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Avantasia no Bangers Open Air. Crédito Jéssica Marinho

Avantasia no Bangers Open Air. Crédito Jéssica Marinho

Entrevista Avantasia: Tobias Sammet fala sobre retorno ao Brasil, Andre Matos e mais

Banda retorna ao país pela segunda vez em 2025 para única apresentação em São Paulo

Após o explosivo show de encerramento do Bangers Open Air 2025, Avantasia retorna ao Brasil para único show em 29 de novembro. A apresentação faz parte da Here Be Dragons World Tour 2025 e acontecerá na Vibra São Paulo – ingressos seguem à venda

Em entrevista ao Wikimetal, o vocalista e fundador Tobias Sammet falou sobre o retorno ao país pela segunda vez no ano, o show realizado pela banda no festival em maio, momentos icônicos no Brasil, recepção de Here Be Dragons e mais. O alemão ainda deu um longo depoimento ao relembrar o Maestro do Rock, Andre Matos

Leia na íntegra:

Wikimetal: Em maio deste ano, vocês vieram ao Brasil para serem uma das atrações principais do Bangers Open Air, como foi se apresentar lá?

Tobias Sammet: Curto (risos). Na perspectiva do Avantasia, foi curto (risos). Mas foi ótimo, sempre é. Toda vez que vamos ao Brasil é especial, mesmo que seja em eventos ao ar livre e tocando na frente de uma multidão. Em nossos shows em festivais a céu aberto, eu considero que as pessoas passam a ter uma visão de quem somos nós. No entanto, nossas verdadeiras apresentações acontecem quando somos a única atração. Temos mais tempo, mais espaço e uma gama maior de opções para entregar a experiência completa de um show do Avantasia. Foi muito bom, os fãs foram incríveis. Tenho apenas boas lembranças do show. Na verdade, guardo recordações de todas as apresentações que fiz no Brasil, tenho que dizer.

WM: Os fãs ficaram muito surpresos com o anúncio de que a banda iria retornar ao país com um novo show. Isso já estava nos planos antes do festival ou foi algo planejado depois?

TS: Não sei o tempo exato, mas creio que foi depois. Tinha o fato de nessa turnê mundial, queríamos e precisávamos tocar em países, como o Japão, por exemplo. Há também outros da América Central e Latina, como México, Colômbia, Chile e Argentina. E quando se está lá, não faz sentido deixar o Brasil de fora, isso parte o coração(risos). Nisso, nós dissemos que, se vamos trazer o setlist completo para a América Latina, temos que incluir o Brasil novamente, pois já estaríamos lá de qualquer forma.

No entanto, desta vez, preciso dizer que foi uma exceção, pois nunca aconteceu de realizarmos a mesma turnê de um álbum duas vezes em um mesmo país da América Latina. Aí dissemos: “Vamos fazer isso e vamos voltar”. Mas se fosse pra pensar nisso agora, creio eu que o show foi planejado depois. Desenvolvemos o escopo da turnê após, mas já sabíamos das apresentações no México e Argentina. E, como eu disse, faltaria algo e seria errado sair da Europa sem passar no nosso amado Brasil. 

WM: O setlist será o mesmo ou haverá mudanças? 

TS: Vamos repetir algumas músicas. Na verdade, vamos nos basear nele, mas com algumas mudanças. O repertório do Bangers Open Air foi uma versão reduzida do que tocamos em nossa turnê europeia durante março e abril deste ano. Agora, temos mais faixas a serem tocadas. Creio que podemos tirar algumas delas, mas também vamos incluir coisas diferentes. Recentemente perguntei aos fãs o que eles gostariam de ouvir. Muitos disseram que devíamos tocar músicas mais antigas do The Metal Opera (2001). Aí, eu disse a eles: “ok, podemos fazer isso” e incluir algumas canções do álbum não tocadas há muito tempo e realizar mudanças sutis. Mas, se eu me lembro corretamente, a maioria das músicas executadas no festival serão tocadas novamente. 

WM: Há alguma mudança na produção de palco, por exemplo?

