É difícil ver o que a gente conseguiu em outras bandas. Espero que a gente continue assim a vida inteira”

Wikimetal (Nando Machado): Estamos começando mais um episódio inédito do Wikimetal, sensacional aqui com o meu amigo Daniel Dystyler, Rafael Masini e uma presença ilustre aqui, um dos maiores, se não o maior baixista de rock ‘n’ roll, de hard rock do Brasil, o senhor Andria Busic. E aí Andria?

Andria Busic: Tudo Bem?

Wikimetal (Rafael Masini): Nós vamos começar esse programa já com uma promessa… Nós vamos gravar hoje com o Andria, mas a gente tem que fazer uma parte dois, junto com o Edu e com o Ivan né?

Wikimetal (Daniel Dystyler): O especial Dr. Sin vai ter que rolar depois…

AB: Com o Edu é indispensável né? Ele fala umas coisas que são pérolas né?

W (DD): Então tem que rolar né Andria? E foi muito bacana… A gente tá no estúdio do Dr. Sin, né?

W (RM): É isso aí…

W (DD): Uma estrutura sensacional, muito legal. A gente até olhou o tamanho da bateria do Ivan ali, dá até preguiça de pensar em fazer um show ao vivo, e montar e desmontar essas coisas hein?

AB: Eu tô com uns problemas… Acabei de botar a bateria lá pra cima, tem umas cinco baterias aqui, tá louco!

W (DD): Cinco baterias, quinze amplificadores, doze guitarras e baixos. Muito legal, muito bacana a estrutura.

W (NM): Bom, começando a entrevista aqui com o Andria, a gente tava presente no primeiro show do Platina, em 1985, no dia oito de Abril ,que coincidentemente, a abertura desse show foi do Viper.

W (DD): O primeiro show do Viper.

W (NM): Primeiro show do Viper também, no Teatro Lira Paulistana, o extinto Teatro Lira Paulistana. Bom, e no começo da carreira do Platina, foi o seu primeiro show esse do Lira?

AB: Foi… Não. Tivemos acho que alguns shows, uns cinco ou seis shows antes do Lira. Nem era Platina na época, era Prisma, o Ivan cantava, era uma bagunça do caramba.

W (NM): Eu lembro de uma história muito engraçada de um outro show que a gente foi, no Teatro do Colégio Zuleika de Barros, que…

AB: É, esse aí era Platina mesmo.

W (NM): Era Platina né? O Viper abriu também. E aí eu lembro que no BIS do Platina o Daril Parisi, que era o guitarrista e também cantava no Platina, falou assim “Agora a gente vai tocar o que vocês quiserem. Vocês podem escolher o que vocês quiserem”. A galera toda, meu “Deep Purple, Deep Purple”, “Eu ouvi Scorpions, eu ouvi Scorpions?” Você lembra disso, não?

AB: Tem coisas que é melhor não falar.

W (RM): Andria, além das perguntas, no nosso Podcast rola muito som. E aí a gente tem uma pergunta clássica, que todo mundo responde, e é de sopetão mesmo, que é… Qual música vem na cabeça de cara se eu te perguntar: hoje em dia você tá no trânsito, no metrô, tá no chuveiro, onde quer que ela toque, vai fazer com que você comece a bater cabeça, que sobe a adrenalina. Que música é essa que te tira do sério aonde é que você estiver?

AB: Tem que ser uma só?

W (RM): Essa é a grande dificuldade. A gente sempre tem um setlist, mas a primeira…

W (NM): A gente vai ouvir ela agora.

W (RM): A gente vai ouvir ela agora. Você já pede, já anuncia, que ela vai tocar.

AB: Back In Black!

W (DD): Bom, voltando de Back In Black, rolou versão ao vivo né? Porque a Amy Lee do Evanescence tinha pedido Back In Black, e bateu o gosto com você, bem legal.

W (NM): Bom, eu lembro uma vez Andria, eu tava acho que em Campos do Jordão, devia ser 87, por aí. E eu andando na rua, comecei a ouvir um som rolando ao vivo, e vi você e o Ivan tocando Jazz com o seu pai. E eu lembro que era muito legal o som que vocês faziam. Era um Jazz assim, bem tradicional. Jazz assim… Estilo New Orleans. Qual a importância do seu pai como músico, como inspiração pra vocês?

