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Resposta ao texto: Headbanger De Extrema Direita: O Resultado Catastrófico De Quem Ouve Música Sem Se Aprofundar Em Seu Conceito”

por Por Luís Vilhena, WikiBrother

Recentemente um texto começou a circular em sites e páginas na internet, esse texto falava, com argumentos logicamente ruins, que um headbanguer não pode ser conservador ou de direita, seja lá como você prefere chamar cada orientação de pensamento. Sinceramente me pergunto se é uma questão que merece uma resposta ou se é apenas um murmúrio infantil de pessoas ociosas. De qualquer maneira, ao ler certas respostas testemunhei o interesse de algumas pessoas em debater o “problema” de boa fé. No decurso de minhas deliberações mentais, resolvi separar 6 tópicos principais que vão muito além do que foi escrito aqui. O primeiro deles já responde toda polêmica formidavelmente, todavia, os outros 5 apontam fatores que eu considero importantes.

Livre Arbítrio:

Numa sociedade séria, cada cidadão tem seus direitos individuais garantidos e qualquer mecanismo que resulta no contrário é rechaçado. Sendo assim, por mais óbvio que seja, qualquer pessoa tem direito de ouvir a música que quiser, tendo que prestar contas apenas à própria consciência referindo-se apenas aos valores que ela mesma siga. Mesmo que esteja cometendo uma contradição absurda, como um judeu ouvindo uma banda nazista ou um nazista ouvindo música judaica, não queremos cortar as orelhas do sujeito ou deletar sua conta do Spotify. Cada um que siga seu caminho e ouça o que achar bom para si mesmo. Resumindo em linguagem popular: foda-se, eu ouço o que der na telha.

Histórico Universal

O Rock e o Heavy Metal, assim como todos os gêneros relevantes de música, surgiram e se desenvolveram em países historicamente conservadores, ocidentais e cristãos. Isso prova que estas nações não são apenas um gatilho para despertar uma música que sirva como um suposto “grito dos oprimidos”. Contudo, o único tipo de lugar bom o suficiente para abrigar o estudo e a inovação técnica e artística. Bem como o único tipo de país em que gostos tão diferentes da maioria puderam sobreviver, ser respeitados e encontrar variadas formas de expressão, sem serem fortemente reprimidas (não compare o preconceito com Rock no ocidente com o que acontece no Oriente Médio, por exemplo). Vide o desenvolvimento da música sacra nas igrejas europeias até as músicas dos tempos atuais: o que conhecemos como arte da música veio do velho mundo ou se inspirou muito nele. O Rock e o Heavy Metal surgiram nesses países que estão incluídos no estereótipo de “inimigos da esquerda, opressores das nações pobres e conservadores retrógrados” e até hoje é onde o maior número de fãs e bandas estão. Este fato é gritante demais para ser ignorado.

Heavy Metal

Por mais óbvio que seja, qualquer pessoa tem direito de ouvir a música que quiser”

Causa e efeito

Aulas de música, instrumentos de qualidade, inúmeros equipamentos, gravações, produção, divulgação e venda. Esses são elementos que compõem o processo da música para consumo em massa. São processos que consomem tempo, dinheiro, esforço e tecnologia. Num sistema de esquerda, ou seja, burocrático, inflacionado e com a indústria sufocada, tudo isso se torna oneroso e pouco rentável.

Um resumo simples: para se alcançar um estágio onde o estado possua todos os meios de produção, ele executa a política de progressiva regulamentação e taxação de praticamente tudo que existe. Como resultado temos os rankings econômicos do Brasil de desenvolvimento, impostos e liberdade comercial. É assim que se constrói um país socialista, aliado aos gastos astronômicos do governo e da ineficiência completa dos seus serviços. Toda a economia retrai com o tempo e a indústria da música não foge dessa maldição. Nosso país é a prova viva desse roteiro, quase tudo aqui é caro, mal feito e demorado. O rock pesado, como nunca foi um produto largamente consumido, rapidamente é afetado ou simplesmente esquecido.

Quando uma banda consegue estrutura suficiente para existir, encara um desafio análogo que é alcançar o público. Todavia, se é difícil manter uma banda, também é difícil frequentar shows. Se deslocar até para outro estado, comprar CDs que arranham rápido, usar camisas com estampas toscas e sair de um show sem saber se volta para casa.

