Não existe mais preconceito com relação a mulheres no mundo da música.”
Wikimetal (Rafael Masini): Fala moçada, começando mais um Wikimetal, um programa especial que a parte 1 deu muito o que falar, todo mundo comentou, adorou, pediram a parte 2, e a gente começa agora a parte 2 do programa das…Nando Machado.
Wikimetal (Nando Machado): Programa Mulheres no Metal. Woman and Metal. É um programa que foi prometido há três meses atrás quando foi ao ar o episódio 42, que foi o especial Mulheres no Metal e muito legal fazer esse programa. É ou não é Daniel Dystyler?
Wikimetal (Daniel Dystyler): Isso mesmo Nando Machado e esse é um programa, que como vocês falaram é muito importante e muito diferente também porque é a primeira vez que a gente não vai ser um Power Trio, na verdade a gente vai ser uma espécie de quarteto fantástico porque ao invés da gente, normalmente quando tem um convidado, a gente segue um roteiro de entrevista e tudo mais, esse aqui na verdade a gente tem aqui uma ilustre presença que vai ajudar a apresentar o programa com a gente, vai conduzir programa com a gente, por isso que hoje não é um Power Trio, somos quatro pessoas. Eu antes de apresentar a nossa convidada, tinha que ser uma mulher pro programa das mulheres, eu só queria dizer mais ou menos o que eu falei no episódio 35 do André Matos, que eu falei a minha opinião pessoal “André Matos o maior vocalista nacional”, então queria apresentar a nossa convidada Dani Nolden, na minha opinião a maior vocalista feminina do Brasil.
Dani Nolden: É um prazer estar aqui com vocês hoje, e tinha que ser uma mulher também para ser o quarteto fantástico né?
W (DD): É verdade. O Rafael é a Coisa.
W (RM): É cérebro de pedra.
W (NM): Mas vamos falar assim lá do comecinho. Como foi que você se interessou por rock, Metal e quais foram as principais influências que fizeram você decidir ser cantora?
DN: Eu comecei ouvindo música com a minha mãe e com os meus pais, ela escutava muito Queen, Michael Jackson, então foi isso que me iniciou na música. Eu ficava tentando aprender os backing vocals dos dois, ficava tentando aprender a dançar que nem o Michael Jackson, e conforme eu fui crescendo o meu primo começou a me mostrar coisas como Guns N’Roses, Skidrow, e foi aí que eu fui indo pro rock, e fui indo pro lado do Heavy Metal, com o pessoal da escola também. E eu conheci o Heavy Metal com Iron Maiden, foi a primeira banda realmente de Metal que eu conheci e gostei. Eu lembro que ouvi Helloween na época, escutei o The Best, The Rest, The Rare deles e eu achei horrível naquela época porque eu tava acostumada com hard rock, aquelas músicas mais simples, solo curtinho. Então eu escutei um música daquelas como Helloween, um monte de solo, e eu pensei “que coisa mais bagunçada, desorganizada, eu não consigo acompanhar isso”. Mas conforme eu me acostumei com isso eu comecei a gostar muito de Helloween, comecei a escutar Judas Priest, e aí foi paixão a primeira ouvida, eu não parei mais de escutar Heavy Metal.
W (RM): Legal. Dani deixa eu te perguntar a gente em todos os programas tem uma coisa que a gente tenta fazer é sempre unificar a coisa, o Metal. A gente acha sempre que as subdivisões, os pequenos preconceitos acabam diminuindo o movimento que a gente é tão apaixonado. No caso de mulheres no Heavy Metal, quando a gente era pequeno, começava lá, tinha um certo preconceito, e a gente às vezes ouve falar que sim, às vezes ouve falar que não, mas ninguém melhor que você, que é uma mulher que está a frente de uma banda pra dizer se isso ainda existe, se acabou, como é esse questão de preconceito de uma mulher nesse meio?
DN: Eu acho que desde que eu comecei, mais ou menos dez anos atrás, não existe mais preconceito com relação a mulheres no mundo da música. Eu não sinto mais essa coisa de fãs e indústria pensarem “não vocal é feminino, eu não gosto”, o que eu senti na época que eu comecei foi que tinha um preconceito com relação aquelas bandas com vocal lírico, principalmente as bandas novas, não Nightwish, não Lacuna Coil, essas coisas maiores assim…
W (DD): As outras que vieram na cola.
DN: Exatamente. Então naquela época, tudo o que era vocal feminino o pessoal já deixava de lado ou “não é banda cópia de Nightwish, cópia de After Forever, então não quero ouvir essa coisa” e eu acho que esse foi o maior desafio que a gente enfrentou naquela época, que eu pessoalmente enfrentei naquela época pra provar que eu era diferente daquelas outras bandas que tavam tentando só copiar o que tava em evidência, mas depois que eu consegui mostrar para as pessoas que era diferente, que eu tinha minha própria personalidade, eu não senti mais nenhum problema, muito pelo contrário, as pessoas… Não sei, eu sinto que é a mesma coisa, entendeu?
W (DD): E Dani pegando o gancho do que você falou, bom… O nosso programa naturalmente você já ouviu, e a gente vai conversando e vamo ouvindo sons ao mesmo tempo. A vinheta que rolou, rolou Inner Moster Out, música faixa título do último disco do Shadowside, demais na minha opinião, participação de um monte de gente, muito legal. E eu queria que você escolhesse uma música pra gente ouvir, então eu queria que você escolhesse, como o episódio é de mulheres, eu queria que você escolhesse uma música ou de uma banda só de mulheres, ou de vocal feminino, um som que você curte, você acha legal rolar agora no episódio.
DN: Eu gosto bastante do Arch Enemy, a Angela é fantástica. Eu gosto do primeiro disco com ela, o Wages of Sin. Muito legal aquele disco.
W (DD): Tem alguma música específica que você queira ouvir?
DN: Ahh.. Ravenous.
W (NM): Bom esse foi o Arch Enemy, e a gente tava até antes de começar a gravação, já tinha começado a falar desse assunto, mas fala um pouquinho da importância de festivais como Flight of the Valkyries que vocês tocaram nos Estados Unidos, vocês foram até Redliners, foi o que 2008?
