Eu tenho esperança que um dia vão realizar essa reunião com o Sepultura ou uma Jam Session com os caras.”

Wikimetal: Oi Max, é o Nando Machado aqui, tudo bem?

Max Cavalera: Beleza, como é que tá?

W: Tudo certo. Bom, para começar, primeiro de tudo, queremos saber como você está de saúde.

MC: Está beleza, cara, estou recuperando. Fui no médico dois dias atrás, médico falou que 90% já está curado já, e a cara, já está melhor, os efeitos já estão passando, e mais uma semana já deve estar tudo de volta ao normal já. Então graças a Deus melhorou bastante já.

W: Que bom, que bom. Falando sobre o começo da sua carreira, como você começou a se interessar por música?

MC: A primeira coisa que rolou foi um show do Queen em São Paulo, no Morumbi, que um primo da gente levou eu e o Igor pra assistir. E a gente pirou nesse show. Foi muito legal com a luz e com o som, e no outro dia eu fui e comprei o Queen Live Killers. E o Igor comprou uma fita do Kiss Alive II. E aí a gente começou a escutar heavy metal e daí pra frente começou a ficar mais paulera, veio o AC/DC, o Black Sabbath, Deep Purple e Led Zeppelin. E depois Van Halen. E daí teve uma mudança, começou a ficar mais pesado com Motorhead. Aí veio Slayer e Metallica. Na época que a gente começou a ouvir Slayer, teve uma vontade da gente montar uma banda da gente mesmo, daí foi o nascimento do Sepultura. Foi depois que a gente ouviu Slayer e essa galera mais hardcore mesmo, mais trashmetal.

W: Tá, e falando dessa época, como é que foi a sua primeira guitarra? Como você chegou à sua primeira guitarra?

MC: Minha primeira guitarra era uma… Nem lembro o nome dela, era uma brasileira, nacional, e comprei usada. O apelido dela era “podreira”, porque era muito podre mesmo. E eu lembro quando você tentava fazer um solo assim, alguma coisa no braço da guitarra saía pedaço de madeira na sua mão. E cortava os dedos! Nessa época eu não tinha muito, não. Eu tinha guitarra, mas não tinha amplificador. Lembrei, eu comprei ela e levei pra casa, comecei a tocar e falei “Pô, cadê o som? Cadê a distorção e o som metal?”. Aí o cara falou pra mim “Você tem que comprar amplificador e tem que comprar um pedal de distorção.” Eu falei “Caralho! Tem que comprar isso tudo?”. Eu achei que era só a guitarra e ia sair o som já. Eu nem entendia que a guitarra precisava de amplificador. Isso é pra saber o quão naive que a gente era. Então, daí eu voltei para casa, consegui arranjar mais dinheiro, fazendo uns trabalhos debaixo da gaveta, assim, vendendo autógrafo para a molecada lá que eu conhecia. Eu falsificava os autógrafos dos caras do Creator e vendia por quatro reais e com essa grana eu acabei comprando um amplificador. Eu comprei um amplificador fudido e finalmente chegou o som, com distorção. Compramos um pedal ferrado de distorção também. Aí veio o som, pesado de distorção da guitarra. Foi aí que eu comecei a fazer as primeiras notas, né. E vem as primeiras músicas que a gente gravou, “Filhos de Hitler”, “Sexta-feira Treze”, e coisa que era bem antiga mesmo do Sepultura, que nunca chegou a ser gravada.

A primeira coisa que rolou foi um show do Queen em São Paulo, que um primo da gente levou eu e o Igor pra assistir. E a gente pirou nesse show.”

 W: Ah, que legal. Bom, mudando de assunto. Eu fui no show do Soulfly e você parecia estar bem feliz aquela noite, né. Como é que foi pra você tocar em São Paulo depois de tanto tempo, com a casa lotada e a galera cantando todas as músicas, bem empolgada?

