Não tenho um Ipod. Tenho umas 4.000 fitas, todas elas preservadas”

W (Nando Machado): Olá, Pepper, como você está? Está me ouvindo?

Pepper Keenan: Sim, estou ouvindo, onde você está?

W (NM): Estou em São Paulo, onde você está agora?

PK: Estou na minha garagem em New Orleans.

W (NM): New Orleans? Ok. Primeiro de tudo, vou nos apresentar. Somos um podcast chamado Wikimetal, somos o podcast número um de Heavy Metal e Hard Rock no Brasil. Então agradecemos pelo seu tempo, obrigado adiantado.

PK: Ótimo, obrigado.

W (NM): Só para começar, você ainda toca para o Corrosion of Conformity. Eu estava pensando, pois outro dia falei com o Dan Lilker, do Nuclear Assault e falamos sobre os anos 80; eles estavam dizendo que provavelmente foram a primeira banda de Heavy Metal a unir as influências do Punk e Hard Core ao Heavy Metal. Mas ele disse que nesta época tinham outras bandas de Hard Core que fizeram ao contrário, que começaram como bandas de Hard Core, mas que começaram a misturar influências do Heavy Metal, o que você acha disso?

PK: Bom, o C.O.C era uma banda de Hard Core que começou a colocar coisas de Metal, foi assim que se deu, com o C.O.C. O primeiro álbum do C.O.C era totalmente e brutalmente Hard Core. Basicamente, era assim que as coisas aconteciam: naqueles tempos, quanto melhor você tomava guitarra, você se tornava mais Metal, é mais ou menos assim que as coisas eram.

W (NM): E o seu primeiro contrato, você pode nos contar um pouco dessa história?

PK: Naquele tempo eu e Phil… Phil estava no Pantera e eu estava no C.O.C e nós estávamos indo muito bem, Phil estava indo realmente bem e os outros caras moravam em New Orleans. Nós viemos para casa e começamos uma banda chamada Down. Então, eu fiz o logo do tomate em máquina de xerox, fizemos lençóis com sprays, nós éramos sérios e começamos fazendo demos de três músicas, pois naquela época nós trocávamos fitas cassete na estrada com outras bandas, sempre, é tudo o que fazíamos. Então fizemos uma fita com três músicas e chamamos a banda de Down e eu pus uma carinha de Jesus nela, etc. Então eu estava fazendo uma turnê um dia e toquei com uns jovens e eu disse “Cara, nós ouvimos essa banda Down e…”, “Quero ver”. Então eu dei uma cópia para ele sabia que eles iam trocá-la e queríamos ver quão longe ia chegar. Então, uma vez eu estava na Suécia e um cara chegou com uma fita e me perguntou se eu tinha ouvido falar de uma banda chamada Down. Então ela passou por toda a Europa no ‘underground’, então ninguém sabia que era a gente. Então nós continuamos fazendo demos e finalmente fizemos um show uma vez aqui em New Orleans e alguém filmou e isso chegou à gravadora, chegou na Warner Brothers e eles descobriram que eram pessoas que eles já conheciam. Então eles nos descobriram e foi isso, fomos pegos.

W (NM): Essa foi uma estratégia muito boa e uma história muito interessante, obrigado.

PK: O Phil e eu estávamos basicamente testando para ver se, no começo dos anos 90, o ‘underground’ ainda existia. Nós estávamos curiosos sobre a troca de fitas e este tipo de coisa e queríamos saber quão longe as pessoas iriam e o quanto estavam procurando a música. Eu e o Phil estavamos animados para encontrar novas bandas e coisas legais do mundo todo. Foi muito bom saber que o ‘underground’ ainda existe, estávamos excitados com isso e continuamos a partir daí.

W (NM): Isso é ótimo. Como você faria se fosse hoje com a Internet, qual você acha que é a principal diferença entre eles?

PK: Dane-se, cara, dane-se a Internet!

W (NM): Você sente falta daqueles tempos, aqueles tempos de fita?

PK: Eu adoro. Cara, se você visse minha garagem, eu tenho umas 4.000 fitas, todas elas preservadas.

W (NM): Então você não tem um iPod?

PK: Não, não. Acho que talvez eu devesse ter um.

W (NM): Você ainda escuta fitas?

PK: Eu tenho algumas fitas demo dos anos 80 que te fariam perder a cabeça. Bandas matadoras que nunca assinaram contrato.

W (NM): Eu acredito, cara, acredito em você.

PK: Eu ainda ouço, cara. Uma banda que tenho, “Chaos Wars”, eles destruíam. Uma banda de Thrash dos anos 80 que faziam uma música destruidora. Nunca fizeram sucesso, mas eu tenho suas fitas na minha garagem.

W (NM): Você escolheria uma música que o faz perder a cabeça completamente quando você ouve no rádio ou em qualquer lugar?