AB: Foi totalmente, inspiração totalmente do meu pai, né? Porque a gente começou a ouvir música com o meu pai, né? E a tendência toda de ser músico, gostar da vida de músico veio dele né? Então a gente começou ouvindo Jazz, Blues, tudo mais tradicional, né? E aí ele mesmo apresentou o Rock pra gente. Então uma coisa que a inspiração de… A vida de músico a gente quis por causa do meu pai.

W (DD): A semente começou com ele.

AB: A semente. E até hoje a gente se encontra, faz um som às vezes.

W (NM): E ele tá na ativa ainda?

AB: Tá na ativa. Gravei um disco com ele, eu produzi um dele, da Andria Busic. E ficou muito bonito, foi lançado pela Unimar. Tá por aí, tá vendendo.

W (NM): E vocês tocam juntos ainda, não?

AB: Às vezes a gente toca. É que tocar na noite é uma coisa ingrata, então a gente meio que abdicou dessa vida. Então, pela falta de respeito dos donos de casa, né? Não pagam nada para os músicos. Então quando eu toco com o meu pai, é mais para diversão mesmo. É uma coisa assim… A gente sai pra curtir, jantar, tocar. Então virou um hobby.

W (DD): Legal. E além de estar naquela noite de Abril de 85 assistindo o primeiro, um dos primeiros show do Platina, eu também tava em 93, em janeiro de 93, no Hollywood Rock, se não me engano é na mesma noite que tocou Nirvana.

AB: Foi isso mesmo. L7 também.

W (DD): Isso! L7, Nirvana e vocês.

AB: E Alice In Chains? Não, Alice In Chains foi em outro.

W (DD): Foi no outro é. Bom, e junto com esse Hollywood Rock teve o Monsters, que vocês participaram, teve o negócio do M2000…

AB: Isso.

Não existem mais bandas que fazem sucesso de um jeito que você saiba quem é o baixista, quem é o guitarrista, o que ele faz”

W (DD): Eu queria que você falasse um pouco da lembrança desses shows, dessa época. E qual que você acha que foi o ponto alto da carreira de vocês até agora?

AB: Ponto alto acho que foi… é difícil falar um ponto alto, mas o que a gente mas assim curtiu, por ser uma coisa diferente, logo no começo da banda, foi o Hollywood Rock né?

W (DD): Que foi essa noite bem especial né?

AB: Foi uma noite especial. Foram duas noites né? Uma em São Paulo e outra no Rio, então foram coisas inesquecíveis pra gente.

W (DD): E você lembra de alguma coisa peculiar dessa noite? Ou do Nirvana, ou de vocês, ou do show?

AB: Lembro de várias coisas, mas uma coisa que me chamou mais atenção foi em outro festival. Foi no M2000, quando a gente tocou em Santos, acho que tinha umas 100 mil pessoas na Praia.

W (DD): Que era um show aberto na Praia, né?

AB: Nossa, foi maravilhoso. E aí eu pude passar a noite com o Billy Sheehan né? Com o pessoal do Mr. Big. Eles são muito legais, e o Billy Sheehan é um cara fantástico, e um gênio que não vai ter outro no baixo. Podem tentar, ninguém vai chegar no que ele toca.

W (DD): E por coincidência eu ouvi uma entrevista do Billy Sheehan esses dias, e ele parece ser um cara muito simples, muito bacana.

AB: Ele é muito simples. Muito mesmo.

W (DD): Eu lembro que ele falou um negócio engraçado nessa entrevista, que ele falou assim… Que o baixo é um instrumento muito legal, que ele falou assim que é o primeiro instrumento que você fala assim “você pega um dedo da sua mão esquerda, um dedo da sua mão direita e você já consegue toca alguma coisa. Claro que para levar isso para um outro nível, depois você precisa muitos anos de estudo”.

AB: Ele faz o baixo virar uma coisa que nem guitarrista toca entendeu? Então é uma coisa de louco mesmo.

W (NM): O Billy Sheehan é o seu baixista número um, se você tivesse que escolher um?

AB: Número um mesmo é o Geddy Lee.

W (NM): Geddy Lee?

AB: Assim… Mas rachando com Billy Sheehan porque são dois estilos diferentes, né? Um toca na velocidade da luz, e o outro toca o baixo que é um sonho né? Então eu amo do mesmo jeito os dois.

W (DD): Legal.