DN: 2009? 2009 se não me engano, agora você me pegou.
W (NM): Mas só pro pessoal que tá em casa…
DN: Não é verdade, 2008.
W (NM): …saber do que se trata, é o festival americano anual que todas as bandas que tocam no festival tem o vocal feminino né? Tem o festival também de rock feminino em Rio Claro. Qual a importância desses festivais pra você pra divulgar essas bandas?
DN: Eu acho legal que muitas dessas bandas talvez não teriam a oportunidade em festivais comuns, em festivais que misturam os gêneros, porque são muitas bandas iniciantes que talvez não entrariam no quest do festival que já tem outras três, quatro bandas com vocal feminino. Não por causa de ser uma mulher, mas porque até sejam gêneros parecidos. E eu acho legal isso daí porque as bandas tem uma oportunidade de aparecer em lugares que elas normalmente não teriam, no Rock Feminino eu acho até mais interessante que no The Valkyries porque tem que ter uma mulher na banda, independente de ser vocalista, e no Flight of the Valkyries tem que tem que ser uma vocalista, se não tiver vocalista, não importa se tem uma baixista, uma guitarrista, não pode, tem que ser a vocalista.
W (NM): E o festival em Rio Claro tem ganhado um momento interessante, todo mundo tem falado disso, bem legal né?
DN: Eu acho um festival muito bem organizado, muito bem feito. A gente participou em um ano com Shadowside, e no ano seguinte eu fui lá pra ver só, eu fui assistir o Girlschool. E eu acho que o festival cresce a cada ano, eu espero que eles não parem, porque eu acho o movimento excelente, independente de ser com o vocal feminino ou com guitarrista mulher, eu acho que releva muita banda lá.
W (RM): Dani dois momentos que eu acho assim de arrepiar da história do Shadowside que ainda vai ter
muita história pra contar, um eu acho que todo mundo fala que é abrir pro Iron e o outro com o W.A.S.P. pra Europa. Fala um pouco pra nós que não vivemos esses momentos, como foi essas duas experiências.
DN: Com o W.A.S.P. foi até um pouco curioso porque a gente escutou tanta história na internet do Blackie Lawless e a gente chegou até um pouco paranóico na turnê. Eu li uma história de que não podia olhar o Blackie nos olhos, que ele…
W (DD): Virava pedra.
DN: Não, ele achava isso um insulto, achava que tava encarando ele. E a história dizia que ele mandou a banda de abertura pra casa quando olhou ele nos olhos. Então a gente ficou com medo de tal forma que a gente passava assim perto dele olhando pro chão. Bom dia e boa noite, olhando pro chão. E só na metade da turnê pra frente que a gente começou a relaxar um pouco e falar um “oi” um pouco mais normal pro cara, porque a gente realmente tinha medo de todas as histórias, todos os contos que envolvem o W.A.S.P.
W (DD): Mas ele era tudo isso ou não?
DN: Não, ele é um cara super tranquilo, ele é muito reservado. Ele fala oi e fica na dele, fica dentro do ônibus quase todo o tempo, mas ele nunca tratou a gente mal, a gente nunca sofreu qualquer problema com ele ou com a equipe do W.A.S.P. e foi tranquilo o tempo inteiro. Foram eles até que ajudaram a gente a conseguir vistos pro Reino Unido, que a gente chegou lá e teve problema na fronteira e foi o manager do W.A.S.P. que resolveu o problema pra nós.
W (RM): E você olhou nos olhos dele?
DN: Eu olhei, eu olhei e ele nem me mandou embora e eu nem virei pedra.
W (RM): E quanto à abertura do Iron.
DN: E o Iron Maiden foi um sonho realizado né? Isso já era pra ter acontecido em 2009 quando a gente foi convidado pra tocar com eles em São Paulo, mas o problema da tempestade acabou afastando a gente do evento e muita gente até duvidou que a gente tinha sido convidado pra tocar naquele show. A gente foi convidado naquela época três dias antes do evento.
W (DD): É o do autódromo né que você esta falando?
DN: Foi do autódromo em São Paulo. E a gente divulgou aquele evento e depois o pessoal falou “era mentira, o Shadowside não ia tocar coisa nenhuma” então dessa vez a gente ficou preocupado. A gente foi chamado de novo dois dias antes do evento, e isso acontece por causa da produção porque o Iron Maiden exige em contrato que tenha uma banda de abertura, eles querem uma banda de abertura, só que a produção deixa pra última hora, “se eles não exigirem, deixa quieto”, mas eles lembraram “a gente quer uma banda de abertura em cada cidade” e no Rio de Janeiro, como a gente já tava selecionado naquela época, a gente foi pra esse evento.
W (DD): E teve uma aventura também pra esse show né?
DN: Mais uma vez dois dias antes, e a gente falou dessa vez “a gente não divulga”.
W (DD): Por isso que eu digo, teve uma aventura nesse dia, não teve?
DN: Teve uma aventura. A gente tocou, já percebeu um problema logo quando a gente tava tocando, a grade parecia um tanto insegura, ela tava balançando. E quando o Iron Maiden entrou no palco a grade cedeu e teve aquele mar de gente indo pra frente, eles tiveram que interromper o show com um minuto de palco, até o nosso baterista foi tentar ajudar a consertar a grade pra eles poderem continuar tocando e ninguém conseguiu consertar.
W (DD): Tem uma cena bem legal, quem quiser ver, tem o Bruce sentado na frente da bateria explicando pro público pra todo mundo ir embora que no dia seguinte…
W (NM): Com uma tradutora do lado.
DN: Mas realmente parece que toda vez que junta Shadowside e Iron Maiden alguma coisa acontece.
W (DD): Alguma coisa treme. É uma conjunção de fatores muito grande.
W (RM): Vocês tavam com medo do W.A.S.P. olha aí o Iron dá mais medo hein?
W (DD): Mas o show em si foi demais né? Tem um monte de vídeos de vocês nesse show.