MC: Muito legal, cara. Foi um dos shows mais legais da turnê, foi um dos shows mais legais da minha história até. História digo, assim, até meu irmão não acreditou na galera. No fanatismo da galera, como é que estavam cantando todas as músicas. Ele até falou comigo “Parece Beatles, cara!”. Pois é, ele falou que eu tava parecendo um Beatle. E ele achava muito legal assim, todo esse fanatismo ao lado do Soulfly. E pra mim foi muito legal também porque teve o primeiro show, de 98, que foi meio sabotado, que teve toda aquela confusão. Com toda aquela coisa do Sepultura, e gente falando pra não ir pro show, pra boicotar o show e acabou até zuando, não foi muita gente no show e ficou aquele gosto amargo na boca. Então esse show foi pra lavar a alma e lavou mesmo, lavou. Foi pra cima até de levar a alma, foi muito legal. Com os meus filhos também tocando a “Revenge” e tendo a família lá também, vendo os fãs cantando cada música do Soulfly, misturada com Sepultura. Foi uma noite inesquecível mesmo, nunca vou me esquecer dessa noite. Foi muito legal.

W: Foi muito legal mesmo, eu estava lá e fiquei muito feliz de ver você de volta com tudo, o Soulfly com força total, o Igor também tocou o “Troops of Doom”, foi realmente uma noite especial. Tira uma dúvida, Max. Como é funciona o esquema de ter duas bandas? Como é que você faz pra decidir que música que vai pro Soulfly e que música que vai pro Cavalera Conspiracy?

MC: A maioria das vezes quando eu gravo um riff eu estou só fazendo a música, eu não estou preocupado para onde que vai. Então eu só gravo e ponho de lado. Aí depois que eu vou escutar esses CDs que eu faço, que são esses demos, aí que eu escolho as músicas. E na maioria das vezes eu sei até qual que vai ser mais para o lado do Igor, que o Igor vai tocar melhor, pelo jeito que ele toca bateria, que eu conheço desde pequeno. Então eu sei o jeito dele de tocar, sei os riffs que ele gosta, que são perfeitos para o Igor. E as outras são coisas que eu faço para o Soulfly, que é mais diferente, tem um lado mais específico. Cada disco é diferente. Como o Slave é mais de death metal, é um lado mais extremo. Então é uma coisa meio que… Primeiro é pensar nos riffs, aonde eles vão, e depois selecionar eles e dar um para cada banda. Cada riff vai para cada banda e fica uma coisa legal, uma divisão bem legal que acaba contribuindo para as duas bandas que eu toco. Adoro tocar com o Cavalera e adoro tocar com o Soulfly, gosto de estar nas duas bandas.

W: Legal. A gente tem uma pergunta clássica do programa, que a gente fez pra todos os entrevistados até hoje. Imagina você ouvindo um ipod no shuffle, ou dirigindo seu carro ouvindo o som de uma maneira randômica e uma música começa a tocar e de repente você começa a… Uma música que você perde o controle e não consegue parar de “head-bangear”. Qual seria essa música que a gente vai ouvir agora no programa?

MC: A “World Scum” do Soulfly acho que tem essa tendência! Bem “head bang” mesmo.

 W: Então vamos ouvir agora “World Scum”, Soulfly!

W: Fala como é que é o processo de escolha do produtor do disco. Esse novo disco você tá trabalhando com o Zeuss, né? Que fez Hatebreed, Madball, o Shadows Fall… Como é que você escolhe o produtor que você vai trabalhar?

MC: Às vezes a escolha é minha, como foi no caso do Roots, que foi o Ross Robinson, ou o Chaos A.D que foi o Andy Wallace, que eu sabia que tinha feito Slayer e Nirvana e às vezes vem da gravadora. Dessa vez, com o Zeuss, veio da gravadora. Foram eles que me contataram e disseram que tem esse produtor, Zeuss, que é muito fã meu e que queria muito trabalhar comigo. Me mandaram o material que o Zeuss tinha feito, que é o Shadows Fall, o Hatebreed , o Ocean, e o Whitechapel, e eu gostei muito da produção e acabei aceitando a sugestão deles de fazer com o Zeuss. Então cada disco é diferente. Mas dessa vez a sugestão veio da gravadora e eu achei uma sugestão muito boa que ajudou bastante no disco. Até acho que o Slayer, bastante do som do Slayer, por isso que o som tá legal, foi o trabalho com o Zeuss, que o Zeuss soube tirar coisas bem legais que não sairiam normalmente e precisava de alguém lá pra tirar.

