Dia 8 de março é uma data importante anos antes da ONU (Organização das Nações Unidas) declarar ele o Dia Internacional da Mulher em 1975. No início do século 20, lutas feministas – movimento político, social, ideológico e filosófico que busca a igualdade dos gêneros – ocupavam ruas pelos Estados Unidos e Europa exigindo melhorias nas condições de vida e de trabalho das mulheres, tendo como alicerce o direito ao voto.

Após diversos protestos e manifestações serem reprimidas de forma brutal durante anos e por todo o mundo, foi instituído o dia que honramos a luta e a força das mulheres que vieram antes de nós. Hoje, agradecemos às nossas ancestrais por tudo o que conquistaram, mas a luta não acabou.

O sexismo e machismo não é exclusivo do mundo da música e muito menos do rock e do heavy metal, mas a discrepância entre o número de homens e de mulheres nesse meio é impossível de ignorar. O Wikimetal foi fundado por três homens, Nando Machado, Daniel Dystyler e Rafael Masini, e, atualmente, a equipe é, em sua maioria, formada por mulheres – e está assim há anos. Porém, 73% dos nossos leitores são homens.

Mulheres incríveis estão liderando bandas, compondo clássicos, apresentando shows pesados e conquistando seu espaço, mas a representatividade ainda nem chega perto da do homem. Muitos vão dizer “mulher não gosta de música pesada”, pois estamos aqui para dizer o extremo oposto. Muitas de nós gostamos de música pesada e, mais que isso, escolhemos a música pesada como nossa profissão.

Em uma matéria publicada recentemente, a editora da Metal Hammer, Eleanor Goodman, conversou com diversas mulheres da indústria da música como Gloria Cavalera, Sharon Osbourne e Wendy Dio. Na matéria, Goodman conta como elas foram diminuídas aos olhos dos homens e tiveram que lutar com unhas e dentes pelo mínimo, como o direito de trabalhar sem ser questionada pelo simples fato de ser uma mulher, ou o direito de ir a um show e não sofrer qualquer tipo de abuso, seja verbal ou físico.

Durante a entrevista de Goodman com Gloria Cavalera, a empresária e esposa de Max Cavalera, disse que “mulheres aguentam muita merda” e é verdade. Quantas vezes homens da área – e, algumas vezes, mulheres, porque sim, o machismo também pode vir de nós – ignoraram e-mails e mensagens minhas até um homem da redação tentar contato com eles? Dos males o menor, certo? Pois ir a um show de rock/metal e ser, constantemente, incomodada por homens com questionamentos como “você gosta mesmo de metal?”, “o que você está fazendo aqui?”, enquanto você está se divertindo é desgastante.

Quando vou cobrir shows, é comum ouvir “você está trabalhando? o que você faz, é groupie?”, e logo ter que aguentar um comentário sobre a minha roupa. Mas nem sempre são comentários machistas e misóginos que ouvimos. Muitas vezes, quando estamos em um show, sentimos mãos estranhas em lugares que não deviam estar, sentimos olhares que nos penetram de forma nojenta, repugnante e degradante, sentimos nossos braços serem agarrados e apertados com força por estranhos querendo nossa atenção. As situações são diversas e infinitas.

Mulheres precisam lutar o dobro dos homens para conquistar metade do que eles têm, mas, como Goodman aponta na matéria, todas nós temos algo em comum, nossa determinação. Shirley Manson, que ganhou fama nos anos 90 com o Garbage, conversou com Goodman e confessou: “Todo o ‘jogo do rock’ foi projetado e mantido pelo patriarcado. Então, como as regras são escritas por homens, torna muito difícil a infiltração de mulheres. Ainda é muito difícil para as mulheres serem tratadas como pensadoras e criadoras iguais.”

Historicamente, o rock e o heavy metal são criados por pessoas que sentem ser forasteiros, estranhos em uma sociedade que não os representa. O rock/metal é constituído pela força da minoria, mas quando se trata de sexo, a música é fraca. O peso que carrega é frágil quando uma mulher enfrenta as dificuldades e sai vitoriosa.

As mulheres ainda aqui presentes estão gritando, compondo, escrevendo, tocando e estamos lutando pela igualdade, que é nossa por direito. E, assim como nossas ancestrais, estamos lutando por nós e pelas mulheres que virão depois.

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