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AVATAR. Créditos: Johan Carlén

Entrevista: AVATAR fala sobre álbum mais recente e planos de retornar ao Brasil

Banda sueca promove novo álbum ‘Don’t Go in the Forest’ e fala dos fãs e vontade de fazer turnê pelo país

Os visionários do heavy metal conhecidos coletivamente como AVATAR lançaram sua mais nova obra-prima, Don’t Go in the Forest, na simbólica data de 31 de outubro. O crescimento e o impulso do Avatar só aumentaram nos últimos anos desde que banda abriu os shows do Iron Maiden e com o lançamento do aclamado álbum Dance Devil Dance (2023). Após o novo disco, o grupo vai passar um bom tempo na estrada, com turnês planejadas para os próximos dois anos.

Em uma conversa com o Wikimetal, o vocalista Johannes Eckerström e o baixista Henrik Sandelin falaram sobre o novo álbum, turnês com Iron Maiden e vinda ao Brasil.

Wikimetal: Don’t Go in the Forest apresenta um conceito sombrio e quase folclórico. Houve algum ‘medo de infância’ ou lenda pessoal que mais influenciou a escrita desse disco? O que essa floresta metafórica representa para vocês?

Johannes Eckerström: Eu não diria que houve um evento específico em si, mas provavelmente foram mil eventos, ou simplesmente isso, um certo sentimento em relação a medos ou ao enfrentamento de medos. Em vez disso, eu diria sobre usar a força como um tema recorrente, como este lugar mágico, sombrio, proibido e tudo mais. Acho que isso surgiu quando percebi que muitas letras deste álbum e de muitos álbuns anteriores têm muito a ver com água. Nós crescemos na costa oeste, então o oceano está bem ali, há lagos por toda parte e estamos cercados por árvores.

Todo mundo cresceu com um alce entrando no quintal, comendo maçãs, ficando bêbado e preso no balanço. Nós vivemos basicamente na floresta, se você for sueco. Então, quando você cresce, quando volta para casa à noite ou algo assim, seja o que for, é um lugar para entrar. Você se perde nela. A floresta pode significar muitas coisas. Como eu disse, em relação a este álbum, há algo sobre medo, talvez até mais sobre tabus e a ideia de “não faça isso”, “não vá”, “não tenha o pensamento proibido” ou algo do tipo. Existem muitos tabus que devem ser quebrados para o nosso próprio bem, que nos impedem de avançar, ou tabus que impomos a nós mesmos por causa de quê? Pressão externa.

Então, algo que é considerado proibido para você, algo que você deve confrontar, e essa linha de pensamento, essas imagens pintadas, vêm de múltiplas experiências, e não de uma só. E, falando superficialmente, a música “Magic Lantern” definitivamente tem essa camada onírica da infância, e há fragmentos de memórias nela. Mas isso é, novamente, mais o estado de ser do que um evento muito específico. É mais sobre a memória que se desvanece como uma ideia. E então, qual memória específica estava se desvanecendo e que eu estava tentando lembrar, se é que isso faz sentido.

WM: O balão vermelho na capa e a temática do disco me fizeram pensar em “IT”, de Stephen King. A obra dele serviu de inspiração para vocês de alguma forma?

Claramente, de certa forma. Mas, honestamente, eu… Pessoalmente, quando começamos a trabalhar com “O Balão”, esqueci completamente de Stephen King por algumas semanas. E aí, quando fizemos alguém disse: “Ah, Pennywise”, eu pensei: “Claro, por que não?”. Mas não sei, no que diz respeito a Stephen King… 

E minha versão favorita de qualquer coisa de Stephen King é aquela dirigida por Stanley Kubrick [ referindo-se ao filme O Iluminado]. Acho que Jonas [Jarlsby, guitarrista do AVATAR] leu vários livros de Stephen King, embora ele não tenha escrito nenhuma letra. Mas toda essa coisa de ser um palhaço… O que isso pode significar e por que é tão… Por que continua funcionando para nós, por que continuamos fazendo isso? Porque AVATAR é um circo de metal, e porque há tantas coisas que um palhaço pode ser. 

Quando criança, eu nunca tive medo de palhaços. Eu achava palhaços engraçados. Torta na cara. Esse é o meu palhaço, sabe? Mas aí tem o Pennywise e tudo o que há entre eles. Tem algo que as crianças adoram, e algo que as pessoas temem. E isso também tem esse mistério porque é alguém parcialmente mascarado. E parte disso… O circo itinerante, o carnaval, a sociedade secreta e tudo mais. E também o engraçado e o bobo. 

Então, o palhaço tem tantas camadas, ou como você quiser chamar, assim como AVATAR, que temos esse lado muito sério e sincero. E… Bem, é sempre sincero, mas às vezes também não se leva nada a sério. E todas essas coisas estão acontecendo ao mesmo tempo conosco.

WM:  Se esse álbum virasse um filme, qual diretor vocês escolheriam para transformá-lo em cinema e por quê?

HS: Bem, não vai virar um filme, então… Mas acho que escolho o Johan Carlén. Talvez porque ele seja barato.