W (RM): A gente que acompanha as bandas, a gente não precisa mais negar a nossa idade que todo mundo já conhece, mas desde lá de criança, dos anos 80… E a gente viu muita banda, eu particularmente trabalhei no Black Jack, eu vi muita banda se formar, e muita banda acabar, né? E a questão é: Qual o segredo, por exemplo, do Dr. Sin está junto há muito tempo, um power trio ali… Qual o segredo pra manter o grupo junto e produzindo? Não é “que demos um tempo”, não! É produzindo, é trabalhando. Qual o segredo?

AB: Primeira coisa antes de qualquer coisa é, antes de mais nada tem que ter muito respeito um com o outro, né? Muito respeito. Respeitar o espaço de cada um, e amar o que você faz, amar a banda, amar os seus parceiros, você ter um companheirismo de irmão mesmo né? Que é o que a gente tem. É até difícil você ver isso em outras bandas, o que a gente conseguiu né? Espero que a gente continue assim a vida inteira, porque é uma coisa, além de tudo de amor e respeito mesmo, é o que a gente tem um pelo outro.

W (NM): Bom, o Dr. Sin é conhecido por tem uma das melhores cozinhas do Brasil, né? Como é pra você tocar com o seu irmão por tantos anos, e qual é o segredo para uma banda ter uma cozinha coesa, e qual é a dica que você daria para uma banda manter baixo e bateria tão coesos?

AB: Acho que mais assim… Ficar tocando junto muito tempo, né? Você acaba pegando até quando alguém tá errando você tá errando junto para fazer aquilo virar uma parte de um arranjo, né? É mais a convivência mesmo. Saber o que o outro tá tocando. Tocar bastante tempo junto eu acho que é o principal, né?

W (NM): Vocês fazem, antes de gravar um disco, ensaios, vários ensaios só baixo e bateria?

AB: Ultimamente a gente nem tá fazendo isso não. Mas devíamos até fazer mais.

W (NM): Já fizeram?

AB: Já fizemos bastante.

W (DD): Mas também chega em um nível de entrosamento que as vezes também nem precise fazer tanto.

AB: É, às vezes acho que pode até atrapalhar, de repente. Quando você chega em um certo nível, acho que se você ficar…

W (DD): Perder a naturalidade.

AB: É, fica uma coisa meio falsa. Que é o que acontece com muita banda, né? Que acaba soando até como outras bandas. Perde a identidade.

W (DD): Legal. Vocês gravaram há pouco tempo atrás um álbum só de covers, o Doctor. Queria saber com que nasceu essa ideia, e se foi difícil escolher as músicas. Como é que foi a seleção?

AB: A ideia veio. O Ivan tava acho que no carro ouvindo um monte de músicas, e de repente deu duas ou três músicas que tinha doctor no nome, e ele parou “Oh, três música com doctor, por quê que a gente não faz um disco só com as músicas, com os títulos de Doctor né? E aí ele me ligou, a gente começou a pensar nas músicas, vieram algumas na cabeça, algumas outras a gente teve que procurar, porque não é tão fácil assim, né? E foi uma coisa assim… A gente não fez arranjos. Chegou no estúdio, a gente pegava a música do jeito que ela era, botava uma carinha da gente e já gravava, né? Não era uma coisa tão estudada.

W (DD): Mas ficou muito legal, né?

AB: Ficou bacana.

W (RM): Até pegando esse gancho de “botar uma carinha da gente”. Bom, aqui, pelo menos em papos informais que a gente tem, e a gente não tem vergonha nenhuma de confessar as coisas, a gente acha o Dr. Sin a melhor banda de hard rock de todos os tempos brasileira. Em todas as fases, de qualidade musical, de composição, a gente gosta muito, né? E aí, o que eu queria perguntar em cima disso, é: Como que vocês conseguiram sobreviver nesse tempo às mudanças de mercado, eu digo, desde a parte ruim, pirataria, compartilhar música na internet, a também a modismo de gravadora, de estilos que querem. Como que o Dr. Sin superou, lutou e trabalha em cima desses aspectos?

AB: A gente nada contra a maré desde o começo, né? E vai continuar nadando contra a maré até o fim da vida, fazendo o que a gente gosta. O segredo é fazer o que você gosta. Sem ligar se o que tá fazendo sucesso é Michel Teló, que inclusive eu quero que ele se foda, porque eu não aguento mais ouvir aquela merda. Assim, tudo que a gente faz é não pensar no que tá fazendo sucesso, em que tipo de som vai ser o da moda. Muito pelo contrário, a gente vai fazer o que tá… No nosso estúdio, e quem gostar, vai gostar do que a gente faz.

W (DD): E sempre vai ter gente que vai gostar né?

W (RM): E com Internet?