DN: Foi. Foi maravilhoso.
W (DD): A resposta do público foi ótima né?
DN: A gente tinha uma ideia de que o público receberia a gente bem porque a gente já tinha feito um no Rio de Janeiro com o Helloween. Então tinha bastante gente ali que já conhecia a gente, mas é claro que a maioria do público tava lá para ouvir Iron Maiden, então é sempre um desafio você subir no palco e ser comparado diretamente com o maior ídolo da maioria do pessoal que tava lá e da banda que o pessoal pagou pra ver e tava ansioso pra ver né? Então é sempre uma situação um pouco perigosa pra banda de abertura, mas foi maravilhoso. Desde o começo eles tavam lá agitando, curtindo, foi fenomenal.
A Doro abriu muito caminho pras mulheres no Metal porque deve ter sofrido muito preconceito naquela época”
W (NM): E Dani voltando ao nosso papo aqui, se você pudesse escolher uma mulher rockeira ou do Metal, ou do rock, a mais importante assim de todas. A gente sempre tem um maior ídolo de todos, qual seria a sua?
DN: Ídolo no Metal ou no rock geral?
W (DD): O que você quiser.
DN: No Metal deve ser a Doro né? Que ela abriu os caminhos, apesar dela não ser uma influência pra mim, porque eu comecei a cantar bem antes de conhecer essas coisas né? Então eu só ouvir falar da Doro bem depois de que eu ouvi falar de Nightwish, comecei pelo lado errado, mas eu acho que ela abriu muito caminho pras mulheres no Metal porque ela sim deve ter sofrido muito preconceito naquela época, ela deve ter enfrentado um mercado completamente fechado pra mulheres, então eu tenho ela como um exemplo.
W (RM): E o que você acha falando também do vocal da Amy Lee do Evanescence?
DN: Eu gosto da voz dela, eu tenho o primeiro disco, o primeiro álbum completo do Evanescence porque eles têm outros antes, eu achei que foi bem legal. Eu gostei quando eu ouvi, na verdade eu não gostei da banda quando eu ouvi pela primeira vez, mas eu escutei tanto o clipe passando pelo canal Sony que eu acho que eu acabei gostando e eu comprei o disco. Eu acho o disco bem sólido, bem interessante. Depois eu parei de acompanhar, mas eu acho ela uma boa vocalista sim.
W (NM): Legal. Eu fiquei bem surpreso, eu nunca tinha visto eles tocando ao vivo e no show do Rock in Rio eu achei bem pesada a banda. Ela tá com uma banda totalmente nova né? E os caras totalmente Metal assim, e os músicos que tão tocando com ela, então eu acho que também faz a banda ser mais pesada né?
W (DD): E Dani nós entrevistamos a Amy Lee, a gente perguntou como ela se sentia sendo capa do calendário que a Revolver Magazine lança todo ano esse calendário The Hottest Chicks in Metal, e a Amy Lee tá esse ano e ela responde que ela fala que acha bacana, que se é uma coisa que ajuda a banda dela, ela tá disposta a fazer. Eu queria ouvir a sua opinião sobre isso e se você faria.
DN: Eu faria sim. Faria porque eu acho que não tem nada demais, não é uma coisa erótica, sensual, não tem porque não fazer. É só uma foto de banda, então não tem problema nenhum. Eu acho que é legal sim, até porque a Revolver faz também The Hottest Dude in Rock and Metal, então eu acho interessante. Eu acho que as pessoas gostam de olhar para as pessoas, então não tem porque não fazer.
W (DD): E é mais divulgação né?
DN: E as meninas já falam dos caras desde os anos 80 né? Então é normal que os caras falem das mulheres também. É uma divulgação, eu acho que tudo é válido desde que as bandas não se baseiem só nisso. As bandas que se baseiam só em aparência eventualmente vão acabar morrendo e as bandas que realmente fazem som ficam aí mesmo quando elas envelhecem, pode ver a Cristina Scabbia, acho que mais de quarenta anos já. Eu até já fiz uma coisa como essa da Amy Lee, eles até fizeram uma votação no site da Costa Rica e foi o público que escolheu as mulheres que eles queriam no calendário, tem a Cristina Scabbia, tem a Floor do ReVamp, tem Anneke do The Gathering, tem mais gente lá que agora eu não tô conseguindo lembrar, mas…
W (DD): Mas o importante é que tem a Dani Nolden do Shadowside.
DN: Tem eu também. E tá bem bonito o calendário, tá de muito bom gosto, eu acho que o pessoal vai curtir e até porque é de graça, quem quiser ir lá baixar…
W (DD): Já tá disponível?
DN: Tá disponível. Tá no Facebook da banda, o pessoal pode baixar a partir de lá.
W (RM): Dani, no Brasil os outros estilos de músicas, desde MPB, Axé music, tem muitas mulheres vocalistas e muitas mulheres fortes, respeitadas dentro do seu meio, dentro da música. Não pegando as mulheres do Metal, dessas outras cantoras, você pode escolher qualquer uma, qual você gostaria de ver cantando Metal ou até fazendo uma parceria com você numa música do Shadowside…
DN: Pode ser morta? Cássia Eller.
W (RM): Cássia Eller, ah que legal.
W (NM): Cássia Eller eu já vi o show dela também era rock’n’roll.
DN: Ela era pura atitude.
W (NM): Não vou falar que era Metal, mas era rock’n’roll e do bom.
W (DD): E o show dela no Rock in Rio foi quase Metal viu.
DN: Ela poderia fazer Metal tranquilamente.
W (NM): E ela tinha uma banda muito legal que eram uns caras de cabelo comprido, acho que até músicos que devem já ter tocado Metal alguma época… Que eram dois guitarristas cabeludões e tocavam tipo Metal…
W (RM): Quando você falou “pode ser morta”, eu pensei assim “será que dá pra matar uma delas?”. Dá pra matar uma meia dúzia… Ivete Sangalo…
DN: Essas não contam né?
W (NM): Mas tem até piores que a Ivete Sangalo, vai?
