Nós não queremos pregar algo, só queremos inspirar as pessoas a pensar sobre o governo e o que está acontecendo”

Jon Schaffer (JS): Alô.

W (Daniel Dystyler): Alô, gostaria de falar com o Sr. Jon Schaffer, por favor.

JS: É ele.

W (DD): Oi, Jon, aqui é o Daniel, do Wikimetal no Brasil, como você está?

JS: Estou bem, cara, e você?

W (DD): Excelente. Tudo bem se conversarmos um pouco agora?

JS: Sim, sem problemas.

W (DD): Só para situá-lo, eu sou um dos apresentadores do programa do Wikimetal, que é o maior podcast de Heavy Metal e Hard Rock do Brasil. E é uma grande honra recebê-lo no nosso programa, pois tudo o que você tem feito pelo Heavy Metal por mais de 25 anos tem sido realmente muito bom. Então, em nome de todos os headbangers brasileiros, gostaria de agradecê-lo e dar as boas vindas ao Wikimetal.

JS: Bom, obrigado, cara. É bom ver que vocês tem um podcast legal.

W (DD): Jon, vou começar perguntando sobre os velhos tempos. Quais são as principais influências que o Iced Earth teve para criar um som tão diferente e tão bom? E quais foram os principais músicos que o fizeram escolher a guitarra como seu instrumento?

JS: Eu diria que toda a dinâmica que você escuta no Iced Earth veio de tudo desde Pink Floyd até as coisas mais pesadas. Certamente teria citar o Iron Maiden, o Steve Harris em particular, como minha maior influência determinante quando eu era adolescente. Quando comecei a banda, isso me fez o compositor, letrista, o visionário e líder da banda, ele era sempre o cara que eu mais admirava. Ele provavelmente é quem tem a maior influência sobre mim. Mais tarde o Roger Waters, Pink Floyd, ele é um grande compositor, ele é realmente demais. Então, tiveram muitas influências. Mas razão pela qual toco guitarra é sem dúvida o Ace Frehley, pois vi o Kiss quando tinha onze anos e naquela noite decidi o que queria fazer com a minha vida. Não tive uma guitarra até muitos anos depois, quatro ou cinco anos depois, mas eu realmente decidi. Foi quando comecei a conhecer melhor Iron Maiden e decidi a direção que queria que a banda tomasse. Eu ouvia Alice Cooper quando era pequeno e Deep Purple, Black Sabbath, AC/DC, Judas Priest, Blue Öyster Cult, todas aquelas bandas de Rock dos anos 70 e todas as bandas de Heavy Metal Old Wave e New Wave, estas foram as grandes influências. Eu não tocava suas músicas, nunca toquei muito covers, mas escutava muito e fumava muita maconha enquanto escutava… tenho certeza que teve algum tipo de influência sobre mim.

W (DD): Jon, falando um pouco do novo álbum, acho que desde “Night of the Stormrider”, quase todos os lançamentos do Iced Earth tiveram um contexto conceitual, se posso assim dizer, com a saga “Something Wicked” sendo provavelmente a mais evidente dessa abordagem. Conte aos nossos ouvintes um pouco sobre este novo álbum e esse conceito muito legal de “distopia” sendo o oposto de utopia.