W: Legal. Falando sobre a sua auto-biografia, em que estágio está? E você sabe quando ela vai ser lançada?

MC: Bom, estamos tentando ver se dá para ser lançada até o Natal. Até a galera fala que tem que lançar até o final do ano porque o mundo vai acabar, e o pessoal tem que ler isso daí antes do mundo acabar. Então está num nível assim… Estamos terminando as entrevistas, tem algumas como a do Igor que não fez a entrevista para o livro ainda, tem que falar com o Igor ainda e algumas mais entrevistas. Tem que separar as fotos que eu vou usar. Então tem algum trabalho ainda para ser feito, mas a gente quer ver se continua trabalhando e consegue terminar isso aí antes do Natal, aí a previsão da gente é que saia no Natal desse ano, é o que a gente está tentando.

W: Legal, legal. E me fala uma coisa, você está há tanto tempo morando fora do Brasil, do que mais você sente falta morando fora do Brasil?

MC: Acho que feijoada é uma das coisas que eu sinto mais falta. Guaraná…

W: Mas essas coisas você consegue aí, né? Ou não?

MC: Feijoada não, cara. Aqui é impossível. Minha esposa faz meio parecido, uma feijoada meio americana, meio misturado que sai até legal pelas condições que ela tem, que não dá pra fazer tudo. Mas ela sabe fazer legal até feijão preto, arroz, e faz no caldeirão e tudo. Mas guaraná tem jeito, tem uma loja aqui que vende que eu sempre vou lá pegar, sempre compro guaraná e sempre tem aqui em casa.

W: Legal. E fala uma coisa, qual foi o ponto alto da sua carreira, até hoje? Se você tivesse que escolher um highlight?

MC: Um fica difícil. Acho que… Tem bastante até. Acho que a primeira turnê do Soulfly na Austrália foi muito legal, foi o Big Day Out, um festival que tava tocando com o Korn, com o Marilyn Manson. E a gente tocou cedo e eu achei que ninguém ia estar lá porque era cedo. Mas o pessoal veio em massa e tinha 50 mil pessoas em cada show. E o pessoal delirou no som do Soulfly, foi quando eu entendi que o Soulfly tinha sido aprovado pela galera. Pra mim aliviou até, foi uma coisa que até… Não sei, um sentido de alívio, que eu senti que o Soulfly finalmente tinha sido aprovado pela galera do metal, que eu tinha saído desse lance, dessa sombra do Sepultura. E isso aí para mim foi um dos momentos mais fortes da minha carreira, foi ter sentido esse alívio, que eu tinha conseguido. Com o Soulfly, que eu tinha conseguido vencer, minha carreira ia continuar e ia ficar tudo bem. Então foi lá na Austrália que rolou esse lance.

W: Bom, e pra escolher uma música de novo, você poderia escolher uma música da sua carreira que você se sente realmente orgulhoso de ter escrito?

MC: Queria botar “Nail Bomb” aí, “Wishing Away”.

W: “Nail Bomb”. Excelente.

MC: “Nail Bomb” é um projeto que eu sempre gostei. Muitos fãs gostam também. Um projeto paralelo que eu fiz na época do Chaos AD. E saiu muito animal também o disco “Point Blank”, eu e o Alex cantando junto. E tem participação do Igor, do Andreas, do Dino do Fear Factory. E esse projeto ficou muito legal. Até hoje gente pergunta sobre “Nail Bomb”, se eu vou fazer outro “Nail Bomb”, fazer alguma coisa a mais com o Alex. Infelizmente a banda terminou, já acabou, não vamos fazer mais nada novo. Mas o som continua, então acho que é “Wishing Away” é do caralho, é a primeira música do disco.

W: E isso aí, “Nail Bomb” no Wikimetal.

Eu falsificava os autógrafos dos caras do Kreator e vendia por quatro reais. E com essa grana eu acabei comprando um amplificador.”