W (RM): Tem, tem. Não vamo nem falar.
W (NM): Legal, a pergunta tradicional do Wikimetal: Que música que você não consegue se controlar quando você ouve, em qualquer lugar que você esteja, pra gente ouvir agora no programa?
DN: Essa é Trigger do In Flames.
W (NM): Dani me fala uma coisa, você já tem uma experiência interessante fora do Brasil, na sua opinião quais são as maiores dificuldades e os maiores desafios pra vocês fazerem as turnês lá fora e quais são as principais diferenças entre o mercado americano e o europeu?
DN: A dificuldade de fazer uma turnê como essa é a distância que a gente tá, então é muito caro pra uma banda brasileira chegar na Europa. A gente tá em constante desvantagem com relação a eles porque um cara que tá na Alemanha chega na Finlândia em algumas horas. Então a gente tem esse problema, tem essa dificuldade aqui no Brasil, então qualquer coisa que a gente faça tem que ser muito bem planejado pra gente não perder grana e acabar não tendo problemas, até como a gente teve durante a turnê europeia que o nosso ônibus quebrou no meio da turnê, e a gente acabou tendo que cancelar dois, três shows.
W (NM): Aonde foi isso?
DN: Foi na França, a gente tava a meia hora da cidade do primeiro show, pra nossa sorte ele acabou sendo cancelado porque o promotor não tinha colocado equipamento pra nós, e o W.A.S.P. cancelou por nossa causa. Então pelo menos o desastre não foi tão grande, mas foi um desafio enfrentar neve pela primeira vez, dirigir na neve, e a gente como brasileiro que não tem nem o frio, nem a neve aqui, a gente passou um pouquinho de problema lá. Então às vezes você tem que lidar com um pouquinho da barreira do idioma também, especialmente no leste europeu, que ninguém fala inglês, então você tem que se virar pra se comunicar tanto com o público quanto com qualquer coisa que você precise, seja comida, ou seja pedir uma informação, mas você acaba se virando né? Várias vezes a gente ficou preso na neve, uma vez a gente ficou preso a cinco minutos da casa de show, e a gente tinha que chegar pra passar o som, do contrário a gente teria que ser cortado do show. E a cinco minutos da casa, a gente sabia onde era, já tinha pedido as informações pra chegar, e a gente não conseguia sair da neve, e aí apareceu um cara lá, que a gente não sabe da onde, com um tapete de carro pra colocar embaixo do nosso pneu pra gente poder sair, seguir em frente.
W (DD): Dá um clipe isso aí, hein? Dá um videoclipe.
DN: Dá livro, dá clipe. A gente fez até um diário lá, o baterista ele fez um diário com todas essas histórias. E essas são algumas das dificuldades, é mais questão logística mesmo, porque o público, o mercado é fenomenal. Eu senti que eu tava no Brasil, eu me sentiria aqui no Brasil se não fosse pelo idioma completamente diferente, porque o público é apaixonado, recebe a gente muito bem. Até em lugares que eu achava que eles seriam meio frios, como no Reino Unido, mas eles foram fenomenais, gritando do começo ao fim, depois sendo muito receptivos também.
O problema aqui no Brasil não é culpa do público. A culpa é de promotores amadores”
W (NM): E comparando com os Estado Unidos?
DN: O americano é bem diferente. Não digo que eles são mais frios, mas eles são mais controlados, então eles ficam olhando o show, eles batem cabeça discretamente, batem pezinho, mãozinha, as mulheres dançam…elas dançam mesmo! Mesmo nas nossas músicas mais pesadas, elas sobem naquele mastro, no pole dance e elas dançam mesmo. E é interessante, mas depois você sabe que eles curtiram o show quando eles vêm falar como você, o americano quando ele gosta ele compra tudo, ele é bem consumista. Então se você tiver uma caneca do Shadowside lá, eles querem. Eles deixam tudo que ele tem no bolso…
W (DD): E merchandising vende bem lá.
DN: Vende, vende mesmo. Tudo o que você tiver na mesa disponível eles levam. É assim que você mede lá nos Estados Unidos, o europeu eles vêm conversar com a gente, eles vêm conversar mais do que o americano.
W (NM): Quantas tours já fora do Brasil Dani?
DN: Foram cinco turnês pros Estados Unidos, e duas vezes na Espanha, uma vez na Bósnia e na Romênia, e a quarta vez foi com o W.A.S.P., foram dezessete países.
W (RM): Por falar da Romênia, eu li no site de vocês que foi no castelo do Conde Drácula, até o irlandês Bram Stoker pegou ele como cenário pra escrever o romance do Drácula, e aí eu queria perguntar: isso tinha uma vibração diferente, mais Metal e até uma brincadeira que você pôs que o público tava muito eufórico, que bateram muito a cabeça e que no dia seguinte ia tá td mundo com dor no pescoço. Falei “bom, dor no pescoço e Drácula combinam bem”. Como foi trocar num lugar assim tão marcante?
DN: É na verdade o castelo realmente foi do Vlad Tepes, ele passou três meses lá durante a guerra contra os turcos, ele usava aquele castelo pra observar quando os turcos tavam chegando. Então aquilo lá não é só uma questão da lenda, mas é histórico realmente. O castelo é maravilhoso, o palco tava bem na frente da escada do castelo, então é um cenário fantástico pra um show de Metal, tava bem organizado, tinha umas barraquinhas vendendo, um cara tava fazendo esculturas com vidro, ele fazia uns morceguinhos lá. Então foi muito legal, eles organizaram uma apresentação com os vampiros lá pra todas as bandas, o cônsul da Alemanha tava lá, então foi um festival muito especial mesmo.
W (DD): Você falou agora quase como uma turista conhecendo as coisas, nessas viagens todas, nas turnês dá tempo?
