Texto por Eliberto Batista

Existem álbuns e álbuns. Escrevo isso porque há materiais em toda essa vastidão do mundo do metal que redesenharam o futuro; há álbuns que simplesmente mudaram tudo. E é aqui que nasce a ideia desse texto: citar alguns álbuns que deixaram ainda mais vasto e completo esse meio musical. É claro que é impossível citar todos – e muitos provavelmente irão comentar que esqueci esse ou aquele – até porque cada trabalho, single e música, de certa forma, influenciou toda uma geração. É a música extravasando os próprios limites que ela mesma criou e “fazendo a cabeça” de uma pessoa, ou um grupo e porque não do globo. A intenção aqui é trazer alguns dos principais exemplos que fizeram tal façanha. Dito isso, vamos lá!

É impossível começar essa lista não mencionando os donos da coisa toda; aqueles que criaram o lado mais escuro da música: Black Sabbath. A contribuição de Ozzy, Tony, Bill e Geezer é incontável e tem sido recontada há muito tempo – mas é imprescindível mencionar os caras. Um fato interessante, que muitas vezes passa despercebido, é que, musicalmente falando, Tony Iommi inventou o power chord (aquela nota mais solta largamente utilizada depois) devido à falta dos dedos. Isso, claro, sem mencionar o famoso trítono, a nota do diabo.

Acorde inventado e nota associada ao capiroto… pronto! Contribuição feita. O primeiro álbum (Black Sabbath), com todo o cenário obscuro, os temas macabros, os acordes bem trabalhados, iriam mudar toda a história da música – para sempre. Não é à toa que muitos consideram o Sabbath como os “pais do heavy metal”.

Essa alcunha acaba deixando de lado bandas como Led Zeppelin e Deep Purple.

(Eu mesmo sou partidário de que quem inventou o metal mesmo foi o Black Sabbath devido ao ar obscuro e misterioso; quase que diabólico – com todo respeito às “mensagens subliminares” de Stairway to Heaven rsrs).

Por fim, o segundo álbum do Black, mesmo que abandonando a temática obscura, aborda assuntos ligados à guerra, violência, crueldade – até mesmo devido ao contexto histórico da época. E me fala aí, quantas bandas você já ouviu que falam, justamente, de guerra, violência e crueldade?

Mais ou menos na época do Black Sabbath, surge outra banda que também iria redefinir os rumos da música pesada: o Motorhead de Ian Lemmy Kilmister.

Lemmy contribuiu musicalmente, claro – conforme irei falar ainda -, mas também ajudou a formatar a ideia do rockeiro que tanto permeia na mente dos indivíduos. A tríade: sexo, drogas e rock n’ roll nunca fez tanto sentido quanto na vida do criador do Motorhead.

Mas vamos falar de música. O álbum em questão é Overkill. A bateria usada nesse pesado (e belíssimo) trabalho continha um elemento que iria influenciar toda uma geração. Estou falando do famoso pedal duplo usado por Phil Taylor. A sonoridade da bateria é, de fato, diferente de tudo o que vinha sendo feito até então e deu um ar de mais peso para uma banda que já ensaiava os primeiros passos nesse sentido.

A contribuição mais significante do pedal duplo foi criar, diretamente, o thrash metal. Sim! Os grupos da Bay Area foram a loucura com a bateria de Taylor. O próprio Lars Ulrich, anos depois, viria afirmar que o pedal duplo mudou sua vida e, claro, ajudou a criar o Metallica.

(Um adendo: algumas pessoas, e nesse grupo eu me encontro, apontam que “Sinner”, do Judas Priest, devido aquela famosa levada de bateria, também influenciou na hora da criação do thrash.)

E por falar em Metallica, como não citar a trupe de James Hetfield com o seu pesadíssimo Master of Puppets?

A contribuição do álbum é incontável. Foi a pedra mestre no thrash metal – apesar que eu, nesse sentido, considero mais o Kill’em All. Os temas, as linhas de baixo, os solos marcantes; tudo isso ajudou a construir um cenário novo, não só para os próprios integrantes da banda, como também para todos da Bay Area e, claro, do mundo. A própria Alemanha se encontra nessa parcela.

Mas aqui vamos focar em uma banda especial que se sentiu abalada com o Master of Puppets: o Pantera.

Sim, para quem sabe a história, o Pantera do início… bem… não era exatamente O Pantera. Uma mistura mal fundada de glam metal e sabe Deus o que mais. No entanto, quando o Master foi lançado, os integrantes do Pantera viram que deveriam recriar seu som e, para encurtar a história, lançaram ao mundo o incrível Cowboys from Hell.

