem analógica e a inteligência artificial na música

Wikimetal: O DarWin acabou de lançar um novo álbum, “Distorted Mirror”. Este álbum tem um tema futurista focado em inteligência artificial, e eu vi em algumas entrevistas suas que a produção foi intencionalmente analógica e vintage. Por que você escolheu uma abordagem sonora tão “old school” para um assunto tão moderno?


Simon Philips: É a única abordagem que conheço (risos). Eu faço engenharia de áudio em discos desde 1983. Então, cresci com gravadores de fita, consoles e equipamentos totalmente analógicos, equipamentos outboard analógicos. Além disso, toco em discos desde 1972. Então, eu vivia entrando e saindo de estúdios desde muito jovem. Tive a oportunidade de trabalhar com muitos daqueles engenheiros daquela época. E é com isso que meus ouvidos estão acostumados. Então, quando se trata de engenharia de som, você simplesmente busca o que quer ouvir. Basicamente é isso. Como você chega lá, depende de você e das técnicas que aprendeu. Mas é assim que obtenho o som, porque quero que soe de uma certa maneira. É assim que eles são. Gosto que seja rico. Gosto que seja quente, com muito headroom, usando equipamentos muito, muito bons.

WM: E este álbum, como eu disse, tem esse tema focado em IA. Você, como um músico que está na indústria há tantas décadas, acompanhou as mudanças tecnológicas. Qual é a sua opinião pessoal sobre a IA na música? Você a vê como uma ameaça ou apenas mais uma ferramenta?

SP: Eu vejo… bem, poderia ser uma ameaça. Realmente depende do tipo de música, do estilo musical. Ela é muito boa em criar um fac-símile da música pop moderna, porque é para isso que a maioria das pessoas provavelmente a usa. Quando se trata de qualquer coisa progressiva, jazz… é terrível, absolutamente inútil. Fiz experimentos com ela e é um lixo. E é o mesmo quando ela escreve também. Muitas pessoas estão usando o ChatGPT para escrever coisas. E, no entanto, você sempre percebe ao ler: “isto não… não, alguém não escreveu isso. Isso foi gerado”. E você tem que revisar e corrigir tudo.

Então, em termos de ameaça, não vejo tanto assim, mas o público está se acostumando a ouvir música de uma maneira diferente. Ouça a música pop. Eles não entenderiam de forma alguma a música pop dos anos 60. Algumas pessoas, jovens, adoram [a música antiga] e não sabem o que está acontecendo hoje. Mas a maior parte da música pop de hoje… quer dizer, eu nunca ouço. Para mim, não vou nem perder meu tempo. Por quê? Sabe, eu quero música profunda, música de verdade tocada por músicos de verdade, criada por pessoas de verdade, sabe? E é disso que se trata este álbum. É tudo tocado de verdade, músicos que estudaram seus instrumentos por anos e, espero, gravados da melhor maneira que posso.

O Método de Simon Phillips: Instinto Acima do Planejamento

WM: Este álbum tem uma faixa chamada “Man vs Machine”, que tem dois videoclipes distintos, um corte de performance e uma versão conceitual “Dawn of the Robots”. Por que essa música em particular recebeu dois tratamentos visuais?

SP: Ah, bem, isso é com o DarWin. O DarWin toma essas decisões. Fizemos alguns [vídeos de performance], não todos. Não podemos fazer tudo isso. Dá muito trabalho. É muita filmagem, muita edição. E do meu ponto de vista, é muita reaprendizagem da música, algo em que não sou muito bom. Eu sempre toco tudo de forma diferente. Então, tivemos que escolher… acho que fizemos três. Acho que fizemos “Loophole”, “Man vs Machine” e talvez “Cry a River”. Não me lembro agora. Ah, fizemos “Rising Distortion” também. Mas isso é… isso é conceito do DarWin. É ele [que diz]: “Vamos fazer para esta música. Vamos fazer isso… Vamos fazer aquilo… Vamos fazer dois vídeos…” Então eu deixo isso [com ele]. Eu já tenho o suficiente para fazer (risos).

WM: Há outra faixa neste álbum chamada “33rd Century Man” (O Homem do Século 33). Quem é o “Homem do Século 33” dentro do universo distorcido que vocês criaram?