DN: Não, normalmente não dá tempo. Na turnê com o W.A.S.P. a gente tocava num dia e acordava no dia seguinte em outro país já, a gente foi com um mini ônibus com leitos até, porque as distâncias eram muito longas, e com a neve você tem que dirigir mais devagar então não tinha jeito, se a gente ficasse pra dormir naquela cidade não ia ter nem como chegar no dia seguinte, então agente dormia e só acordava com a outra língua já escutando. Então é bom quando tem festivais mais assim espaçados como esse da Bósnia ou da Romênia, que aí a gente consegue conhecer um pouquinho. Na Bósnia foi legal que o show foi transmitido pra 250 mil pessoas pela televisão e no dia seguinte a gente andava na rua com o pessoal chamando, foi até um pouquinho difícil fazer turismo, mas foi legal.
W (DD): E Dani já cinco tours internacionais, vários shows importantes e dez anos de carreira com o Shadowside, se você pudesse escolher um ponto da sua carreira que foi aquele ponto alto que te emociona, que você fala
“Pô…”.
W (DD): O momento, se você tivesse que escolher o momento. Qual momento seria?
DN: Seria a primeira vez que a gente tocou fora do Brasil que foi quando a gente venceu um concurso de um site, Air Play Direct, que mais de mil bandas se inscreveram, era uma música só que podia concorrer e agente concorreu com Highlight. Eu inscrevi a banda sem contar pra ninguém, eu não esperava que a gente fosse ganhar, então eu nos inscrevi porque não custava nada mesmo, “por que não?”. Mas como parte do prêmio era tocar no Indianapolis Metal Fest eu imaginei que a gente nem teria chance, eu imaginei que uma banda de lá venceria pela proximidade né? Então de repente um belo dia, eles me mandam um e-mail “Vocês ganharam. Querem tocar no Indianapolis Metal Fest?”. E a gente chegou lá tinha mais ou menos cinco ou dez pessoas assistindo a banda que ia tocar duas bandas antes da gente entrar, tinha dez pessoas no bar no máximo, era um bar pra 500, 600 pessoas mais ou menos. Vazio, vazio. Cinco pessoas na frente do palco e equipe do bar…
W (DD): E um cachorro.
DN: Não tinha um cachorro, olha… Mas quase. Podia ter um rato lá, não sei. Mas a gente ficou assim no cantinho esperando, “poxa, a gente viajou tudo isso pra tocar pra cinco pessoas né?”, mas então a gente reuniu e falou “a gente vai tocar o mesmo show de sempre, como se tivesse 10 mil pessoas, não importa. Essas cinco pessoas que tão aqui pra ver a gente”. Na banda seguinte três pessoas, e começou a diminuir o público, a gente “tá bom né? Fazer o que?”. Mas então na nossa hora de começar a arrumar as coisas, a gente foi pro camarim, e começou a montar tudo em cima do palco e de repente a gente viu que a casa tava enchendo. E começou a entrar gente, e começou a entrar, entrar e ficar cheio, e de repente a casa tava lotada. A gente não entendeu o porquê. E depois a gente descobriu, porque o promotor tava falando do festival, e tava fixado na porta que o Shadowside do Brasil ia tocar no Indianapolis Metal Fest.
W (DD): Que legal. E isso atraiu um monte de gente?
DN: Muita gente ficou curiosa, e todo mundo queria ver a banda do Brasil. E isso foi bem legal, o público recebeu a gente maravilhosamente bem, foi a melhor experiência possível né? E a nossa primeira experiência internacional foi lá.
W (DD): Vamos ouvir Highlight, a música que levou vocês até lá?
DN: Vamo lá.
W (DD): Bom essa foi Highlight do Theatre Of Shadows, primeiro disco completo do Shadowside.
W (NM): Dani, eu vi que você deu um depoimento bem inteligente em relação aquele famoso vídeo do Edu Falaschi, a gente já falou com várias pessoas sobre isso, até com alguns convidados de fora do Brasil perguntando como é a cena em outros países…
W (DD): Se esse fenômeno acontece também, do público local não apoiar tanto as bandas locais.
W (NM): Resumindo, a gente obviamente apoia o Edu na questão que a gente acredita também que os fãs devem comparecer aos shows, a gente só não acha que ele foi feliz na forma com que ele fez, enfim queria que você falasse um pouco o que você acha sobre esse assunto.
DN: Bom, o problema aqui no Brasil, como eu já tinha falado, existe um problema? Existe, é claro. Mas eu acho que a culpa não é do público, eu acho que a culpa é, como eu tinha falado antes dos promotores amadores, porque o cara não vai querer sair de casa, mesmo que o ingresso seja barato, ele não vai querer sair de casa pra não ouvir música, pra ouvir só barulho, pra ouvir uma banda tocando que ele não consegue entender nada além da bateria. Então como você toca? Como é que uma banda apresenta um trabalho assim? Como é que você convence o público a voltar a uma segunda vez pra um show desse? E agora a gente vai ter que começar um trabalho de mostrar pro público que os shows têm qualidade, porque eles já acostumaram com um show brasileiro, com o show underground não ter qualidade.
W (DD): E que só show de banda gringa tem qualidade.
DN: Exatamente. Ele vê um show de uma banda gringa, mesmo uma banda gringa pequena, ele vê equipamento de primeira, ele vê a banda num palco excelente, ele vê iluminação maravilhosa, aí depois ele compara com a banda nacional. O cara não tem que entender porque isso acontece, ele só sabe, ele como leigo, como fã de música, ele sabe que o som nacional não é tão bom quanto o gringo.
W (RM): E muitas vezes falha na divulgação também né? Eles não divulgam e o cara tem que ficar correndo atrás da banda que ele gosta, não é?
DN: Hoje em dia a gente tá confiando muito em divulgação de Facebook. O promotor põe o flyer no Facebook dele, marca meia dúzia de pessoas e acha que divulgou um evento. E não funciona assim.
W (DD): E também não sei se você acha que isso também contribui pro problema, a gente tava fazendo um trabalho esses dias, que tinha sido pedido pra gente, e até novembro, quando a gente fez esse levantamento, até novembro em 2011 só de bandas internacionais tinham tocado 120 bandas aqui em São Paulo. 120 bandas em 360 dias é uma banda internacional a cada três dias. Em cima disso você coloca as bandas nacionais, aonde o cara vai? Com que dinheiro o cara vai?