TS: Vamos ter uma estrutura mais básica. Pois na última vez, tentamos copiar a produção europeia no Bangers Open Air, mas não ficou muito bom. Os rapazes fizeram um ótimo trabalho, mas não era exatamente o que eu tinha em mente. Gostaríamos de focar nas coisas que aparecem no telão lá atrás. Será um show diferente, mas de qualquer forma será bom, e um pouco mais polido, creio eu. Não iremos copiar o show europeu, porque isso seria difícil. Estávamos considerando trazer a estrutura europeia usada nos shows de março e abril para a América Latina, mas não vamos fazer isso. Não seria possível obter todas as permissões necessárias, trazer todo o material e voar de país a país em um período tão curto, ainda mais quando temos shows em sequência um atrás do outro. Não teria sido possível, acabaria em desastre. Nisso, você ficaria numa situação bem estranha (risos). Ao acordar na manhã do show e dizer “o palco não está aqui”, o que será feito? Por isso, tentamos construir algo que possamos levar para qualquer lugar, focando na banda, no telão, nas entradas, rampas, escadas e coisas desse tipo. Vai ser diferente, mas acredito que seja ótimo mesmo assim.

WM: A relação da banda com o nosso país é muito especial. Dentre todos os shows já realizados aqui, qual você considera o mais importante?

TS: Essa é uma pergunta bastante difícil, pois como em álbuns, onde você responde o seu favorito, eu sempre percebo coisas. Não quero comparar coisas e nem fazê-las competirem entre si. Se eu pensar em todas as experiências que tive no Brasil, e em outros países também, sempre houveram tantos momentos incríveis. sabe? A turnê do Hellfire Club com o Edguy e minha primeira vez com a banda no país [em 2004 e 2002, respectivamente], o primeiro show do Avantasia [em 2008], nossa estreia com Kai Hansen e Michael Kiske no palco. São momentos que você jamais esquece. Foi a primeira vez que Michael se apresentou na América Latina – em 2010, creio eu. O show que fiz com Andre Matos, que Deus abençoe sua alma, com o Shaman [em 2003 e lançado como RituAlive] no Credicard Hall (atual Vibra São Paulo), em São Paulo. Todas essas apresentações são únicas em suas próprias formas. Só tenho ótimas lembranças dos shows no Brasil, sempre foi ótimo. Tocamos em muitos locais durante a turnê do Hellfire Club. O Edguy também abriu os shows do Slash [em 2012]. Todos os shows possuem algo único e eu não gostaria de perder nenhum deles.

WM: Você mencionou Andre Matos. Todos sentimos a perda dele e sabemos o quão trágico foi. Qual é o peso emocional para você em cantar músicas que possuem a voz dele aqui no Brasil?

TS: Bom, já fazem seis anos e meio desde que ele partiu. Eu considero isso uma honra e olho para os momentos engraçados. Todos nós tivemos tempo para aceitarmos o fato de que o Andre não está mais aqui. Nisso, você se apresenta, olha pra trás e sorri, e pensa nas coisas divertidas. Há muitas delas, e eu aprecio o tempo que tive perto dele. Fiz shows com ele, estive em estúdio, e até fizemos um passeio turístico no Rio de Janeiro. Agora posso ver isso com um estado de mente pacífico, mas no começo foi diferente. Me lembro do primeiro show logo após sua morte. Acho que foi na República Tcheca, no festival Masters of Rock, em 2019. Tocamos “Reach Out For The Light”, e cerca de duas, três semanas antes, havia feito isso com Andre ao meu lado. Foi extremamente difícil. Não sou uma pessoa que costuma demonstrar, mas sou emocional nas coisas. Não consigo esconder isso na maior parte do tempo, mas estava no palco e não me senti bem. 

De repente, tive tantas imagens diante dos meus olhos, na minha mente e eu estava ficando em uma situação difícil, posso dizer, pra mim. Eu realmente tive que dizer “não, não, não, pensa em outra coisa, pensa em outra coisa”. Isso foi difícil, mas com o passar dos anos ficou mais fácil. Agora, eu simplesmente aprecio o fato de que o Andre foi quem ele foi e o presente, o privilégio de tê-lo tido como amigo, companheiro, e alguém com quem era incrivelmente divertido passar o tempo. Então, agora está tudo bem. Penso nele quando faço isso. Agora é uma sensação boa, mas no começo não era. Antes eu pensava: “Ok, eu não vou começar a chorar no palco, não posso fazer isso”. Dizia coisas como “não, não, pense em outra coisa, gatinhos (risos), ou sei lá o quê, mas não lembre disso”. Faça as pazes com a situação fora do palco. Você está aqui para divertir as pessoas, não chorar no palco. Mas foi um dos poucos momentos onde eu estava engolindo em seco, de verdade.