JE: Porque ele é barato. E porque David Lynch morreu. Não importa, honestamente. Acho que a resposta certa é que você quer o Johan Carlén, porque existe algo sobre relacionamentos de longo prazo em que, com o tempo, você desenvolve uma linguagem compartilhada, simplesmente pelo fato de termos crescido e aprendido tanto sobre música e sobre quem éramos como pessoas e tudo mais na banda. A maneira como falamos sobre música é a maneira como falamos sobre música na banda, e são pequenas sensibilidades que se desenvolveram ao longo dos anos.

O que as diferentes coisas significam, o significado das referências e tudo mais. E como ouvimos as coisas, tudo isso se torna muito interligado ao longo dos anos. E como estamos com Carlén desde Black Waltz [EP de 2012], a mesma coisa aconteceu em relação à criação de coisas para videoclipes e todas as outras coisas malucas que criamos com ele. Então, eu sinto que se fôssemos fazer um filme com AVATAR, seria muito cruel não tê-lo envolvido.

HS: Ele iria nos matar.

Turnês com o Iron Maiden

WM:  Depois de abrir shows para o Iron Maiden, o Avatar passou a ser visto por um público muito maior e mais diverso. Vocês sentem que essa exposição acelerou o crescimento da banda e influenciou diretamente a recepção ou a ambição de Don’t Go in the Forest?

Henrik Sandelin: Sim, eu acho que fazer turnê com bandas como o Iron Maiden sempre ajuda, desde que você não se saia muito mal. Então, acho que essa é a resposta, tocar para aquelas multidões. E os nossos fãs, obviamente, são muito dedicados, super fãs.

JE: Bem, eles tinham fãs muito dedicados. Fizemos uma turnê na Europa durante um mês. Mas essa também foi a primeira vez que fomos ao Brasil para abrir um show do Iron Maiden. E isso não é normal. Você não vai a um país pela primeira vez com o Iron Maiden. Quando fomos à Dinamarca pela primeira vez, chegamos em uma van e tocamos às 1h ou 2h da madrugada e eles só queriam ouvir músicas para beber… Esse foi o primeiro show em um país diferente, sabe? Então a experiência no Brasil foi muito rara, estranha e maravilhosa nesse sentido. E o nosso grupo nos proporcionou isso. E como foi a primeira vez que abrimos um show para o Iron Maiden, isso também foi enorme… Tanto para os fãs, quanto para as pessoas que cresceram ouvindo-os… Sim, toda a semana que passamos no Brasil foi surreal por causa disso.

HS: Especialmente para nós, que somos grandes fãs desde que éramos crianças. Tocar em arenas foi surreal.

WM:  Como vocês pretendem traduzir o clima ameaçador e misterioso da floresta para o palco? Há elementos cenográficos inéditos?

JE: Cada novo álbum significa roupas novas, sapatos novos, videoclipes novos e uma nova produção de palco. São várias coisas em movimento, e às vezes também tem o tempo. Mas às vezes há pequenas ideias que ficam guardadas. A parte mais misteriosa do show e a que tem mais atmosfera, acontece graças a um carrinho de controle remoto e um balão pendurado por um fio. Então, tem um monte de coisas envolvidas. E se a gente acertar na atmosfera… Bem, você tem que perguntar para quem já viu. Eu acho que tem uma atmosfera ótima, pelo menos.

WM:  O público brasileiro é conhecido por “adotar” bandas pesadas. Qual foi o momento exato em que vocês perceberam que o Brasil tinha abraçado o AVATAR de vez?

HS: Sempre tivemos comentários nas redes sociais e em outros lugares por anos, mesmo antes dos primeiros shows. Então, sentimos o apoio há muito tempo. Já estava mais do que na hora de finalmente tocarmos lá.

JE: Eu acrescentaria que esse sentimento já estava consolidado, quando nós tocamos em um festival em São Paulo, o Summer Breeze (atual Bangers Open Air). E isso foi quando voltamos depois que eu terminei um projeto armênio. E também é um festival, então, as pessoas estariam lá mesmo se não tivéssemos aparecido. Mas ainda assim, com as pessoas na nossa frente, você sentia mais como “ok, esses são os nossos fãs agora”. Alguns deles se tornaram nossas pessoas porque pudemos compartilhar momentos com elas. E isso dava a sensação de “agora é real”.

A grande coisa que temos que fazer agora, obviamente, é ir. Na verdade, porque só fomos ao Brasil de férias, fomos e tocamos por 40 minutos. Isso é férias. Então agora queremos voltar ao Brasil e trabalhar, fazer nossas quase duas horas ou seja lá quanto tempo ficarmos no palco. E eu sinto que depois do Summer Breeze, você pôde sentir que podemos fazer isso agora.

HS: Sim, exatamente. Está na hora de voltarmos e fazermos nossos próprios shows.

WM:  Então, podemos esperar uma turnê da banda no Brasil no próximo ano?
JE: Talvez. Eu vi nosso calendário, então sei dos nossos planos, mas não consigo saber se podemos… Então, tenho que ter cuidado com o que digo. Mas com certeza vamos tocar no Brasil.

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