DN: Exatamente. O pessoal não tem dinheiro pra tudo, não tem dinheiro nem pras internacionais.
W (RM): E nem tempo também né? As pessoas tem outros compromissos né?
DN: Em Santos, por exemplo, se não for um show no sábado, ninguém vai. Então o público não tem dinheiro, não tem tempo, a qualidade normalmente não é a mesma, então todas essas coisas influem. Eu acho que influem sim, eu acho até que as bandas internacionais tão sofrendo com isso. Há dez anos atrás, qualquer banda internacional tocava pra sete mil pessoas em São Paulo, hoje em dia já tá caindo pra dois mil, mil pessoas. Tem banda que toca pra menos de 200.
W (RM): E a gente teve exemplos aí de bandas internacionais com a casa praticamente vazia.
W (DD): E tem alguma luz no fim do túnel?
DN: Eu não sei se tem uma luz no fim do túnel.
W (DD): Tem é um trem vindo.
DN: É, porque eu acho que tem muita gente querendo que as bandas de abertura paguem pra tocar, e isso não tá legal. Lá nos Estados Unidos o que a gente vê é exatamente o contrário, todo festival, todo show de banda grande, sempre tem uma banda local abrindo, independente do que aconteça o promotor sempre coloca uma banda local. Então é assim que tem que ser. Eu entendo até que algumas bandas queiram pagar pra tocar, porque é até difícil hoje em dia você encontrar o seu espaço, e às vezes aquela tentação de tocar na frente de muita gente seja grande demais. Mas a internet tá aí, você chega onde você quiser.
Minha música favorita do Shadowside é Angels With Horns. Ela é muito especial pra mim, porque a gente fez como banda e ela tem tudo que eu sempre quis colocar numa música.”
W (DD): O Wikimetal é um exemplo disso.
DN: O Wikimetal é um belo exemplo disso. Eu acho que hoje em dia não vale a pena gravar um disco completo logo que você começa, talvez duas, três músicas com qualidade excelente, e solta isso na internet. Deixa rolar porque eu acho que as bandas estão brigando demais também com a MP3 né? Eu sinceramente acho que o público que gosta mesmo, que curte uma banda, ele vai comprar do CD, às vezes ele prefere esperar um show na cidade dele pra poder comprar o CD diretamente da banda, mas eu acho que o cara gosta da banda ele vai baixar e ele vai mais cedo ou mais tarde comprar um CD, uma camiseta. Então eu acho que as bandas que estão começando agora, não tem que se preocupar com lucro imediato, tem que se preocupar mais com colocar, com espalhar mesmo a música e conseguir novos fãs, conseguir fãs engajados que queiram ajudar a divulgar a musica também. Eu acho que isso é a melhor coisa que a gente tem hoje, e que vai continuar tendo no futuro cada vez mais, a livre troca de informação agora não da pra separar dela.
W (RM): Dani, não importando a mídia, se vai pro MP3, se é CD, se vai em vinil, qual a música que você tem orgulho, pra gente escutar agora, que o Shadowside tenha no seu CDs, que vocês gostam de tocar em show? Qual a música que você fala “puta, eu me orgulho de cantar essa música, de ter uma banda que tenha essa música”. Pede ela, anuncia pra gente já colocar.
DN: A minha música favorita do Shadowside é Angels With Horns. Essa música ela é muito especial pra mim, porque a gente fez como banda e ela tem tudo que eu sempre quis colocar numa música.
W (NM): Bom, a gente acabou de ouvir Angels With Horns, é você Angels With Horns?
DN: Sou eu Angels With Horns, uma versão exagerada de mim mesmo.
W (NM): Inclusive essa é a música que tem o clipe do disco, é o single do disco Inner Moster Out, e a gente sempre fala aqui no Wikimetal “meu, se você gosta da banda, a melhor forma de você ajudar é ou indo no show, ou comprando uma camiseta, ou comprando um CD, ou comprando a música pela internet”, ou seja, se você gosta da banda faça uma dessas coisas ou faça as três porque realmente assim você tá fazendo com que essa banda continue trabalhando e continue fazendo shows, e a gente não pode mais ficar falando que só os gringos fazem shows legais, porque aqui no Brasil há mais de vinte anos as bandas brasileiras às vezes são superiores as bandas lá fora, em turnês na Europa, em turnês no Japão, na Austrália, seja Sepultura, seja o Angra, seja tantas bandas… o Shadowsidejá foi cinco vezes pra fora, a gente não pode deixar o Shadowside virar uma banda gringa, tem que fazer o Shadowside fazer turnês no Brasil, a gente tem um país enorme, cheio de cidade legal, cheio de público e é um absurdo os caras fazerem cinco turnês fora do Brasil e ficar tanto tempo sem tocar em Porto Alegre.
W (RM): E Dani só ainda que tamo nesse assunto, que você chega lá, não tem uma lojinha, não tem um boné, não tem uma coisa…Eu mesmo que adoro, sempre que tem, por exemplo, o Korzus é uma banda que tem sempre, e eu toda vez compro alguma coisa. O Shadowside tem isso? Tem um site disponível? Como funciona até pra galera que curte?
DN: A gente tem sim, e foi uma preocupação da banda desde o começo até porque a gente nasceu no meio dessa revolução do MP3. Então a gente não pode ficar contando só com a venda de música, o fã que gosta ele quer vestir a camisa da banda mesmo, literalmente. Ele quer ter alguma coisa, nem que seja uma lembrancinha, se ele não tem grana pra comprar o CD, ele compra o chaveiro, qualquer coisa. Mas o cara quer ter alguma coisa da banda, ele quer dizer “olha eu sou fã dessa banda”, então eu acho importante sim. Eu acho que as bandas que não fazem isso tão privando o fã de ter o negócio que eles gostam tanto. Eu acho que é legal sim.
W (NM): Vamo que nem tava no nosso roteiro, mas vamo mandar um abraço pro Fábio, pro Rafael e pro Ricardo?
W (DD): Os outros integrantes do Shadowside né?
