Confira mais um texto escrito por um de nossos WikiBrothers:
É triste ver que um estilo atualmente está dividido porque os fãs são conservadores demais para aceitar conservadores no grupo.”
É triste ver que um estilo atualmente está dividido porque os fãs são conservadores demais para aceitar conservadores no grupo.”
por Wendel Júnior, WikiBrother
Com o debate entre direita e esquerda cada vez mais evidenciado nos dias atuais graças a Internet, diversas áreas, incluindo campos de entretenimento, acabam fazendo parte das discussões. A música obviamente não escapa.
Fãs do estilo Heavy Metal, que outrora foram associados a rebeldia e contra qualquer tipo de regra, padrão de comportamento ou moralismo, atualmente estão divididos entre aqueles que querem manter o antigo pensamento libertário e aqueles que apesar de curtirem o som estão dispostos a adotar uma filosofia de vida mais conservadora. Nesse momento, já é possível notar a contradição daqueles que estão incluídos na primeira opção: apesar de chamarem os conservadores de “caretas” e “retrógrados”, eles também são retrógrados por tentarem conservar o mesmo pensamento que os Headbangers têm desde os anos 70.
Outra hipocrisia dos roqueiros, é o fato da direita ser vista como um modelo castrador das liberdades individuais e censurador de opiniões, quando esses mesmos roqueiros querem ridicularizar qualquer opinião que seja contra o velho modelo do Headbanger rebelde e tirar o direito de um indivíduo ser fã de determinado estilo musical e ao mesmo tempo ter uma opinião diferente da ideologia pregada nas letras. Nessas horas, o discurso progressista sobre “mente aberta” é totalmente esquecido. Esses roqueiros, que o tempo todo dizem lutar contra rótulos e preconceitos, são extremamente preconceituosos e rotulam aqueles que pensam diferente de “posers” e “falsos roqueiros”, ao mesmo tempo em que acusam a direita e os conservadores de serem sempre intolerantes.
Essa idéia da direita ser intolerante já é desmentida pelo próprio fato de existirem tantos roqueiros conservadores. Como alguém pode ser considerado intolerante se consegue ser fã de um estilo musical cujas letras são extremamente contrárias as próprias convicções, sendo capaz de respeitar opiniões tão diferentes e aproveitar algo que aquilo oferece de bom (as melodias, harmonias e técnica por parte dos músicos)? Enquanto os conservadores estão dispostos a aceitar e até mesmo se tornarem fãs de algo diferente, os roqueiros libertários ao invés de pregar a liberdade, se sentem ofendidos e ridicularizam essas pessoas.
Já que rock é liberdade, por que os roqueiros não têm o direito de terem uma opinião mais voltada para a direita e o conservadorismo? Talvez alguém argumente que, a liberdade defendida pelo rock vai contra o pensamento da direita, que tende a ser fascista e defender um estado controlador, mas não é bem assim. A direita defende que o indivíduo forte faz o estado forte, enquanto a esquerda tende a ser coletivista. Enquanto a primeira prega mais a liberdade individual, a segunda enxerga que tudo está sempre relacionado a massas, onde as pessoas são sempre cem por cento dependentes uma das outras, um conceito que só funciona partindo do princípio que todos pensem exatamente do mesmo jeito e sejam iguais em tudo. Conhecendo o mínimo do ser humano, já é possível perceber que isto só funciona em sonho.
Pelo menos nesse aspecto, os ideais do Metal se conectam mais com a liberdade individual pregada pela direita, a não ser que se considere a possibilidade de todas as pessoas do mundo acharem o Heavy Metal um estilo atraente. A própria utopia de um mundo unido e caridoso onde todos vivem numa mesma classe social, depende de uma visão otimista a respeito do caráter dos seres-humanos, algo que é constantemente desprezado pelas bandas de Heavy Metal desde sua concepção, pois essas entendem que o ser humano é mau por natureza, e na maioria das vezes abordam nas letras o lado mais desprezível dos homens. Essa ideia casa perfeitamente com o pensamento conservador, que justamente por reconhecerem que o homem é falho, defendem que precisamos de um código moral para nos colocar na linha, muitas vezes baseados em religiões.
Já que rock é liberdade, por que os roqueiros não têm o direito de terem uma opinião mais voltada para a direita e o conservadorismo?”
Já que rock é liberdade, por que os roqueiros não têm o direito de terem uma opinião mais voltada para a direita e o conservadorismo?”