AB: Assim, falar da mídia hoje em dia… A mídia faliu, né? Porque você lança um disco, no mesmo dia tá no teu facebook tá assim: baixem Dr. Sin de graça. É muita cara de pau, né? E você vai fazer o que? Não tem o que fazer, você tem que se adequar, levar os CDs no show para vender, inclusive tá vendendo bem nos shows, né? Mas acho que lojas assim, tão acabando, né?

W (NM): É. Uma coisa que a gente sempre fala no nosso programa e que…

AB: E a música banalizou. Porque todo mundo baixa e não escuta.

W (DD): Não dá tempo de ouvir tudo o que você baixa.

AB: É. Baixam milhões de músicas e acabam não ouvindo.

W (DD): É. A gente sempre tenta entrar com outro viés para os nossos ouvintes. A gente fala assim: Ninguém… Todo esse mercado, desde o pessoal que é músico, o pessoal que trabalha em volta disso aí, ninguém vai ficar trabalhando, se dedicando sua vida sem ganhar dinheiro, porque se não vão ter que fazer uma outra coisa em paralelo. Então, se você quer que essas bandas se perpetuem, que elas continuem e tudo mais, o único jeito é você prestigiar essa banda. Como você prestigia essa banda? Indo no show, comprando o CD, comprando a camiseta, fazendo tudo isso. Porque se não, não vai continuar.

AB: Vai acabar. Vai ter uma hora que não vai ter como se sustentar.

W (DD): É esse o viés que a gente sempre tenta dar para o nosso programa.

W (RM): É. Pode ser uma coisa saudosista, mas por exemplo, eu tenho esse último CD de vocês. A coisa de desde você abrir, e pegar o encarte…

AB: Mas é uma coisa que nós curtimos. A molecada de hoje não sabe o que é esperar lançar um disco como a gente esperava lançar. Tinha um lançamento, a gente ficava “Puta, quem será que vai trazer primeiro?”. Ou aí a gente ia lá com fita cassete, copiava, pra poder depois comprar o disco porque não tinha. Aí começava a ouvir o disco, ficava olhando a capa, curtindo cada centímetro da capa.

W (RM): É. Procurando o símbolo do Iron, tirando risco do Eddie, sei lá.

AB: Pois é, não existe mais isso. Pra nenhuma banda. Não existem mais bandas que fazem sucesso de um jeito que você saiba quem é o baixista, quem é o guitarrista, o que ele faz, sabe, não existe.

W (NM): Quem fez tal música, quem fez.

AB: São os antigos mesmo. São os nossos ídolos, que quando eles se forem, vai acabar.

W (DD): Às vezes nem o nome da música, né? O Pessoal fala assim “a música três”.

AB: Sabe nada. Vai durar um mês, e depois ninguém vai lembrar quem é a banda.

W (DD): Mas o público do Metal, do hard rock, tal… Talvez preserve um pouco mais isso, né?

AB: Ainda guarda isso. O único que ainda guarda, porque eles mantém essa… Uma tradição até né?

W (DD): É isso mesmo. Legal.

W (DD): Bom, então agora Nando, você vai pedir pro Andria escolher uma música, e só pegando o gancho que o Rafael acabou de falar que ele gostou muito do disco como todos nós né? A vinheta, a gente nem comentou, é a faixa título do último disco do Dr. Sin, Animal. Muito bacana, o som demais né?

AB: Valeu, obrigado!

Se você é músico, tem que aprender a tocar pelo menos um pouquinho de tudo. E ouvir, e respeitar.”

W (NM): E Andria, agora… Você escolheu uma música que te tira do sério, agora escolhe uma música que vocês fizeram, que você realmente sente orgulho de ter feito.

AB: Nunca parei pra pensar nisso.

W (DD): Agora é o momento.

W (RM): Momento de reflexão.

AB: Nossa, difícil escolher uma.

W (RM): O bom é quando é assim, tem muitas pra se orgulhar. O duro é quando o cara não acha, e fica cavando porque não tem.

AB: Uma que eu fiquei orgulhoso, até porque pelo jeito que eu gravei, e ficou uma música que eu não esperava, foi Emotional Catastrophe, que eu tinha quebrado o dedão, e toquei sem encostar o dedão.

W (RM): Nossa, sem o apoio.

W (NM): Emotional Catastrophe.

W (DD): Muito legal. Música de clipe né?

W (NM): O single do primeiro disco né?

AB: É. Foi uma música que marcou, então acho que teria que ser essa.