PK: Sim, Chemical Warfare.

W (NM): Slayer! Então vamos ouvir essa agora no nosso programa, obrigado.
Interview Pepper Keenan

Phil não aceita pouca coisa. Ele para o show no meio se o público não estiver indo à loucura”

W (NM): E o seu café ou bar em New Orleans? Que tipo de música toca lá, no Le Bon Temps Roule?

PK: Le Bon Temps Roule.

W (NM): Sim, francês. Meu francês não é muito bom, desculpe.

PK: É um tipo de francês cajun para “deixe os bons tempos rolarem”.

W (NM): Sim, eu entendo, mas minha pronúncia em francês não é a melhor.

PK: A minha também não. É um bar que eu costumava frequentar quando era criança e uma vez que eu fiz dinheiro, o velho dono queria vender e eu era o único cara que ia lá e que tinha dinheiro o bastante para comprar, então eu comprei e mantive como era. É basicamente um bar de música de New Orleans para os músicos de New Orleans treinarem. Tenho umas bandas de negros, trompistas africanos que tocam lá. Eu não cobro ela entrada, é sempre de graça. Temos jovens músicos que são destruidores. Não é um bar de Heavy Metal de maneira alguma.

W (NM): Bom, isso me parece bom o bastante. Você poderia convidar nossos ouvintes a ir visitar o bar e talvez fazer turismo em New Orleans.

PK: Se você é do Brasil e quer ver a verdadeira New Orleans, venha ao Le Bon Temps Roule, com certeza.

W (NM): Você pode escolher outra música agora para nosso ouvintes? Talvez algo do Down de que você tem muito orgulho.

PK: Hm, vejamos, Down… droga.

W (NM): Nós temos que tocar Down, cara.

PK: “Beautifully Depressed”, essa é bem legal e também “There’s Something On My Side”.

W (NM): Conte-nos um pouco sobre a sua relação com James Hetfield. Todos sabem que você participou do documentário deles, certo?

PK: Sim, nós nos tornamos bons amigos por respeito mútuo, nós realmente amamos o álbum Deliverance, nós nos tornamos amigos frente a isso e ficamos amigos muito próximos por muito tempo; eu viajei o mundo com esse cara, nós nos divertimos muito. Ainda somos próximos, ele é uma pessoa maravilhosa, ele transformou a vida, ele está completamente sóbrio agora, o que é fantástico, ele é uma daquelas pessoas que tinha que estar. No seu trabalho, ele ficou bêbado e zuado em todo lugar do globo e ele estava cansado disso. Então ainda somos próximos, mas não como costumávamos ser, pois eu ainda bebo um pouco. As pessoas de AA acabam deixando velhos amigos para trás, mas ainda nos falamos em aniversários e coisas assim. Nós não estamos curtindo no bar como nos velhos tempos. Ele é uma pessoa maravilhosa e já fez muito por mim, eu agradeço. Ainda somos bons amigos e fanáticos por Hard Rock.

W (NM): O que você espera dos shows no Brasil? Esta é sua primeira vez no Brasil ou você já veio?

PK: É minha primeira vez no Brasil, nunca estive aí. Eu sempre quis ir, mesmo sem estar em uma banda. Se você visse minha casa agora, pareceria que está no Brasil.

W (NM): Ok.

PK: A atitude que eu imagino que exista no Brasil é bastante parecida com aquela de onde cresci em New Orleans. Em termos de Estados Unidos, provavelmente não há nada mais próximo ao Brasil do que New Orleans.

W (NM): Sim, acredito em você cara.

PK: Mal posso esperar para ver se isso é verdade. E fazer ‘jams’ no Brasil e tocar música aí, tendo sido um menino de 15 anos que gostava de Punk Rock e tocava na garagem é realmente algo importante. Então estou bastante animado com isso também. E eu garanto a vocês que vamos esperar muito do público, pois as músicas do Down são muito altas e pesadas e o Phil não aceita pouca coisa. Ele está mais louco do que já foi, vai parar o show no meio se o público não estiver indo à loucura.

W (NM): Então só para terminarmos, cara. Primeiro de tudo, obrigado pelo seu tempo, nós estamos ansiosos para vê-los em novembro. Só deixe uma mensagem para todos os seus fãs brasileiros e convide todos para o SWU.

PK: Todo mundo no Brasil, tratem de ir ao show do Down, você não vai se decepcionar e nós temos muito respeito por todos aí, mal podemos esperar para fazermos ‘jams’ e é bom que vocês respondam à altura, senão vamos embora.

W (NM): Isso foi excelente, foi muito bom falar com você.

PK: Ok, de nada, até logo em São Paulo.

W (NM): Obrigado, caras.

PK: Tchau, tchau.

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