WM: Quais são as músicas do Here Be Dragons que já se destacaram, seja pela resposta do público ou pelo seu próprio orgulho como compositor?

TS: Também difícil de dizer. Gosto de “Against The Wind” [com participação de Kenny Leckremo, vocalista do H.E.A.T]. É uma faixa típica do Avantasia e do Tobi, eu diria. Mas ao mesmo tempo, ela tem uma pegada diferente, como se fosse uma mistura entre Journey e Helloween. E tudo isso dentro do contexto do Avantasia (risos). Pois a forma que a melodia é formada no refrão, assim como os acordes, são muito independentes, e ainda funcionam juntos, mas de uma forma bem solta. É uma canção muito lenta e espiritual. Canto cheio de alma em cima disso, e com pedal duplo no meio. Soa como uma versão estranha e rápida da forma de composição do Journey, creio eu. Mas eu também adoro, realmente, acho que uma das minhas melhores músicas nesse estilo provavelmente é Creepshow”. Sei que algumas pessoas vão dizer “Ah, são apenas quatro acordes, podia ser uma música do KISS, ou algo como ‘Lavatory Love Machine’, do Edguy”. E sim, pois escrevi algumas dessas músicas, melhor, a maioria, ou todas elas. 

Então, é muito natural que a música tenha essas raízes, porque isso faz parte do meu DNA musical também. Mas acho que  “Creepshow” é uma música reduzida ao necessário, com uma linha melódica bem marcante. É muito engraçado fazer músicas assim. Foi um pouco polêmico, especialmente entre os fãs mais puristas de power metal. Muitos disseram “Ah, isso não é ‘Reach Out For The Light’, isso é Bon Jovi” (risos), o que eu não concordo. Não acho que o Bon Jovi jamais teria escrito “Creepshow”. Ele escreveu músicas melhores, talvez, mas diferentes e não ela (risos). Mas quando a gente tocava essa música, e começava o show com ela, todo mundo enlouquecia. E eu pensava: “Tá vendo? Se você segue o seu coração, não tem erro. Fiz isso quando a escrevi..E olha só onde estamos, tocando em Stuttgart, Madri, Estocolmo, Finlândia, e onde quer que seja. Iniciamos o show com ela e o público vai à loucura.

Olhando para trás, gosto de pensar que a honestidade compensa, e que as pessoas entendem a música, e gostam dela. Eu já sabia disso. Quando terminei de escrever, pensei: “Isso vai funcionar bem. Vai ficar legal ao vivo.” Eu também sabia que seria criticado, pois tudo o que não for “The Seven Angels” e “Reach Out For The Light” vai gerar reclamações. Mas eu não quero, e nem consigo, escrever “Reach Out For The Light” dez vezes a cada dois anos, sabe? (risos). Não tem como fazer isso. Ela é uma música fantástica, e não pode ser copiada. Dessa forma, acredito que “Creepshow” se tornou uma excelente adição ao catálogo do Avantasia.

WM: Como está sendo a receptividade do álbum?

TS: Boa. Muito boa, na verdade. Ele alcançou o primeiro lugar na Alemanha,  Áustria, teve ótimas posições nas paradas por toda Europa. Creio que tivemos boas reações. As pessoas disseram que é um álbum muito acessível. Não é pesado, você se apaixona por ele de imediato. E claro, quando você lança o seu décimo álbum ou, no meu caso, o vigésimo, se contar também os do Edguy, é natural que quanto mais discos você insere em seu catálogo, mais material as pessoas têm para comparar com o seu novo trabalho. Emocionalmente, nada pode competir com o álbum de sua banda favorita. Aquele que você ouviu pela primeira vez aos 16 anos. Quando estava numa excursão de escola, bebendo pela primeira vez, numa festa, ou jogando videogame com um amigo. Esse disco virou a trilha sonora de sua vida, e nada pode ser comparado a isso. Por essas razões, preciso estar preparado e respeitar o fato de que, não importa o que eu faça, sempre vai haver gente que vai dizer: “Ah, esse álbum não é bom. Prefiro o Hellfire Club”. E tudo bem, eu entendo.