SP: Ah, bem, isso cabe a você decidir (risos). Sabe, muitos dos conceitos e letras… bem, liricamente, vem tanto do Matt [Bissonette] quanto do DarWin. Eu não me envolvo. Eu não posso. Não sou um letrista. Deixo eles fazerem. O que eu faço é, quando junto tudo, quando vejo as letras e, mais importante, as ouço, então eu saberei: “ah, precisamos mudar esta linha. Isso não está funcionando muito bem”, sabe, ou “não tenho tanta certeza sobre esta linha”. É aí que eu me envolvo. Mas principalmente são DarWin e Matt juntos criando as letras. E eles surgem com esses conceitos. E sim, é como… por que qualquer coisa é chamada de qualquer coisa, sabe? Por que chamamos [algo de] “rio”? Por quê? Sabe, é o mesmo com “33rd Century Man”.

WM: Para você, como baterista, como você aborda a narrativa e a construção das músicas?

SP: Na verdade, eu não sei. Quer dizer, eu toco a música. Sou um músico instintivo. Não planejo muito. Nunca planejei. E quando estou montando essas músicas aqui nesta sala, estou fazendo faixas MIDI. Muitas vezes eu não toco bateria. Às vezes eu uso baterias programadas. Às vezes, posso ir lá [no kit] e apenas tocar para ter certeza de que o andamento está bom ou que tudo está soando bem. Mas na maioria das vezes eu não toco até realmente entrarmos no estúdio. E é instinto. É realmente apenas instinto. E isso vem de tocar em tantos discos ao longo de tantos anos. É realmente daí que vem.

Simon fala sobre a produção do álbum e como está o rock progressivo nos dias atuais

WM: Em um projeto moderno de rock progressivo como o DarWin, com camadas de guitarras e teclados, como você luta para deixar a música dinâmica e evitar a “loudness war” ou compressão excessiva?

SP: Bem, novamente, sabe, fui criado nos dias em que nossos níveis eram muito, muito mais baixos. Estávamos fazendo discos para vinil. Também usávamos fita. Então, tínhamos limites muito rígidos aos quais tínhamos que aderir. Sim, [os discos] são muito mais “altos” do que costumavam ser. Mas eu realmente não gosto do som de música fortemente comprimida. É cansativo de ouvir. Você ouve duas faixas e eu já quero tirar. Então, minha filosofia sempre foi tentar obter uma abordagem o mais “hi-fi” (alta fidelidade) possível, mesmo que os sons sejam guitarras distorcidas ou pesadas. Quero dizer, estamos fazendo… muitas vezes eu faço três ou quatro faixas de guitarra do DarWin tocando a mesma coisa. E então, na mixagem, posso tratá-las de forma um pouco diferente. Quando gravo, faço uma faixa de guitarra e depois faço uma dobra. Em seguida, mudo o amplificador, que passaria por uma combinação diferente de amplificador e alto-falante, e as dobro.

E então, quando mixo, tenho muito de onde escolher. Muitas vezes também tenho o Jesse Siebenberg dobrando [as guitarras] com um som diferente. Realmente depende do que está acontecendo na mixagem. Se eu achar que não há “corpo” suficiente ali ou que não há calor suficiente, então precisamos de um som diferente. E cada guitarrista tem um som particular. DarWin tem o som dele e Jesse tem um som de rock mais tradicional, em oposição a um som de heavy metal. Mas, no final das contas, sou muito cuidadoso com a compressão. Não gosto de comprimir demais e sempre deixo bastante headroom para o engenheiro de masterização. Ele é o cara que vai fazer o movimento final em termos de masterização.

E muitas vezes, quando uso engenheiros de masterização, geralmente a primeira passagem é muito alta. É muito comprimida, o que vai dificultar a audição. Eu não me importo com tocar em rádio. Mas este não é o tipo certo de música, não é o tipo de música que tocaria em rádio. Isso é para ouvir em casa, seja em um CD ou em vinil, em um bom sistema. Então, quero torná-lo o mais agradável de ouvir possível. [Seja em] fones de ouvido ou pods. Para mim, isso é muito importante. Quanto mais comprimido, mais distorcido, mais alto… é muito cansativo para o ser humano ouvir. Isso é apenas um fato. Então, eu sempre tento me dar bastante headroom, ao mesmo tempo em que faço soar eficaz e poderoso, mas com dinâmica.