Claro, já existiram diversos regimes ditatoriais baseados na direita, marcados pela repressão e combate a liberdade de expressão, mas também já existiram diversos regimes de esquerda, que foram muito mais duros, opressores e mataram muito mais (corram atrás dos documentos e fatos históricos e comparem os números de vítimas).
Outro tópico que deve ser abordado nesse tema é o conceito de rebeldia. A rebeldia pode ser saudável quando se trata de lutar contra leis que não nos favorecem, regras de comportamento que não possuem fundamento, etc. No passado, homens eram mal vistos por usarem cabelos grandes, mulheres eram mal vistas se falassem sobre sexo e tivessem orgasmo, sexo fora do casamento deveria ser escondido, tatuagens eram associadas a bandidos, ser gay era quase como ser um alienígena, falar do diabo em músicas era visto como adoração ao mesmo, etc. Até mesmo o jeito de Elvis dançar já foi considerado indecente e censurado, sendo que não tinha nada demais. A rebeldia nesses casos foi saudável, as pessoas tinham motivos lógicos e coerentes para lutar. Na verdade, tinham contra o que lutar. O rock teve papel fundamental nisso.
Mas quando adolescentes usam o rock para fortalecer seu pensamento de rebeldia sem causa, o estilo e todas as lutas sérias que ajudou acabam sendo ridicularizados. A rebeldia que visa apenas quebrar regras sem motivo lógico, apenas para chamar atenção ou defender uma sociedade caótica, pode ser bastante perigosa. Defender aborto, kit gay em escolas para crianças a partir dos seis anos de idade, legalização de drogas ou ser contra a polícia, já é ultrapassar os limites e deixar de pensar.
É importante lembrar também que, no passado, quando a sociedade em geral tinha um pensamento mais conservador e os sistemas políticos eram mais voltados para a direita, como por exemplo no próprio regime militar brasileiro, fazia sentido todas as bandas serem contra os direitistas e o conservadorismo. Atualmente, no entanto, a esquerda e o pensamento libertário domina a grande mídia, domina as escolas e é defendida pela maioria dos intelectuais. Nosso país passou mais de dez anos sob o governo de um partido declaradamente esquerdista. Os argumentos a favor da direita se tornaram tabu e a maioria dos intelectuais, artistas, políticos, humoristas e qualquer figura pública de direita são ignorados, desconhecidos, ridicularizados, caluniados e não possuem espaço na mídia. Nesse cenário, a rebeldia do rock e a vontade de ser contra o sistema e dizer o que ninguém mais têm coragem de falar, faz muito mais sentido se os roqueiros forem de direita e não o contrário. É importante lembrar também que o rock sempre foi contra o politicamente correto, uma clara característica da direita. O discurso polido da esquerda, sempre com medo de ser sincero para não ofender ninguém, onde até mesmo piadas são motivos para processo, não combina nem um pouco com o Rock.
Enquanto os conservadores estão dispostos a aceitar e até mesmo se tornarem fãs de algo diferente, os roqueiros libertários ao invés de pregar a liberdade, se sentem ofendidos e ridicularizam essas pessoas”
Enquanto os conservadores estão dispostos a aceitar e até mesmo se tornarem fãs de algo diferente, os roqueiros libertários ao invés de pregar a liberdade, se sentem ofendidos e ridicularizam essas pessoas”
Outro fruto do esquerdismo que sempre esteve presente no rock e nunca deixou de ser hipocrisia são as constantes críticas ao capitalismo, sendo que o rock n’ roll é o gênero musical mais capitalista que já existiu.
Vale ressaltar também que muitas bandas de Heavy Metal e Rock famosas e respeitadas têm letras neutras, apartidárias ou até mesmo um pouco mais voltadas para a direita, além de muitos músicos serem conservadores apesar da imagem de loucos. Por exemplo: Nicko McBrain do Iron Maiden, Dave Mustaine do Megadeth, James Hetfield do Metallica, John Petrucci do Dream Theater, Tom Araya do Slayer, Roger do Ultraje a Rigor, Lobão, Elvis Presley, Johnny Ramone dos Ramones, Ted Nugent do Amboy Dukes, Nando Moura do Pandora 101, etc.
De qualquer forma, independente da opinião política de cada um, é triste ver que um estilo que na década de 50 foi pioneiro por unir brancos e negros nos mesmos lugares por terem um gosto em comum, atualmente está dividido porque os fãs são conservadores demais para aceitar conservadores no grupo.
*Este texto foi elaborado por um Wikimate e não necessariamente representa as opiniões dos autores do site.