W (DD): Legal. Emotional Catastrophe.

W (RM): Eu sou um cara que sou fã desse disco, inclusive na entrevista com o Lars eu pedi. Do disco do Metallica com a orquestra sinfônica. Acho que é um casamento que muito lá atrás talvez não se imaginasse, mas que eu acho que depois muitas bandas fizeram. E eu e minha esposa, a gente por dois anos foi assinante da Sala São Paulo, que é outro lugar que é de arrepiar. Você entra ali, pode não ter nada no palco, já é maravilhoso. Eu queria que você falasse de como foi o Dr. Sin, a experiência de tocar na Sala São Paulo, desde quando vocês foram convidados, o projeto, o que passa na cabeça quando você sobe naquela palco?

AB: É como você falou, é um sonho, né? Quando você sobe em um lugar daquele tocando com músicos que realmente, músicos mesmo de orquestra, são pessoas… Além de tudo eles são pessoas maravilhosas, foi tudo muito bom, parece até que foi um sonho aquela época toda. Então, a gente curtiu desde a época dos ensaios até quando eu fui fazer o show. Foi até engraçado, que no dia do show a gente tinha até que prestar muita atenção na música pra não deixar aquela emoção…

W (DD): Tomar conta.

AB: Tomar conta, porque acabavam as lágrimas vindo e entupiam um pouquinho a voz, então atrapalhava. É muita emoção você tocar em um lugar desse, com aqueles arranjos, e com a orquestra, então… É indescritível né?

W (RM): Tem alguma ideia se pode se repetir esse projeto? Porque a grande questão é que os ingressos. Você tinha que ir armado tentar conseguir, porque foi…

AB: Foi esgotado. Foram duas vezes na Sala São Paulo e uma vez em Campos do Jordão, também foi muito bonito. A gente fechou o festival de inverno lá. Se fizerem de novo eu vou adorar fazer. Eu gostaria muito de sempre estar fazendo isso aí, porque é muito gostoso fazer.

W (NM): Bom Andria, você como um grande músico, a gente já conversou com vários músicos assim, de alto nível, desde Zakk Wylde até Andreas Kisser, e todos os grande músicos acho que chegam a um consenso e dizem que ouvem vários estilos de música, e tal. Você que começou tocando Jazz, quer dizer, por influência do seu pai. Qual a importância para um músico não ter preconceito com outros estilos?

AB: Se ele tiver preconceito, pra começar ele não vai aprender muita coisa que ele poderia estar aprendendo em outros tipos de música. Ele pode até não tocar, não gostar, mas ele tem que saber fazer. Principalmente se quiser viver de música, né? Que se não ele fica um cara limitado ao que ele faz no mundo que ele gosta. Por exemplo, a gente tem que gravar muita coisa na… Produzir, gravar. Já fiz de tudo na minha vida e vou fazer muito mais, né? Quando um cara vem e pede pra gravar samba você tem que saber tocar samba, você não pode ser um bossal no samba, senão você não pode nem se considerar um músico também, né? Então, assim, posso escolher não tocar muito samba, mas eu tenho que saber tocar. Então, se você é músico, tem que aprender a tocar pelo menos um pouquinho de tudo, né? E ouvir, e respeitar, né? Tem estilos que não tem coisa boa mesmo, mas você tem que saber extrair o que é de bom nesse estilo. Alguma coisa você sempre vai aprender que você não sabia fazer antes. Isso é regra. Então, você tem que saber ouvir e saber extrair o que é de bom pra você usar no seu mundo, entendeu? No que você gosta, você tem que… Ou pelo menos aprender a tocar, entendeu? E respeitar quem faz o que gosta? Porque às vezes você não gosta, mas o cara faz aquilo e adora, né? Azar é dele, né?

W (DD): A gente vai ouvir agora a última música aqui do episódio, eu queria que você escolhesse, mas eu vou deixar… Como você já escolheu livremente as outras músicas, essa eu vou deixar bem fechada, porque na verdade são… Não sei se são as minhas dúvidas preferidas do Dr. Sin, mas possivelmente estão entre as TOP 5 que eu mais gosto, que é Fire e Zero.

AB: Fire e Zero.

W (DD): Que a gente vai ouvir?

AB: Bom, uma dessas?

W (DD): Uma dessas. Se der tempo a gente rola as duas.

AB: Toca Fire aí pra molecada, toca fogo.

W (RM): Voltamos de Fire.