JS: Sim, eu realmente tenho dificuldade de escrever sem ter algum tipo de álbum inteiramente conceitual. Eu considero um álbum inteiramente conceitual como uma só história. Muitas vezes estas músicas são baseadas em um tema, como em “The Glorious Burden”, por exemplo, que é sobre o discurso através da história e “Horror Show”, que é um álbum baseado em filmes de horror. E outros álbuns, como “The Dark Saga” ou “Night of the Stormrider” ou “Something Wicked”, são álbuns inteiramente conceituais. Tenho dificuldade quando não tenho um tema para um álbum quando estou no processo de composição, pois quero visualizar o tema quando começo a escrever; em qual direção estamos indo, quais são as ideias para a arte da capa, como podemos fazer a música encaixar em tudo isso, que tudo seja uniforme de alguma maneira. Esse é o jeito que escrevo, sempre foi. A não ser pelo primeiro álbum, que é diferente, pois escrevi aquelas músicas, em sua maioria, quando era um adolescente. Eu não sabia muito bem o que estava fazendo, mas queria documentar devidamente e historicamente, para que se eu fosse fazer isso pelo resto da minha vida, as pessoas pudessem ver como eu comecei. Se pudesse ter lançado a música durante a época em que escrevi, seriam as coisas do “Night of the Stormrider”, pois a maior parte deste álbum já tinha sido escrita naquela época. Eu queria fazer as músicas antigas, para que existisse um documento real de como o crescimento e a composição se desenvolveram. Então é isso que o álbum é, pois isso não tem um tema, é só uma coleção de músicas. Mas sim, eu comecei a mudar o jeito de escrever. Mas quanto ao “Dystopia”, acho que é um jeito criativo de fazer com que as pessoas pensem politicamente, sem ser muito político. É um olhar para alguns problemas reais pelos quais estamos passando, mas velados pela literatura, ficção científica, temas ‘tolkianos’, infelizmente muitas coisas ruins estão acontecendo com a gente. Eu não queria que parecesse que estamos pregando alguma coisa ou algo do tipo, só queremos inspirar as pessoas a começar a pensar sobre o que nosso governo faz e o que está acontecendo, entende?

Você pode pegar qualquer momento na história humana e aplicar ao universo ‘Something Wicked’ e terá histórias fantásticas”

W (DD): Sim, é um ótimo jeito, em minha opinião, de iluminar alguns assuntos e sensibilizar as pessoas. Eu me lembro quando era criança e estava lendo “V de vingança” pela primeira vez; eu fiquei maravilhado. Então consigo me relacionar com os jovens que escutam Iced Earth e provavelmente sentirão o mesmo ouvindo este novo álbum.

JS: Sim, este é o objetivo. O “Sons of liberty” é um chute na cara bastante direto, a mensagem está lá, está tudo muito relacionado com os problemas atuais. Isso – Dystopia – é só um jeito mais sutil de fazer a mesma coisa, pois nunca quis que o Iced Earth fosse uma banda política. Não estamos nem falando de política. Se trata de liberdade humana, de todos os humanos, não só americanos, não só brasileiros, todos. E a ideia de… acredito que os seres humanos nascem, sabendo ou não, com uma chama dentro deles; uma chama que eles merecem e que devem cultivar e nossos governos estão perdendo o controle a todo tempo, certamente aqui no Oeste. Há sérios problemas acontecendo; desde que eu comecei a estudar História, desde que comecei a ler, tenho algumas preocupações muito sérias, pois as chamas estão se apagando e eu só acho que as pessoas de bem devem se reconectar com a sua humanidade. Devem realmente se envolver e começar a entender e se educar sobre a direção que estamos seguindo, o porque de estarmos seguindo nesta direção e como podemos voltar, pois não estamos tomando um bom caminho.

W (DD): Já que você mencionou isso e falou sobre esta abordagem conceitual que o Iced Earth tem, a saga “Something Wicked” é uma história incrível e não acho que os fãs brasileiros já tiveram a oportunidade de ouvi-lo dizer o que ela representa. Eu sei que há muitas coisas acontecendo na história e é muito difícil de resumir, mas você se importaria de falar um pouco sobre o enredo em geral e sobre os 10,000 “strongs”?

JS: Sim, isso é muito difícil de explicar, pois é uma história muito complexa. Sabe que a coisa mais bizarra é que escrevi esta história em 1997 e ela me atingiu como um raio, toda a ideia. É realmente estranho, não consigo nem explicar… ela me veio e estava tudo lá, foi uma coisa muito estranha. Eu tenho um amigo chamado Jamal, que mora na Bósnia, ele fez uma entrevista comigo e disse “Cara, toda essa coisa do ‘Something Wicked’ pode ser real” e eu disse “Ah, fala sério, cara, é só uma história”. E eu não estou dizendo que é real, mas quanto mais eu entendia o que estava acontecendo no meu país e ao redor do mundo e como as coisas são manipuladas às sombras e o sistema financeiro e tudo o mais, pensei “Caramba, talvez meu subconsciente entendeu coisas muito antes do meu consciente”. Tem muito envolvido, não posso entrar muito em detalhes agora, pois um dia haverá um livro, espero que uma revista em quadrinhos…

W (DD): Um filme.