Amadureça

O Heavy Metal precisa ser olhado com uma visão adulta. Profissionalismo e maturidade são as coisas essenciais que formam as grandes bandas. O que seria do Iron Maiden sem Rod Smallwood, seu famoso empresário? Por trás de toda banda de sucesso há alguém, aliás, algumas pessoas que nada tem a ver com rock mas que trabalham arduamente para tudo acontecer. Falando de shows, festivais e turnês a soma só aumenta. São milhares de pessoas que podem até detestar Rock porém trabalham arduamente unidas por um único propósito: dinheiro. Sim, isso é o que sempre moveu o mundo e será assim para sempre.

Aceite. Não importa se um técnico gosta de Pop ou se executivo ouve Gospel todo dia, bandas de Rock precisam deles e eles precisam de bandas de Rock para ambos terem dinheiro e viver. Se sabemos que preconceito não anda junto com profissionalismo, esqueça essa mentalidade adolescente de “Rock é um grito pela liberdade”. Não, Rock é uma música e é feito para vender. Se não fosse assim, nem Elvis, nem The Beatles nem Sabbath receberiam atenção de produtores.

Metallica dinheiro

Rock é uma música e é feito para vender”

O oposto não é verdadeiro

Se Heavy Metal não combina com conservadorismo, ele deve ter afinidade com o seu oposto. Errado, se em teoria essa conclusão já não funciona, na prática é que ela se torna uma catástrofe no sentido puro da palavra. O Rock nasceu nos Estados Unidos durante o auge da Guerra Fria e não é preciso ser muito inteligente para imaginar que países comunistas tentavam barrar a entrada de qualquer coisa vinda da América, o que efetivamente aconteceu. Os primeiros shows de Rock só aconteceram na antiga URSS depois de muito custo e persistência, mesmo assim, sem que o bloco vermelho escondesse o autoritarismo e repressão com os fãs. Nesses países, qualquer aglomeração humana é encarada como um protesto anti-revolucionário e quem participa delas ganha um férias com tudo pago (menos comida) numa prisão política. Foi assim na Europa Oriental, Rússia e na China. É assim em Cuba e na Coréia do Norte, onde o Rock é um “produto subversivo yankee”, sendo oficialmente proibido até hoje.

Pior que isso é a situação dos países do Oriente Médio já que todos os países (com exceção de Israel) adotaram a Sharia e vivem sob estados policiais. Heroicamente algumas bandas emergiram desse meio violento e atingiram certa fama. Mas não sem serem acusadas de incitar rebeldia e satanismo, como aqui no ocidente. A diferença capital é justamente estar sob a lei islâmica. Aqui, uma banda dessas é no máximo ignorada se tocar mal. Não é o que acontece com Ghost, presente no Rock in Rio de 2013 tocando para umas 80 mil pessoas, ou Behemoth que foi defendida por um padre ao rasgar a Bíblia em um de seus shows. Experimente falar de satanismo no Irã, de ateísmo na Síria, experimente pisar na Arábia Saudita e cantar que religiões só causam mal. Experimente apenas tentar dar o velho “grito de rebeldia dos oprimidos” em qualquer uma dessas nações e se pergunte se deu certo.

Auto-crítica

Muitos headbanguers têm essa postura de constante questionamento mas acabam caindo no velho lobotomismo de questionar por questionar, sem tentar parar e pensar nas respostas. Mais que isso, lutam contra preceitos que na verdade eles mesmos se beneficiam e sem se dar conta de seu próprio discurso, como uma criancinha vendada com um pedaço de pau na mão, compõem as mais esdrúxulas canções a favor um sistema que eles não sabem como começou e nem sabem onde vai parar.

É muito fácil falar mal do capitalismo quando se está em um país capitalista, do cristianismo quando se está em um país cristão, do ocidente quando se está no ocidente. Evidentemente só nesses países você pode fazer isso sem ser linchado, preso ou morto em plena rua. Infelizmente, muitas pessoas que não eram hipócritas como alguns roqueiros politicamente corretos tentaram fazer isso e provavelmente pagaram com a própria vida.

Finalmente concluindo, não é que um headbanguer não possa ser de direita ou conservador. Na verdade Heavy Metal é, no final das contas, mais um luxo que só tem quem vive num país conservador de direita.

*Este texto foi elaborado por um Wikimate e não necessariamente representa as opiniões dos autores do site.

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