AB: Uma das mais pedidas, né? Fire é o que a gente tem que tocar em todo show. Zero a gente não toca em todo show, mas estão sempre pedindo, né? Acho muito boa. As duas músicas são muito boas e tem dois estilos meio diferentes, uma puxa pro lado irlandês e a outra é um Metal Rainbow.

W (RM): 2012 se não me engano, 20 anos de Dr. Sin.

AB: The world is gonna end.

W (DD): Além do mundo acabar.

W (NM): Antes do mundo acabar.

AB: A gente fez 20 anos de banda antes do mundo acabar, tá vendo.

W (RM): O que a gente pode esperar pra esse ano?

AB: A gente vai fazer um DVD de 20 anos, é de dez em dez pelo menos a gente lança um DVD.

W (RM): Ah legal.

AB: Então a gente vai gravar um DVD esse ano e vai ter parte, vai ter bastante coisa diferente, vai ter uma parte meio acústica e uma parte instrumental como a gente sempre faz mais ao vivão, umas músicas bem diferentes do primeiro DVD né? Pra não ficar sempre o mesmo repertório.

W (RM): O lançamento é previsto pra quando?

AB: A gente vai até abrir uma enquete depois pra ver quem… pro pessoal escolher as músicas. As mais pedidas vão entrar no DVD.

W (DD): Olha que legal, pessoal do Wikimetal então fica ligado aí nessa enquete, que vai poder influenciar inclusive que músicas vão entrar no DVD.

W (NM): Você já falou dessa música, e até foi a sua escolhida, Emotional Catastrophe. Eu lembro muito bem a primeira vez que eu vi esse vídeo na MTV, que eu vi essa música nos anos 1990, e eu nunca tinha ouvido uma banda brasileira tão bem produzida. Eu sei que vocês na época tiveram uma experiência bem interessante, foram morar nos Estados Unidos, gravaram lá fora. Queria que você contasse como foi essa experiência na época.

AB: A gente quando decidiu fazer a banda, já fez a mala também. Aí fomos para Nova York, ficamos lá tocando um tempinho. Já fizemos bastante show na noite em Nova York, já tinha até um following lá, um pessoal já indo atrás, e foi nesses shows aí que o pessoal da Warner, que a gente tinha deixado a fita, inacreditavelmente foi no show e ligou pra gente no outro dia, depois do show, falando que teve no show, e que gostou, e que queria assinar. Lembro até que quando ele ligou a gente zoou, né?

W (DD): Achou que era trote?

AB: Achei. O cara falou “sou da Warner, quero assinar a banda” e eu falei “Ok”, e desliguei o telefone.

W (NM): Sério?

AB: “Por quê você fez isso?”, Idiota né. Ai o cara ligou de novo, minha sorte. Aí ele atendeu, meu irmão, e falou “É verdade, não desliga, vamos marcar uma reunião”. A gente foi na reunião, e aí no dia da reunião ainda o Ivan tava com o dente ruim, virou uma bola de basquete a cara dele, a gente teve que desmarcar, e o cara achou que a gente tava esnobando, acho. Aí marcamos pra outra semana, e acabou rolando muito rápido, né? Pra gente ir lá nos Estados Unidos. Foi tudo assim uma coisa bem… a gente estruturou nossa cabeça pra fazer aquilo, parece que foi tão centralizado, que tudo começou a rodar muito certo. Infelizmente não deu mais certo lá fora porque foi bem na época que o grunge entrou… Então ele cortou tudo quanto é banda que tava vindo nos anos 80, 90. Todas as bandas desse estilo caíram, ficou só o grunge e o Nirvana, né? Todo mundo tinha que soar que nem o Nirvana, sei lá, ou no máximo um Pearl Jam, senão não rolava.

Lembro que quando deu o primeiro arranhão no baixo eu chorava, “Puts, arranhou o meu baixo”, mas aí depois desandou”

W (NM): Mas ai vocês tinham um contrato Worldwide?

AB: É, a gente até foi bem. Eu lembro que a gente foi muito bem, tava em primeiro nas Filipinas, em um monte de lugar, nossa que a gente nem sabia, né?

W (NM): E os caras terminaram o contrato, de uma hora pra outra?

AB: É, mudou todo mundo da gravadora. Simplesmente não sobrou ninguém da gravadora, então a gente não tinha mais contato, nem com que falar direito.

W (NM): Vocês ficaram quanto tempo nos Estados Unidos nessa época?