W: Você é provavelmente o artista brasileiro mais bem sucedido internacionalmente em todos os estilos de música. Como é que você acha que um cara tocando death metal e trash metal consegue chegar tão longe e conquistar o mundo assim, que nem você conseguiu?

MC: Trabalho, cara. E bastante fé no material. Horas e horas, dias e meses trabalhando em cima do disco, fazendo o disco, turnês intermináveis, mundo a fora. O trabalho que a gente faz com o Soulfly a gente vai o mundo inteiro – na Sibéria, na China, Indonésia, Tailândia – tocar em muito lugar aonde muita gente não vai, muitas bandas não vão. O Soulfly faz questão de tocar nesses lugares. E também o fato de ser de um lugar como o Brasil ajuda também. O fato de eu ser brasileiro tem um lance legal que é meio exótico. Acho que o mundo inteiro quer ver quem é o cara do Brasil que saiu mundo a fora, que fez sucesso no mundo inteiro. Acho que tudo isso junto, e a força dos fãs também é muito animal, dos fãs que eu tenho, o que é muito legal. São bem fanáticos. Acho que tudo isso ajudou a criar meio que esse mito de Max no mundo que acabou virando o mundo afora. Acho que tudo isso junto, a mistura de tudo.

W: Legal. Agora vou fazer a única pergunta aqui que eu separei pra gente falar sobre o Sepultura. Existe alguma possibilidade – Não vamos falar de volta, fica tranquilo – mas olhando tudo que aconteceu com o Big Four e com o aniversário do Metallica, qual é a chance do Sepultura dividir o palco com o Cavalera Conspiracy ou o Soulfly? E se isso acontecer existe uma possibilidade de uma jam session com os caras da banda? Da sua ex-banda?

MC: Possibilidade existe, né. Sempre vai ter a possibilidade. Eu acho que eu sou uma das pessoas que até gostaria de fazer a turnê de reunião. Muita gente sabe que se fosse por mim eu teria feito já. Então não é uma coisa que está ao meu controle, tem a ver mais com os outros caras, o Andreas e o Paulo, ver com eles o que eles querem fazer. Enquanto isso não acontece continuo com os meus trabalhos com o Soulfly, com o Cavalera, o livro. Um projeto com o Greg do Interstate Plant que a gente vai fazer o ano que vem. Continuo fazendo as coisas que eu tenho que fazer. Mas eu tenho esperança que um dia vão realizar essa reunião ou uma jam Session com os caras, talvez. Seria bem legal igual rolou com o Igor, com o Troops of Doom que levou a casa abaixo, o pessoal adorou essa jam que o Igor fez com a gente e o Troops of Doom em São Paulo, foi animal. Se desse para fazer uma dessas algum dia, para mim seria bem legal, eu gostaria muito. Mas não depende só de mim.

W: Está certo. Valeu, Max. Eu já vou terminar a entrevista, só queria primeiro te agradecer pela entrevista e também por tudo que você tem feito pelo metal e pela sua carreira que é realmente é um exemplo pra todos os head bangers do Brasil e do mundo inteiro. A gente está sempre torcendo por você e sempre que você estiver aqui pode contar com a gente, a gente vai sempre apoiar. Só queria que você desse um conselho para aquele moleque que tá com 14, 15 anos começando a tocar guitarra e pensando em formar uma banda. Qual seria esse seu conselho?

MC: O melhor possível. Ensaia para caralho, meu filho. Ensaio de garagem é uma daquelas coisas muito especiais que todo mundo precisa, toda banda de verdade sempre esteve na garagem, sempre passou pela garagem. Eu estive com o Sepultura e tem hora que até dá saudade dessa garagem suja de BH que a gente ensaiava. É isso aí, leva a música no coração, faz o que quer fazer e não acredite no que os outros tão dizendo. Fique na música, fique no metal porque a força do metal é muito forte e é isso aí. Bota pra fuder. Detona tudo.

W: Brigado, Max, mais uma vez. E volta, não espera tanto tempo pra voltar, tá? Por favor

MC: Certeza, velho, um abraço, viu?

W: Grande abraço, boa sorte aí.

MC: Tá bom, um abraço pra você!

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