WM: Você tocou com ícones do rock como Jeff Beck, The Who, Toto e muitos gigantes do fusion. Como essa experiência influencia suas escolhas de produção e bateria em um projeto moderno como o DarWin?

SP: É simplesmente… de todo mundo com quem toquei, eu aprendi. É uma experiência maravilhosa, especialmente no início dos anos 70, meados dos 70, final dos 70, início dos 80. Quer dizer, eu estava aprendendo o tempo todo, sabe, e aprendendo com os maiores músicos. Então, toda essa experiência eu posso colocar em qualquer projeto que seja.

Seja apenas um projeto direto de rock/pop, seja um projeto mais progressivo, seja um projeto de fusion, até mesmo folk ou clássico, posso extrair de todas essas experiências, de todos os discos em que toquei, e abordar uma música de uma certa maneira. Isso é apenas… isso é apenas experiência.

WM: E como você vê a cena do rock progressivo hoje?

SP: Há muitas bandas ótimas por aí. Eu participo de um evento chamado “Cruise to the Edge”, que é um cruzeiro de rock progressivo, e há algumas bandas ótimas lá. Life Science é uma banda maravilhosa, com quem eu até já toquei. Eles são maravilhosos. Marillion, absolutamente fantástico. Amo a música deles. Há tantos, há tantos ótimos… há muita música boa por aí, não importa o que as pessoas digam. Sou um grande fã do Queensryche. Sim, acho eles fantásticos. E sim, há muita música boa.

WM: Houve alguma faixa desafiadora para produzir ou mixar em “Distorted Mirror”? E se sim, o que a tornou tão difícil?

SP: Hmm, essa é uma boa pergunta. Hmm, eu não sei. Quero dizer, todas elas têm, todas têm seus elementos de dificuldade. Eu diria que fazer qualquer coisa é difícil. Quer dizer, nunca é fácil. Mas, por outro lado, cada faixa se encaixa de uma certa maneira, especialmente ao mixar.

No início, é meio… é um pouco sem foco. Você está apenas obtendo os sons de cada instrumento. Você está encaixando-os. E então, muitas vezes, às vezes você até tem que começar de novo. Mas pelo menos você já tem seus sons. Às vezes, você só precisa reequilibrar.

E então, no segundo reequilíbrio, às vezes, “oh, isso está soando melhor. Isso se encaixa melhor agora”. Sabe, eu não sei. De alguma forma, se resolve. Às vezes, há uma mixagem com a qual ainda não estou feliz e não consigo identificar o problema. E é aí que outro par de ouvidos realmente ajuda.

E é por isso que, sabe, DarWin e eu somos os produtores. Estou mixando sozinho, mas envio a mixagem para ele, e então ele ouve. E ele pode apontar algo muito simples, apenas algo que eu não estava ouvindo.

Ele diz: “sabe, o que está acontecendo com aquelas… lembra daquelas guitarras que tínhamos? Sim, elas estavam lá.” Eu digo: “sim”. “Bem, talvez mude o equilíbrio entre as guitarras.” Sabe, “oh, ok, isso é interessante”. E muitas vezes, tudo o que é gravado não significa que tenha que estar na mixagem.

Essa é a outra coisa. É tipo, “nós fizemos isso” ou “isso soou ótimo”, mas agora não estão realmente fazendo muito pela mixagem. Tire-os. Não precisa estar lá só porque foi gravado. Sabe, há muitas coisas. É tomada de decisão. Mas realmente ajuda ter um segundo par de ouvidos para ajudá-lo a ter uma perspectiva diferente sobre a mixagem.

O herói brasileiro de Simon Phillips

WM: Simon, estamos indo para o fim desta entrevista. Mas antes de terminarmos, você tem uma mensagem especial para os fãs brasileiros? O DarWin talvez venha para cá? Porque, de acordo com o Spotify, São Paulo é a cidade que mais ouve o DarWin. Há algum plano?

SP: Bem, São Paulo é uma cidade ótima, claro. Um dos meus heróis vem de São Paulo. Ayrton Senna. [Sou um] grande fã de corridas e um grande fã do Ayrton. Consegui conhecê-lo uma vez, o que foi ótimo. E o vi correr algumas vezes. E visitei o túmulo dele algumas vezes, toda vez que estou em São Paulo. Então, sim, adoraríamos ir ao Brasil para tocar. Espero que possamos fazer isso.

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