W (NM): Os machos do Shadowside.
DN: Há controvérsias porque eles demoram mais no banho do que eu, então…
W (NM): E com o cabelo? Fala aí.
DN: O Fábio ele não sai de casa sem escovar o cabelo, não escova, mas ele seca bonitinho, cuida daquele cabelão lá.
W (DD): Tá entregando os podres do cara né?
DN: Eu tenho que aproveitar porque eles não tão aqui, porque se não eu que ia ser zuada.
W (DD): A gente vai fazer um Homens no Metal e chamar os três aí.
W (NM): A gente já tá, mas um monte de pergunta vindo na cabeça. Fala um pouco da cena de Santos, assim eu tenho um carinho especial pela cena de Santos porque quando eu comecei a tocar, no Exhort, a gente fez um show no Circo Marinho que ficava na Ana Costa né? Você foi nesse show em 87?
W (DD): Eu fui nesse show e fui como roadie do Viper em vários show lá no Circo Marinho.
W (NM): Eu tinha uma banda que eu gostava na época, que chamava Angel e que o Lone Dover era um vocal meio Manowar assim, eu lembro que os caras eram super gente fina, quando a gente ia pra lá ficava na casa dos caras, e um grande amigo nosso Pepinho Macia que era dono de um ponto de encontro dos headbangers em Santos dos anos 80, não sei até quando, que era a Metal Rock & Cia…
W (DD): Metal Rock & Cia, famosa loja.
W (NM): Ficava na Ana Costa?
W (DD): Não, numa travessinha.
W (NM): Numa travessinha da Ana Costa. É uma cidade muito legal. Como é que tá Santos? A gente espera que volte a ser um polo importante pro Metal.
DN: É triste porque eu nunca ouvi falar de nada do que vocês estão falando. É triste porque a cena de Santos praticamente não existe mais. O último lugar que as bandas tinham pra tocar, que já não era lá essas coisas, era bem improvisado, o cara tava fazendo por gosto mesmo, por paixão ao estilo, acabou também, a prefeitura não deixa fazer nada. Tinha um lugar muito legal lá na Rua Quinze, que as bandas tocavam a céu aberto, mas os outros bares começaram a criar problema e eles acabaram com aquilo também. Então hoje as bandas novas não tem como aparecer, eles não têm onde tocar. Quando a gente vai tocar em Santos, a gente tem que tocar em lugares alternativos. Em alguns lugares a gente consegue tocar, mas porque eles sabem que a gente vai levar público… 300, 400 pessoas, mas uma banda nova que não tem histórico provado ainda vai fazer o que? Aonde que eles vão tocar? Como que eles vão conseguir um sábado a noite, que tem que ser em um sábado em Santos, como eles vão conseguir tocar num sábado a noite, tirar o funk, o axé, ou essas coisas de lá?
W (NM): Banda cover.
DN: Banda cover. Então a cena em Santos tá bem complicada. Tem banda, mas tá todo mundo preso lá né? Tem que sair da cidade pra poder conseguir fazer alguma coisa, e o público de Santos que gosta de Metal não sabe nem da existência das bandas de lá.
W (NM): E eu acabei falando de Santos, desculpa o sacrilégio aqui, não falei do grande Vulcano né?
W (DD): Vulcano, lógico. E já que você tá falando tanto de Santos Dani, conta pra gente como é que foi ter a honra de envergar a camisa mais gloriosa da história? Você que usou essa camisa.
W (NM): Ela é são paulina?
DN: Eu sou são paulina.
W (DD): Mas você usou a camisa do Santos.
DN: Usei a camisa do Santos. Eu joguei no Santos durante seis meses, a gente sempre acompanhava o time profissional nas excursões, eles levavam a gente pra tar no grupo né? Era bem legal. Era um grupo bem unido, infelizmente não durou muito tempo, agora acho que a diretoria do Santos começou a fazer futebol feminino de maneira séria mesmo, mas naquela época a gente não podia treinar nem no CT. A gente treinava em um canto separado, mas era legal porque era o Santos né?
W (DD): Mas você gostava de jogar bola?
DN: Eu adorava jogar, só que eu acabei escolhendo a música. Chegou um ponto que ou eu treinava todo dia, ou eu me dedicava a banda, então…Eu me machuquei uma vez durante os treinos, e eu tive que ficar duas ou três semanas parada e eu perdi todo aquele treinamento de pré-temporada que eles estavam fazendo, então eu ia ter que fazer tudo de novo, eu “ahh não. Eu gosto mais de música mesmo”. Então eu abandonei o time.
W (DD): E pendurou as chuteiras?
DN: Pendurei minha chuteira, pendurei o meu tênis de futsal, e fui só pra música.
W (NM): E joga ainda, assim brincando?
DN: Faz muito tempo que eu não jogo.
W (NM): Da banda, quem joga melhor, você ou os caras?
DN: Acho que sou eu. O Rafael é goleiro, ele foi goleiro das categorias de base do Santos também. Então ele não é competição, ele não conta. Os outros são perna de pau…
W (NM): Você é a segunda melhor jogadora do Shadowside?
DN: Eu acho que sim.
W (DD): As mulheres dominando não só o Metal, mas o futebol também.
W (NM): Futebol… Quem diria.
DN: O problema é que os caras tem medo de jogar com mulher, e eu cresci jogando com os meninos, mas os caras de hoje, não sei, parece que eles têm medo de jogar com mulher, “não, vou te machucar”. Aí e não consigo achar ninguém pra jogar bola comigo.
W (NM): Eu ouvi várias entrevistas suas Dani, falando coisas bem legais sobre o processo de composição e a produção do Inner Moster Out. Fala um pouquinho como foi esse processo.