JS: Espero que um filme. O universo “Something Wicked” é… a sua história é tão grande quanto o universo do Star Trek ou do Star Wars, você pode pegar qualquer momento na história humana e aplicar ao universo “Something Wicked” e terá histórias fantásticas. Isso que é legal, então é muito profundo para explicar tudo, levaria horas. Precisaria de outro nível de explicação, não poderíamos fazer isso e nem teríamos tempo. Mas que eu recomendo às pessoas é ler as letras e conhecer a arte dos dois últimos álbuns, ouvir as músicas e os efeitos sonoros. Você é levado e pode imaginar o que quiser, cada um pode interpretar a história do seu jeito.

W (DD): Sim, eu sei, é muito difícil, pois é uma história tão incrível e eu realmente espero que ela vire um filme ou um quadrinho ou algo do tipo no futuro. Jon, nós temos uma pergunta clássica que perguntamos a todos os entrevistados. Se imagine ouvindo à músicas de Heavy Metal no rádio ou no seu iPod no shuffle e uma música começa a tocar; uma música que o faz perder o controle onde quer que esteja, qual música seria? Podemos ouví-la no programa agora.

JS: Ah, cara…eu diria provavelmente uma nova música velha de uma das minhas bandas favoritas, Volbeat, e esta música se chama “Pool of booze, booze, booza”. Esta música é muito legal, está no primeiro álbum deles, eu amo essa banda. Esta é a única banda que ouço ultimamente que realmente… você ouve coisas boas, mas esses caras têm algo especial, eles fazem uma música positiva e divertida e apela a todos. Tenho certeza que tem pessoas que não gostam, como em tudo. Minha filha de seis anos ama Volbeat, eu amo Volbeat, minha mãe também. Eles têm algo que apela a múltiplas gerações. Eles são incríveis e é um som muito divertido, é a primeira coisa animadora que ouço em anos.

O Stu é matador. Ele encaixa na banda perfeitamente”

W (DD): Sobre o Stu Block, ele está cantando muito bem no último álbum. Como foi o processo de criar algumas músicas com ele e como foram as performances ao vivo dele cantando o material do Tim e do Matt?

JS: Bom, primeiro de tudo, o material não é do Tim e do Matt…

W (DD): Sim, desculpe, foi interpretado por eles.

JS: Sim, eles foram instruídos a cantar, como sempre, então é engraçado quando as pessoas falam isso. Está sendo realmente ótimo, ele entrou e contribuiu muito para a sua parte, o que é raro, na verdade, já que no passado eu sempre fiz as vozes, até 90% das melodias, as letras, e ele me ajudou muito. Você ter alguém que entra e se envolve naquelas partes… e não só se envolve, mas concentra ideias. Eu não vou fazer a parte de alguém que não está boa para a banda nem para o quadro geral. O Stu, ele… quando se trata de melodias que ficam na cabeça, ele é ótimo. Então isso acrescenta e tira um pouco de peso das minhas costas. É divertido trabalhar com ele e ele contribuiu as suas partes e com este processo sempre vem muita diversão. Temos uma química muito boa. Quanto às performances ao vivo, ele é matador. Ele encaixa na banda perfeitamente, não há dúvida sobre isso. A química da banda é a melhor que já tivemos e os fãs sentem isso. Você tem que ver alguns vídeos no YouTube, nós estamos pegando fogo, cara e as pessoas reagem a isso. Sempre haverá gente que não consegue se livrar do passado e tudo bem, há diversos álbuns que podem ouvir. Mas o Iced Earth está seguindo em frente e estamos indo a lugares, não só ao redor do mundo, que nunca fomos antes, levando esta banda mais longe do que ela já foi antes, eu garanto. Algumas pessoas não conseguem se livrar do passado, por causa de quaisquer ilusões em que estão presas e tudo bem. Só estou dizendo que a banda está seguindo em frente e está funcionando, então…

W (DD): Vocês têm uma legião de fãs bastante jovens e adolescentes, além dos fãs de longa data, estes jovens amam o som e a atitude da sua banda. O que você diria a um jovem que está pensando em começar uma banda ou seguir uma carreira na música?