AB: A gente ficou quase um ano, oito meses. A gente ia, voltava nessa época. A gente foi na vida inteira, mais de cinquenta vezes para os Estados Unidos, então era ia, voltava, e voltava. Faz tempo que a gente não vai pra lá pros Estados Unidos. A gente tem ido mais para a Europa, pra outros lugares. Mas agora a gente tá pensando em voltar pra lá, mas é que mudou muito a cena nos Estados Unidos. Você vai lá nas casas, as casas de rock ainda existem…

W (DD): E o mercado é grande né?

AB: O grande lá é realmente a cena de Hip Hop, essas coisas, Rap.

W (DD): Aí é popular mesmo. Mas eu digo, como o mercado é muito grande, mesmo com percentual menor…

AB: Ah, o rock ‘n’ roll … O samba do americano é o rock ‘n’ roll, então você nunca vai deixar de ter as bandas boas tocando por lá, e fazendo a turnê nos Estados Unidos inteiro, então isso é uma coisa maravilhosa nos Estados Unidos que nunca vai morrer.

W (DD): A minha filha, ela tem treze anos, o nome aqui tatuado com as letras do Iron Maiden, Amanda, ela faz um mês, dois meses, começou a ter aula de baixo. E eu queria que você falasse um pouco o que você falaria para uma menina, para um menino de treze, quatorze anos, que tá pensando em começar a tocar baixo, pensando em montar uma banda né? Que conselho você daria?

AB: Fazer com muito amor, com muita vontade, tocar o que tem vontade e de coração, e não ser uma coisa assim só pra ser a moda, ou porque tem alguém da moda que toca. Pra fazer uma coisa que seja uma coisa que venha do coração mesmo. Aí nunca vai morrer, e você vai se dar bem fazendo o que você faz.

W (NM): A gente fez a mesma pergunta para o Ian Gillan e a resposta dele foi bem parecida.

W (DD): E a do Mark Farner também.

W (NM): É, exatamente. Bom, eu soube há pouco tem que agora você é patrocinado pela Yamaha, que tem instrumentos excelentes, e tal. Como é que você vai fazer com o seu baixo Gibson e conta um pouco essa história de amor entre você e esse baixo, que não sei…

W (DD): Que perdura há anos.

W (NM): Vem de lá do comecinho…

AB: É uma coisa especial, né? Eu até encostei, só uso em gravação, pra show não levo mais porque se quebrar não vou ter outro.

W (NM): E o som dele, você não achou nada igual até hoje?

AB: É imbatível. É uma coisa… É só botar no máximo, os dois botõezinhos lá e já ta no som. Impressionante, mas inclusive o Liminha queria pegar esse baixo e me dar dois… Um Ken Smith e mais outro lá, eu falei “Não”.

W (NM): Mas conta aí, desde quando você tem ele, quando ele apareceu?

AB: Foi em 81, meu pai trouxe de uma viagem que ele tava fazendo de navio, eu tava começando a tocar e pedi um baixo, né? Eu pedi pra ele trazer um Fender, que era o que eu conhecia mais na época. E aí ele trouxe para mim, como eu era fã do Kiss, quando eu vi que era o baixo do Gene Simmons, do Alive One, eu falei “Não acredito, ele trouxe o baixo do Genne Simmons”. Eu e o Ivan ficamos enlouquecidos. Lembro que quando deu o primeiro arranhão no baixo eu chorava, “Puta, arranhou o meu baixo”, mas aí depois desandou.

W (NM): E é um baixo assim, ele deve ter te ajudado porque ele não é um baixo tão fácil pra se tocar né?

AB: Ele é, até o braço é um pouquinho mais grosso, mas é que pra mim eu acostumei tanto nele que…

W (NM): Ajudou até.

AB: Na manteiga.

W (NM): Então vamo falar do Animal, que foi lançado pela Laser Company né? Como foi a repercussão? Como foi a gravação, as composições? E a repercussão dele? Eu particularmente gosto muito, acho um nome redundante, o disco é animal, entendeu? Eu explico, porque eles não entendem… Eu achei o disco Animal.

W (DD): Explica de novo. Qual a piada?

AB: A gente tava ouvindo aqui, toda vez que a gente ouvia “ficou animal, ficou animal”, aí ouvindo essas coisas eu falei “Pô, todo mundo fala a mesma coisa, eu vou falar um nome, o disco tem que ser Animal”. Aí todo mundo gostou da ideia e ficou.

W (DD): E ele ainda soa bem em inglês, soa bem em português.

AB: É, Animal… whatever.