DN: Essa foi a primeira vez que a gente arriscou fazer tudo como banda, que o grupo fez tudo junto, tudo mesmo! Eu e o Rafael levamos cada um metade das ideias iniciais do disco, mas nenhuma música nossa ficou exatamente como ela era nas nossas demo. Eu mexi em riff de guitarra, o Rafael mexeu em voz, o Fábio mexeu na estrutura das músicas, ele mexeu em guitarra também, então todo mundo mexeu em tudo. A gente criou as músicas com as ideias que a gente levava, a gente criava coisas novas, o Waste Of Life que é uma das minhas músicas favoritas do disco, ela nasceu de um refrão que eu não sabia o que fazer com ele, de um riff que o Rafael tinha, e que a gente não sabia o que fazer com ele também. A gente juntou os dois, o Ricardo ajudou a fazer algumas melodias no meio, uns arranjos, o Fábio disse “eu sempre quis uma música que começasse direto na voz”, e começou assim a música. E de repente, em quinze minutos, a gente tinha uma das melhores músicas do disco. Então eu acho que isso foi interessante pra nós porque deu identidade realmente da Shadowside, a gente levou todas as nossas influências. Então eu achei isso bom porque não ficou só a cara de um membro da banda, não ficou o trabalho solo de alguém da banda, e não ficou uma cópia das nossas influências pessoais, ficou uma mistura de tudo, as nossas personalidades, tudo o que a gente aprendeu, sem desviar do que a banda tinha pretendido desde o começo que era fazer um Heavy Metal bem enérgico, com bastante melodia, marcante, aqueles refrão fácil de lembrar, mas não simplório. A gente queria deixar um pouco mais complexo, mas sem ser complicado demais. Então eu acho que é um disco que a gente pode ficar bem orgulhoso. E a gente morou no estúdio durante três semanas. Durante aquelas três semanas o Fredrik tinha horários específicos pra trabalhar, ele chegava às 9h e saia às 5h, sempre em ponto, mas a gente podia ficar mexendo no estúdio, até o final de semana que ele não tava lá trabalhando, a gente ficava brincando no estúdio, mexendo com arranjos de guitarra. Então muita coisa que ele mandava a gente mudar, a gente ficava experimentando e criando durante essas horas, durante a madrugada… a gente virou várias madrugadas fazendo música.
W (NM): Uma Disneylândia né?
DN: Foi fenomenal aquilo. A gente tava a uma porta do estúdio sempre, e lá ele tem uma estrutura, uma casa mesmo… Ele tem as camas, o banheiro, a cozinha, e a gente morou lá durante três semanas. Pra mim como vocalista foi fenomenal porque eu tava acostumada a gravar em São Paulo, e pra mim que moro em Santos sempre foi uma complicação viajar às vezes duas, três horas dependendo do trânsito, pra ir e pra voltar, já chegava lá cansada, quando terminava a gravação eu já tava de saco cheio, às vezes tinha algum erro, mas eu já tava cansada demais e “deixa assim, tá bom, é o suficiente”. E dessa vez eu gravava durante seis horas seguidas e “já acabou?”, “tá bom já?”, “vamos fazer um pouco mais” porque eu não tinha trabalho nenhum, eu cantava descalça como se tivesse cantando no quarto da minha casa. Foi super confortável, eu não me vejo gravando de forma diferente no futuro.
W (DD): E já que você falou tanto de Waste Of Life, vamo ouvi?
DN: Vamo ouvi Waste Of Life, a segunda favorita do álbum Inner Moster Out.
W (RM): Voltamos da Waste Of Life do Shadowside.
W (DD): Que em português quer dizer?
W (RM): Desperdício de vida.
W (NM): Pegou a cola aqui da Dani Nolden.
DN: Não conta.
W (RM): E Dani foi muito legal ter você aqui com a gente, o programa demais, com um monte de participação…
W (NM): Eu nunca vi eles se comportarem tão bem meu, sinceramente.
W (RM): E é uma honra mesmo, como a gente falou ou como o Nando disse, a gente quer que o Shadowside divulgue o nosso Metal pelo mundo, mas a gente tem orgulho que é uma banda brasileira, e que nós brasileiros possamos ver o Shadowside em bons lugares, com som bom, e a gente torce pra isso.
W (DD): Antes só de passar a palavra pra Dani, eu só queria repetir o que eu falei no comecinho do episódio, que pra mim é a maior vocalista de Heavy Metal.
DN: Eu fico muito contente com tudo isso que vocês tão falando, é uma honra pra mim tá aqui com vocês, eu considero o Wikimetal um dos melhores programas que tem, vocês sempre colocam muita coisa legal.
W (DD): Você ouve?
DN: Eu escuto, eu escutei aquele episódio das Mulheres também, o primeiro. E eu me sinto super orgulhosa de tá aqui, eu também não quero deixar o Brasil de lado, muito pelo contrário, eu gostaria muito de igualar os números, a gente fez mais de 80 shows lá no exterior e aqui no Brasil fica difícil até chegar a vinte. Então isso é triste pra nós. Eu gostaria muito de tocar mais vezes aqui no Brasil, o público sempre pede, e me dói falar “não tenho nada marcado pra essa cidade”.
W (DD): Você ouviu o exemplo da Karen durante o nosso programa, pedindo.
DN: Muita gente pede em Porto Alegra, Curitiba, no nordeste pede há muito tempo, Manaus pede há muito tempo, Goiânia também, e a gente não consegue fazer nada. Às veze o produtor até chega a marcar, mas na última hora ele cancela. Então eu gostaria muito de igualar os números, e espero que esse ano isso aconteça, quem quiser falar com a gente, a gente tem o site Shadowside.ws, lá tem todos os links pro Facebook, pro Twitter, pra contato pra show, tem o contato com a banda, e a gente tá sempre na internet também… é banda moderna. E a gente tá sempre em contato com os fãs também.
W (DD): A Dani acabou de twittar, quando tava vindo pra cá, falando que tava vindo encontrar o Wikimetal.
DN: Eu twittei, facebookei, eu faço tudo.
W (DD): Muito legal. E no que depender do Wikimetal, a gente vai tentar ajudar pra viabilizar mais shows aqui no Brasil.
DN: Quanto mais, melhor. A gente é banda que vive na estrada.
W (DD): É isso aí. Dani, obrigado viu?
W (NM): Dani Nolden no Wikimetal!