Quando o Iron Maiden lança algo novo, sempre digo que me impressionei mais com Live After Death. Sim, mas eu tinha 15 anos. Era a trilha sonora da minha juventude. Isso não significa dizer que Brave New World seja pior. Na verdade, é um ótimo disco, provavelmente tão bom como The Number Of The Beast. Mas eu ouvia ele quando era criança. Então, é claro, sempre vai ser a trilha sonora da minha infância, e Brave New World nunca vai poder ocupar esse lugar.

Agora voltando aos nossos álbuns, acho que a recepção foi muito, muito boa. Não poderia pedir nada melhor. Sempre espero que algumas pessoas digam “isso tá uma porcaria.” Isso é normal. Você lança uma música, pergunta a três pessoas, e cada uma vai ter uma opinião completamente distinta sobre o que você fez. Você nunca agradará todo mundo. É por isso que eu acredito que você deve ouvir seu coração. E não o que a gravadora, um certo fã ou produtor específico está dizendo.

Quer dizer, eu ouço as pessoas ao meu redor, em quem eu confio e me dizem coisas como: “Talvez você devesse refazer esse vocal” ou “O segundo refrão podia soar de tal forma.” Aí eu escuto e falo: “Você tem razão. Vou tentar de novo. Fazer algo diferente”. Então, sim, eu ouço conselhos. Mas de modo geral, você tem que seguir o coração. Parece um meme daqueles calendários baratos, mas é a verdade. Pois se você for pedir permissão pra todo mundo, sei lá, temos mais de um milhão de seguidores no Facebook. Se fosse perguntar pra todos, não  terminaria antes de 2047(risos). E ainda assim não teria uma única opinião sobre o que eu deveria fazer.

WM:Qual será o futuro do Avantasia após o encerramento do ciclo de Here Be Dragons?

TS: Vamos fazer essa turnê e depois, não sei. Provavelmente haverá uma pausa. Temos alguns festivais europeus para o ano que vem, acho que 10, se não me engano. Será o último capítulo da era Here Be Dragons. Depois disso, vou tirar um tempo para descansar. Vai demorar um pouco até voltarmos ao Brasil. Provavelmente não vai ser antes de 3 ou 4 anos, talvez. Não iremos retornar tão cedo. Eu ainda não sei, tenho que dizer, sabe, estou num momento da minha vida em que tenho 48 anos, não ainda, mas em duas semanas. Então, quando eu tinha 21, eu sempre tinha um plano. Um plano de vida. “Vou fazer isso, depois vou fazer isso e depois aquilo, etc”, e a gente planeja a vida toda.

Cheguei num ponto em que eu apenas digo “Ah, talvez eu vá fazer umas trilhas, ou talvez não sei” (risos). O que posso dizer é que já estou trabalhando em música. Sempre faço isso, na verdade. Tenho algumas ótimas ideias, músicas muito boas, que já estão com as ideias básicas. Vou continuar produzindo e quem sabe, não sei, talvez em 2027, 2028, eu tenha um novo álbum pronto. Ainda não sei quando vai acontecer. A verdade é que eu realmente não tenho um plano. Mas vamos encerrar essa parte da turnê, depois vamos fazer alguns festivais no ano que vem, e aí vai ser isso. E esse shows do ano que vem serão exclusivamente na Europa.

WM: Você poderia mandar uma mensagem aos fãs e aos leitores do nosso site?

TS: Com Certeza! Olá, meus amigos do Brasil e leitores do Wikimetal, Aqui é o Tobi falando, do Avantasia. Quero agradecer a todos vocês pelo apoio ao longo de 24 anos e meio, Desde janeiro de 2002, espera, estou errado. Isso dá 20, 21 anos. Não, isso dá 20. Ah, sou péssimo em matemática. Vou começar de novo. Olá, pessoal! Aqui é o Tobias Sammet, do Avantasia.(risos). 

Meus amigos, quero agradecer a cada um de vocês pelo apoio leal, pelo carinho e por tudo o que vocês me deram por quase um quarto de século.Não tenho palavras para agradecer, e mal posso esperar para estar de volta em três semanas, em São Paulo, para tocar ao vivo para vocês no dia 29 de novembro. Vai ser incrível, vamos viver o melhor momento das nossas vidas. Mal posso esperar para vê-los. Mais uma vez, obrigado pelo apoio!

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