W (NM): E você falou que ele tá vendendo nos shows, ela tá sendo bem recebido?

AB: Tá sendo muito bem recebido, principalmente nos shows né? Em lojas hoje em dia não funciona muito mais, não tem aquela procura. Em lojas você vai comprar dá até desgosto ver o que tem na prateleira.

W (DD): O Bravo tinha sido comercialmente o maior sucesso do Dr. Sin, não?

AB: Não, acho que foi o primeiro CD.

W (DD): O primeiro CD? Ah, legal.

W (NM): E fala um pouco Andria, quem quiser entrar em contato com o Dr. Sin. O Dr. Sin tem um estúdio, o Andria produtor, o Ivan dá aula, se não me engano no Souza Lima, o Edu também da aula, faz workshop. Como é que faz pra quem quiser ter aula ou contratar você como produtor, ou gravar no seu estúdio?

AB: Quem quiser produção no Sonata, aqui no estúdio, e minha produção também ou gravação e produção é só entrar no Facebook tem o estúdio Sonata 84 e também tem o meu Facebook Andria Busic, é só entrar lá e entrar em contato que a gente responde e vê o que…

W (NM): Pode ser feito, se tem jeito ou não.

W (DD): WikiBrothers e WikiSisters então o jeito mais fácil é via Facebook Andria Busic, lá no Facebook lá vai ter…

AB: Nós ainda estamos bolando um site do estúdio, mas mesmo assim vai tar interligado com o Facebook.

W (DD): E de qualquer jeito entrando em contato com você aí depois você consegue destrinchar se quiser aula, se quiser gravação, workshop, outras coisas…

AB: Tranquilamente. Aula com o Ivan é no Souza Lima que ele dá aula, o Eduzinho tanto no Souza quanto no IG&T, lá no EM&T.

W (DD): No Jabaquara ali?

AB: No Jabaquara.

W (MN): E Dr. Sin, shows?

AB: Tá rolando bastante show, infelizmente eu nunca sei aonde são os shows, nem quando, nem no dia do show acerto o lugar. Às vezes ainda apresento a fala da cidade errada.

W (DD): Muitos foras desse já?

AB: Puts, alguns. Mas o pessoal nem liga, ainda bem.

W (NM): Eu lembrei de perguntar uma coisa pro Andria. A gente falou muito dele como baixista, mas como vocal, quais são suas maiores influências?

AB: A maior de todas é Led Zeppelin, Deep Purple, o próprio Mark Farner, muita coisa fiquei tentando dele. São os anos 70 com certeza, as bandas dos anos 70…

W (DD): Robert Plant, Gillan.

AB: Queen, Rush.

W (DD): Geddy Lee como baixista e vocal.

AB: Então são essas as influências tanto do vocal como no baixo também.

W (DD): Excelente.

W (NM): Fica aqui a promessa, a parte dois desse programa vai ter a participação de Eduardo Ardanuy e Ivan Busic.

W (DD): É isso aí, porque o que tem de sons legais na história do Dr. Sin pra gente rolar, na história do Platina…

W (NM): Platina, Cherokee, Ultraje a Rigor, Supla, Taffo… O que mais?

W (RM): A Chave, que o Edu tocou.

W (NM): O Ivan.

AB: O Edu também.

W (NM): O Edu também tocou na A Chave? E fora isso depois, Taffo era Ivan e Andria.

AB: O Supla também era o Edu também.

W (RM): Puta dá pra fazer sons menos Dr. Sin.

AB: Até o Eduardo Araujo a gente gravou.

W (DD): Você tá falando das coisas do passado, num episódio do Celso Barbieri rolou Love Ain’t No Stranger com Platina ao vivo.

AB: É mesmo?

W (NM): Com Sheman no vocal.

W (DD): Com Sheman no vocal.

W (RM): Ele que tinha né?

W (DD): É, ele que tinha.

W (NM): Sesc Pompéia, Metal Rock & Cia.

W (DD): Direto dos arquivos do Celso Barbieri. Histórico.

AB: Que loucura. Engraçado.

W (NM): Bom, é isso aí Andria, muito obrigado pela sua entrevista, pelo seu tempo. E foi um grande prazer falar aqui com você. E tudo de bom pro Dr. Sin, pra vocês, grandes amigos aqui. A gente torce pra vocês estarem sempre bem.

W (DD): E o que precisar do Wikimetal, a gente sempre vai estar com as portas abertas.

AB: Maravilha.

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Categorias: Entrevistas

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