JS: Eu diria que tem que ser muito duro na queda para ter que lidar com muita coisa. É bom você ser focado e é bom ser determinado e ficar de olho nas suas costas, é isso que você tem que fazer. É um meio de vida muito duro, mas é bastante realizador, se você conseguir fazer acontecer e se manter assim. Contra todas as possibilidades, mas… não é glamoroso, tem muito mais coisa envolvida nesse negócio. Quando eu era garoto era todo “Vou começar uma banda” e toda aquela merda, como todo jovem, sem perceber a realidade da situação. Fui perceber onde estava me metendo seis meses depois de assinar o meu primeiro contrato de disco. Isso tudo realmente vai contra você. É difícil… tire o glamour da sua cabeça se vai começar uma banda de Heavy Metal, pois não tem nada glamoroso nisso…. se você atingir o nível do Metallica, se você conseguir, se alguém conseguir um dia. É um trabalho duro, cara. Desculpe, acabei de receber uma mensagem de texto.

W (DD): Não, isso é um conselho muito bom. Jon, você pode escolher uma música do Iced Earth que você tem orgulho de ter escrito, para podermos ouví-la no nosso programa agora?

JS: Cara, eu tenho orgulho de todas elas, senão não as teria escrito. Você pode escolher o que você quiser, você quer algo novo?

W (DD): Sim, isso seria ótimo.

JS: “Dystopia”. É a minha favorita. Eu não sei, isso muda todos os dias, eu tenho orgulho de todo o álbum, mas eu realmente curto “Dystopia”. Ela tem um tom bravo, funciona como uma introdução, como o início de um novo capítulo.

O Brasil é um dos lugares e povos mais incríveis no mundo”

W (DD): Nós brasileiros – e provavelmente todo mundo – nós crescemos com uma paixão muito forte pelo Ronnie James Dio e Black Sabbath e sabemos que vocês já fizeram alguns cover do Sabbath. Tem alguma chance de presenciarmos isso ao vivo nos próximos shows no Brasil?

JS: Hm… na verdade eu duvido, pois são coisas do Iced Earth que as pessoas querem ouvir; Então nós não normalmente – na verdade, raramente – fazemos covers, já fizemos alguns. Acredite, também amo o Ronnie, ele era um grande mentor e provavelmente a pessoa mais sincera e incrível que já conheci. Ele realmente era a melhor pessoa que eu conheci em minha vida, pois não se conhece muitas pessoas reais quando se está com Ronnie, pois Ronnie era uma pessoa real, uma grande pessoa… então, não nos vejo tocando covers quando formos ao Brasil, pois os fãs querem pontos tão diferentes do repertório do Iced Earth, não podemos perder tempo com covers ou solos de guitarra ou bateria e tudo mais, quando poderíamos tocar as músicas originais do Iced Earth.

W (DD): E falando nisso, você conhece alguma banda brasileira de Heavy Metal? Qual a sua relação com o país?

JS: Obviamente Sepultura e me lembro do antigo Sepultura. Eu não ouvi nenhuma banda brasileira nova, não sei se há nenhuma banda de Metal melódico crescendo que valha a pena ouvir, mas gostaria de ouvir alguma, então….

W (DD): Sim, Shadowside é uma banda nova… bom, não é exatamente nova, eles têm dez anos de estrada. Eles estão fazendo um bom sucesso nos Estados Unidos e na Europa, chama-se Shadowside.

JS: Shadowside? Nunca ouvi.

W (DD): O vocal é feminino.

JS: Ok. É melódico ou Death?

W (DD): Não, é melódico, mas não é clássico como a Tarja Turunen, é algo entre Nightwish e Arch Enemy.

JS: Ok, eu me interesso em ouvir, com certeza.

W (DD): Então, estamos quase acabando. Você pode deixar uma mensagem para todos os fãs do Wikimetal que estão ouvindo e convidá-los a ir nos shows do Iced Earth no Brasil em março?

JS: Claro. Nós realmente somos gratos ao apoio que recebemos do Brasil, é um dos lugares e povos mais incríveis no mundo e estamos muito animados para voltar e ver todos de novo. Faremos um grande show, com muito poder, muita energia e possivelmente o show mais intenso do Iced Earth já visto, então podem esperar.

W (DD): Mais uma vez, Jon, muito obrigado pelo seu tempo e espero vê-lo nos bastidores no show em São Paulo no dia 25 de março.

JS: Seria ótimo, cara.

W (DD): Excelente, muito obrigado. Tchau, cara.

JS: Tchau.

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