Cowboys from Hell, valendo-se de um clichê, foi um divisor de águas na carreira do Pantera – e, óbvio, para o mundo todo. Mas o Pantera não ficaria só nos influenciados. Não! Eles também lançaram sua contribuição ao mundo por meio do Vulgar Display of Power.

A influência desse álbum foi a criação, talvez não proposital, do groove metal. O vocal de Phil Anselmo é evidente e mudaria muito som por aí nos anos seguintes.

Ah! Um adendo: há histórias que relatam que James Hetfield havia mostrado algumas linhas de guitarra e uma demo do que seria o …And Justice for All para a turma do Pantera. Isso antes do lançamento do álbum. Muito provavelmente, essa musicalidade, ao lado de Master of Puppets, influenciou o Pantera a repensar seu estilo musical.

E já que falamos do Metallica, por que não citar o Megadeth? Pois bem, uma das maiores influências da banda do senhor Mustaine, para mim, é o Rust in Peace

O Rust in Peace – um trabalho impecável, diga-se de passagem – ajudou a criar uma vertente mais rápida e furiosa daquilo que já era rápido e furioso: o speed thrash metal. É isso. Peso e velocidade nunca foram tão precisos na definição de um álbum como nesse caso.

Esse álbum iria levar o Megadeth a outro nível e iria lançar as bases para que as bandas ficassem mais rápidas; não era, então, somente o thrash metal. Era algo tão bem trabalhado e, ao mesmo tempo, tão veloz, que marcaria um cenário inteiro.

(Sim, eu pago pau para esse álbum. Há álbuns que eu considero perfeitos do início ao fim. O Rust in Peace é um belo exemplo. O Painkiller do Judas Priest é outro).

E já que citamos as bandas thrash, vamos fechar essa parte com o que seria o extremo: Slayer. Mas mencionar o Slayer é incompleto se não falarmos de uma outra banda que influenciou o grupo de Tom Araya: o Venom

Em atividade até hoje, o Venom, com seu debut Welcome to Hell, criou outro caminho para o metal; um caminho mais extremista e muito obscuro. Seria válido afirmar que esse foi o início do black metal.

A temática satânica não era novidade – ora, o próprio Sabbath já havia feito isso – , mas a forma como o trio fez foi seu diferencial. E foi tão gritante que iria influenciar o incipiente Slayer da época.

Slayer é uma banda de extremo. E isso se deve, diretamente, ao som do Venom.

Bom, o Slayer recriou o som do Venom, mas, claro, lançou sua própria identidade. Esse lançamento – e muitos irão discordar da minha humilde opinião – deu-se com o Hell Awaits. 

Escrevo sobre o Hell porque a sonoridade, a temática, a imagem ali expressa, extravasou a América e chegaria em um outro lugar até então remoto – a Noruega.

O death e o black metal norueguês (e todas suas incontáveis vertentes) importaram o som do Venom, o Hell Awaits do Slayer, e o corpse paint do Kiss e, bem… deu naquilo. 

Mayhem e companhia trabalharam em cima do extremo do extremo musical e ajudaram a criar uma identidade própria nesse quesito.

Passeamos muito pelo heavy, thrash, speed, black… Não pode ficar de fora, portanto, a banda que ajudaria a contar toda aquela temática do power metal. De quem estou falando? Rainbow! O Rainbow que daria ao mundo sua obra-prima: Rising.

Em tempo: os dois primeiros álbuns ajudaram a rabiscar o que seria conhecido como power metal. Não se sabe se os caras do Rainbow foram os primeiros a falarem de temas épicos (muito provavelmente não), mas com toda certeza lançaram as bases – bem-feitas, diga-se de passagem.

Rising é, sem dúvida, o ápice. “Stargazer” marca bem isso; quem gosta de Rainbow, por excelência, gosta da música “Stargazer”. Os solos virtuosos (presentes em todas as canções) impuseram ao mundo do metal um outro cenário.

Para fecharmos esse texto, tenho que falar do Sepultura. Preciso porque, a menos do grande legado musical, o Sepultura elevou o orgulho nacional diante do mundo por meio do seu metal. Em Global Metal, documentário de Sam Dumm, diz-se que o Brasil, hoje, é um país sem tradição no heavy metal mas que, no entanto, deu ao mundo uma das maiores bandas desse estilo, o Sepultura. E isso ficou bem claro com Roots (bom, eu sou defensor do Beneath the Remains… mas Roots é extremamente bem trabalhado e criativo). É isso.

Escrever sobre álbuns e suas influências é tarefa complexa e abstrata, mas acima foi rebuscado trabalhos importantes para eventos igualmente importantes. Como dito, há álbuns e álbuns.

Stay heavy!!

*Este texto foi elaborado por um Wikimate e não necessariamente representa as opiniões dos autores do site.

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